Retratos

Por Camila Cetrone, redação Marie Claire — São Paulo


A primeira-ministra Golda Meir, única mulher a governar Estado de Israel — Foto: Reprodução/Getty Images
A primeira-ministra Golda Meir, única mulher a governar Estado de Israel — Foto: Reprodução/Getty Images

Estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (31) a cinebiografia Golda - A Mulher de uma Nação, que narra a história da primeira-ministra israelense Golda Meir, a única mulher que governou o Estado de Israel ao longo de sua história. Com foco no recorte de tempo em que ocorreu a Guerra do Yom Kippur, que completa 50 anos em 2023, o longa deixa de lado os campos de batalha para focar na imagem de Meir.

O conflito entre israelenses e árabes provenientes do Egito e da Síria aconteceu no feriado judaico Dia do Perdão. Antes de Elizabeth II, aliada britânica, se tornar rainha, Meir comandava Israel e se tornou a única mulher do mundo moderno a ser chefe de Estado durante um conflito. Fez isso aos 75 anos ao passo em que precisava lidar com problemas de saúde. Viciada em cigarros, ela desenvolveu um câncer agressivo que a matou em 1978, aos 80 anos.

No longa dirigido pelo israelense radicado nos Estados Unidos Guy Nattiv, que é judeu, Meir é vivida pela atriz britânica Helen Mirren. Lembrada como uma mulher de pulso firme e postura determinada, a releitura na tela busca trazer uma abordagem mais intimista e pessoal. Ao mesmo tempo, ameniza o tom conflitante que a imagem de Meir carrega nos dias de hoje devido à sua ligação ao sionismo.

Quem foi Golda Meir

Nascida em 1989 em Kiev, antiga União Soviética e atual capital da Ucrânia, Meir migrou com a família, de origem judaica, para os Estados Unidos em 1906, onde começou a estudar e se interessar por política. Em 1921, se mudou com o marido para a Palestina, onde passou a fazer parte do Kibutz Merchavia, uma comuna israelita que existia no território na época.

Sua atuação política começou nessa comunidade, e depois a fez alcançar outros espaços. Na década de 1930, passou a fazer parte da Organização Geral dos Trabalhadores em Israel. Durante a Segunda Guerra Mundial, chefiou o departamento político da Agência Judaica, no Reino Unido, e da Organização Sionista Mundial, que representava o movimento nacionalista que defendia a criação do Estado de Israel na Palestina.

Em 1948, Meir foi uma das pessoas – sendo uma de duas mulheres – que assinaram a fundação do Estado de Israel. Esse engajamento a colocou como uma das figuras mais importantes da história do país. “Ela, assim como Theodor Herzl e David Ben-Gurion, foram os principais responsáveis pela constituição do Estado de Israel e pelo estabelecimento das bases do Estado israelense moderno”, explica Silvia Ferabolli, coordenadora do Núcleo de Pesquisa sobre as Relações Internacionais do Mundo Árabe (NUPRIMA) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Depois disso, foi embaixadora na União Soviética e, entre 1949 e 1956, foi ministra do Trabalho e Segurança Social e dos Negócios Estrangeiros, posteriormente. Se tornou primeira-ministra em 1969, aos 70 anos, após a morte de seu antecessor, Levi Eshkol.

Após a derrota de Israel na guerra de Yom Kippur, Golda Meir renunciou ao cargo em 1974, tanto por motivos de saúde como pelas falhas de seu serviço de inteligência. "Meir serviu como bode expiatório para que a elite política israelense pudesse explicar para seu povo como foi possível eles terem perdido a Guerra de 1973 para uma coalizão de países árabes", diz Ferabolli.

Revisionismo histórico

Helen Mirren caracterizada como Golda Meir — Foto: Reprodução/Divulgação
Helen Mirren caracterizada como Golda Meir — Foto: Reprodução/Divulgação

Isabella Goulart, doutora e mestre em Meios e Processos Audiovisuais pela Universidade de São Paulo (USP) e coordenadora na Escola de Comunicação Social FIAM-FAAM, afirma que Golda - A Mulher de uma Nação escolhe retratar a imagem de Meir como a de uma mulher em uma posição ativa e determinante para tomada de decisões importantes. Ela avalia que esses papéis são geralmente retratados pela perspectiva de homens poderosos ao longo da história.

Goulart participou de uma exibição seguidas de debate no Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo, em 22 de agosto, ao lado da advogada Evane Beiguelman Kramer e da diretora, roteirista e atriz Luh Maza. A conversa teve mediação de Maria Rita Alonso, diretora de Marie Claire Brasil.

No entanto, Golda Meir tem laços estreitos com o movimento sionista, o que a faz ser vista como uma figura controversa. Isso porque, segundo Ferabolli, o sionismo é responsável pela promoção de uma perseguição que ocorre até os dias de hoje contra a população palestina.

“A criação do Estado de Israel foi (e continua sendo) um processo extremamente violento, que incluiu, e inclui, limpeza étnica, deslocamentos forçados maciços, e o genocídio do povo palestino”, define.

Como exemplo ela cita a propagação de pensamentos que definem a “não existência” de um povo palestino. Meir era defensora da tese de que essa definição foi inventada. “É uma das frases mais clássicas da negação da elite política sionista do direito dos palestinos de existirem. Foi usada como um dos argumentos para a declaração, ratificada pela ONU [na Resolução 3379 da Assembleia Geral da ONU, em 1975], de que o sionismo é igual a racismo”, continua a especialista.

"Golda Meir foi uma dirigente sionista muito enfática e dura, responsável por muitas atrocidades contra os palestinos", afirma a historiadora brasileira Arlene Clemesha, professora de História Árabe do Departamento de Letras Orientais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.

Entre esses atos, ela lista a expulsão de 800 mil palestinos de seus territórios promovida pelo sionismo e ao menos 30 massacres documentados, por exemplo. "[O sionismo também] colocou palestinos em guetos em 1948, impediu o retorno deles até hoje, expropriou casas e tomou posses, além de muitos que se tornaram deslocados internos."

Clemesha diz ainda que as narrativas do conflito entre Israel e Palestina são muito disputadas. No contexto do filme, imagina que será abordada uma "visão emocional" para gerar identificação por parte do público.

"Qualquer tipo de cinema, ficcional ou não, sempre faz escolhas sobre o que vai representar [na tela]”, diz Goulart. “Sempre tenho o pé atrás com essa ideia da fidelidade na construção narrativa ou psicológica de uma figura real. É uma leitura de roteirista que está pensando a quem esse filme se destina. Há ali um esforço para se ter uma representação fiel da Golda pela ideia que a comunidade judaica tem dela.”

"Ela será sempre vista pelos sionistas como uma heroína e uma das mais importantes porta-vozes do movimento, enquanto será sempre lembrada pelos palestinos e pelos defensores de direitos humanos em todo o mundo como uma mulher cruel, violenta e racista”, conclui Ferabolli.

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