Retratos

Por Mariana Gonzalez, em colaboração para Marie Claire

“Enamorada com o Brasil.” É assim que a filósofa, artista plástica e professora Márcia Tiburi define seus sentimentos ao retornar ao país depois de 4 anos, 6 meses e 12 dias anos vivendo entre os Estados Unidos e a Europa.

Não por escolha, mas por medo que se concretizasse as centenas de ameaças de morte que recebia (e ainda recebe, mas em menor intensidade) de, segundo ela, bolsonaristas. Passou esse período exilada – palavra que demorou a entender que se aplicava a ela e só “fez as pazes” com o termo depois de ser classificada assim para receber a proteção de órgãos internacionais.

Agora, com o fim do governo Bolsonaro, Marcia, assim como o jornalista, professor e ex-deputado federal Jean Wyllys, seu amigo pessoal, fez um pedido formal de proteção aos ministérios da Justiça, dos Direitos Humanos e das Mulheres. Também recebeu apoio da Comissão Nacional dos Direitos Humanos e do Partido dos Trabalhadores, legenda pela qual disputou o governo do estado do Rio de Janeiro em 2018.

“Nós estávamos desamparados pela lei, correndo risco de sofrer aquilo que era prometido – morte, espancamento, sei lá o quê. Se eu ficasse no Brasil, acho que teria acontecido uma catástrofe”, fala.

“Agora volto porque temos um governo que, embora cheio de problemas, é democrático. E eu não corro o risco de ser processada e nem perseguida pelo governo atual. E também porque quero retomar a minha vida, dar aulas de Filosofia, fazer minha literatura.”

Um dos primeiros compromissos na agenda de Márcia Tiburi no Brasil, aliás, é o lançamento de novo romance, previsto para este mês de julho – seu 25º livro, entre ficções e obras que analisam a realidade política e socioeconômica brasileira, como Feminismo em comum: para todas, todes e todos (ed. Rosa dos Tempos, 2018) e Como Conversar com Um Fascista – Reflexões sobre o cotidiano autoritário brasileiro (ed. Record, 2015).

Política partidária, em contrapartida, está totalmente fora dos planos: “Não pretendo mesmo fazer isso. Não me arrependo, mas quero voltar para o Brasil para ajudar na esfera pública como cidadã e intelectual”.

“Estou numa fase muito enamorada com o Brasil, sabe? Pensando nesse país possível, que precisamos construir independentemente de governos, de disputas políticas. O Brasil está abalado, estamos vivendo um profundo sofrimento psíquico, que tem a ver com a destruição da democracia. E espero poder ser uma pessoa útil nessa reconstrução.”

Márcia Tiburi diz não ter sido convidada e sequer ter conversado a respeito de ocupar qualquer posto no governo Lula. “Evidentemente, se precisarem de mim, colaborarei com muito prazer. Mas não faço parte dos jogos de poder e não disputaria um cargo simplesmente pelo cargo. Para mim, é importante que haja sentido no trabalho. Então prefiro viver minha vida de professorinha de filosofia”, fala.

A Marie Claire, na semana de sua volta, ela descreve os anos fora do Brasil – durante os quais perdeu o pai, sem poder se despedir, e sofreu o fim de um casamento que não resistiu à distância – e fala das expectativas para a volta à terra natal: “Quero cuidar da minha mãe, dos meus amigos, do meu trabalho, voltar a dar aulas. Estou precisando me sentir em casa, voltar para o meu mundo. Esse é um direito meu”.

Complexo de vira-lata

No final de 2018, quando deixou o Brasil rumo a Pittsburgh, nos Estados Unidos, Tiburi imaginou que voltaria logo. Tanto que, dias antes, fez uma visita aos pais, em Vacaria, cidade em que nasceu no Rio Grande do Sul, mas não se despediu deles. “Como eu ia falar ‘tchau pai, tchau mãe, estou indo me exilar’? Essa palavra nem existia no nosso vocabulário”, lembra.

Embora protegida, longe das duras ameaças que recebia pelas redes sociais e também nas ruas – em 2019, em entrevista ao Valor Econômico, contou que foi colocada em um grupo de WhatsApp “com dez caras sinistros que tinha uma foto do Bolsonaro com uma faca” e que desconhecidos se aproximaram na rua para ameaçá-la –, viveu anos difíceis. Primeiro porque a vitória do bolsonarismo intensificou as ameaças que recebia, mesmo estando fora do país; segundo porque, em termos de conforto, a vida fora do país era bem diferente da que levava antes de se exilar.

“As pessoas têm uma fantasia de que, quando você sai do Brasil, vai para o melhor dos mundos. Mas isso não é verdade, é efeito do nosso complexo de vira-lata. Óbvio que todos nós gostamos de viajar, mas essa não foi uma viagem a lazer”, afirma.

Entre 2019 e 2023, a filósofa viveu com o salário de universidades internacionais, como a Universidade de Paris. Recursos que, segundo ela, não davam para manter o padrão de vida que tinha no Brasil.

+ Joice Hasselmann depois do fundo do poço: ‘Me sentia presa em um corpo que não era meu’

Por mais de um ano, viveu em um apartamento de 27 metros quadrados em Paris emprestado por uma amiga, porque o salário de professora de Filosofia não era suficiente para bancar seu aluguel e sustentar a filha Maria Luiza, de 26 anos – a jovem é deficiente auditiva e passou parte do período de exílio da mãe escondida no Brasil e na Argentina, até que em 2020 foi para a França ficar perto da mãe. “Ela está cuidando da vida dela, está construindo uma carreira, mas tem uma necessidade especial e eu preciso ampará-la, eu protegê-la e sustentá-la.”

Tiburi também morou em alojamentos acadêmicos, na casa de instituições que a protegeram e até no sofá de amigas que a hospedaram. “Uma vida muito simples. Venho da classe trabalhadora e fui uma criança e uma adolescente pobre, mas ascendi socialmente e, nos últimos anos, minha vida no Brasil, em termos de conforto, era muito melhor”, diz.

“Nos alojamentos de estudantes em que morei, por exemplo, senti muita falta de ter um fogão, desses que temos aqui, com duas ou quatro bocas, porque adoro cozinhar. Ok, pode parecer besteira. E não estou te contando isso para me fazer de vítima, mas para dizer que fui viver uma vida que eu não escolhi.”

As palavras “exílio” e “exilada” demoraram um pouco para entrar no vocabulário da professora – ela só percebeu que esses eram os termos mais adequados à sua situação porque foi classificada desta forma pelas instituições que a protegeram.

“Eu estava recebendo apoios e ajudas e proteções, como uma pessoa estrangeira, vivendo uma perseguição política, não tinha outro nome. O lugar onde eu fui inscrita, nessa condição estrangeira, foi o lugar da pessoa exilada. Então, eu fui tendo que me reconciliar com essa palavra.”

E continua: “O exílio é um efeito da destruição da democracia. Se a minha democracia estivesse saudável, eu não teria ido para a França. Mas, se estou voltando para o Brasil hoje, é porque a minha democracia continua em pé. Meio abalada, mas em pé”.

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