Política

Por Manuela Azenha

“Você me fez perder o horário de tomar o Whey [Protein]”, diz a ex-deputada federal Joice Hasselmann no instante em que o gravador é desligado, ao encerrarmos a entrevista de 1h30 em seu amplo apartamento no bairro de Higienópolis, em São Paulo. 24 kg mais magra do que no começo do mandato, em 2019, a “empresária do ramo da beleza”, como ela mesma se define, agora quer ficar “marombadinha”. E mostra a foto de sua irmã fisiculturista no celular. “Mas não tanto assim. Quero ter uma vida normal”, explica.

A vida profissional de Joice, até então absolutamente voltada para a política institucional – por anos como jornalista e depois na Câmara Federal, hoje pode ser resumida em duas palavras: Protocolo JH.

E de certa forma, foi justamente a política o que a levou a criar o curso de emagrecimento, programa vendido por ela a R$ 1.297,00. De deputada mais votada da história do país, com 1.078.666 votos, à inimiga número 1 do chamado “gabinete do ódio” e uma derrota acachapante quatro anos depois que a tirou da vida pública, Joice passou pelo “fundo do fundo do poço”. Os ataques incessantes que sofreu foram, em sua maioria, direcionados à aparência física de Joice.

A jornalista recorda que estava deitada em uma maca de hospital, recém operada, quando decidiu que mudaria de vida. Era 2020 e sofria de um desequilíbrio hormonal que a levou a ser internada. “Ouvia os barulhinhos dos equipamentos do hospital e resolvi que não daria àqueles bolsonaristas a minha vida”, conta.

E assim começou o que mais tarde nomearia de Protocolo JH, a partir de uma dieta baseada em caldos de colágeno criados por ela, com acompanhamento de uma equipe multidisciplinar.

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Na conversa a seguir, Joice fala de sua experiência no olho do furacão que varreu Brasília nos últimos quatro anos. “Achei que fosse conseguir adestrar aquele animal”, referindo-se ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Também conta que mudou completamente de opinião e passou a considerar-se feminista após sua passagem pela Câmara Federal, durante a qual se deu conta da dificuldade das parlamentares no Congresso. “‘Feminista de direita’, acho cafona mas pode me chamar disso”, declara.

MARIE CLAIRE Como surgiu a ideia de vender o curso de emagrecimento?

JOICE HASSELMANN Emagreci com caldos de colágeno que eu mesma criei. Mas não criei do além. Sempre gostei de alimentos. Sempre pratiquei esportes, acompanhada por nutricionistas. E uma coisa que as pessoas mais próximas de mim sabem é que sou chef autodidata. Cheguei a ir para a cozinha do Heinz Beck, chef com três estrelas Michelin. Mas ninguém conhece esse meu lado. Já fiz várias viagens gastronômicas com meu marido. Somos apreciadores da boa comida, bons vinhos e champagne.

Até então, estava no fundo do fundo do poço. Me sentia presa em um corpo que não era meu. Me olhava, me sentia infeliz, atacada loucamente por aqueles malditos do gabinete do ódio. Me defendendo sozinha. Quanto mais me olhava, mais infeliz ficava e cheguei em um ponto de depressão. O meu processo depressivo começou ainda no governo de transição, logo que cheguei a Brasília. Fui líder do governo por uma escolha do Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre. Ali já não tinha clima. Trabalhei pela reforma da Previdência e depois disso rompemos.

Ainda não tinha as informações de corrupção, mas a incompetência, falta de inteligência emocional, o machismo extremo…

MC Isso te surpreendeu? Porque Bolsonaro sempre foi muito transparente, não?

JH Enfiei na minha cabeça que ele não era machista, mas machão. Como meu pai. Achava que tinha salvação, que bastava adestrar um pouco o animal.

MC E você seria a adestradora?

JH Em algumas coisas, fui. Por exemplo, dei aulas de economia liberal para ele. Paulo Guedes nem existia nessa época. Isso foi antes da campanha. Bolsonaro ia à minha casa, no Piauí, onde morei com meu marido por um ano. Ele me fez algumas visitas para me convencer a ser candidata.

Então achei que fosse conseguir adestrar aquele animal'
— Joice Hasselmann, sobre Bolsonaro

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MC Vocês eram amigos?

JH Não. Nos aproximamos na campanha e logo depois nossa relação foi se esgarçando. Conheci Bolsonaro quando fiz um vídeo na Veja, atacando ele quando agrediu a Maria do Rosário. Fiz um vídeo em defesa dela. Eu era diretora da TV da Veja. A assessoria dele entrou em contato comigo, mas não atendi. Aí ele começou a tentar, insistir, e atendi a ligação. Ele falou que queria se explicar, disse que era meu fã. 15 dias depois eu tinha viagem marcada para Brasília, para entrevistar personalidades nacionais. Entrevistei Roberto Barroso e José Eduardo Cardozo. Aí ele pediu para me dar uma entrevista. Foi um fofo. Brincou, deu risada. Vestiu um personagem de pessoa adestrável e a partir dali trocamos telefone e ele me perguntava muitas coisas. Antes de dar entrevista pro Danilo Gentili, por exemplo, me pediu ajuda para saber o que falar. Fiz uma espécie de media training com ele, foi a época que baixou a bola. Depois ficou louco de novo.

MC Então ele te ouvia?

JH Algumas coisas, sim. Outras, não. Depois foi se formando um grupo de comunicação em torno dele, um bando de loucos, o próprio Carlos [Bolsonaro], aí me afastei. Minha última reunião foi pouco antes de ser candidata de fato, no Rio, para a gente discutir quem seria vice do Bolsonaro. Pouca gente sabe disso. Fui eu e a Letícia Catel, doida de pedra. Mas na época não era, ficou doida depois. O bolsonarismo faz isso: enlouquece as pessoas, elas anulam a própria inteligência, como em uma seita. A reunião foi no apartamento do Flávio [Bolsonaro]. Estávamos eu, Bolsonaro, essa moça, Flávio, Eduardo, um amigo dele, Valdir. Com o Carlos nunca quis ter contato. Eu disse que a vice tinha que ser uma mulher do Nordeste. Discutimos alguns nomes. Nessa conversa surgiu o nome da Janaina Paschoal como vice. Bolsonaro me perguntou se eu toparia caso ela não aceitasse. Já sabendo que não tinha boa relação com os filhos, eu disse: “Não me queira mal, me queira bem”, e risquei meu nome da lista.

Os filhos são completamente imbecis, mau caráter. Tive uma relação com Eduardo de 3 meses, mas todas as palavras empenhadas foram rompidas. Não confio em quem não tem palavra, o mínimo de honra. Bolsonaro nos separava na campanha: eu ia para um lado e os filhos para o outro. Nunca quis ver o Carlos. Vi ele uma vez depois da eleição, quando levei a Vivianne Senna na casa do Bolsonaro, no Rio, porque era minha indicada para o Ministério da Educação. Por problemas pessoais, não poderia ser. Fechamos com o Mozart Ramos e ela seria uma conselheira nacional. Quando os filhos descobriram, eles atravessaram com o [Ricardo] Vélez.

Isso aconteceu também quando indiquei o William Waack para o Ministério das Relações Exteriores. Primeiro o indiquei para ser porta-voz, mas ele não quis. Aí marquei uma conversa com ele e Bolsonaro. Quando os filhos descobriram, colocaram aquele imbecil do Ernesto Araújo.

MC Os filhos tinham muita influência na cabeça do pai?

JH Não sei hoje, mas tinham. Especialmente quando Bolsonaro foi eleito, e se sentia menor do que a cadeira. Os filhos dominaram. Depois que isso mudou, Bolsonaro se sentiu maior do que a cadeira e virou o ditador que ele é.

Joice Hasselmann quer consolidar-se como empresária do ramo da beleza — Foto: Pétala Lopes
Joice Hasselmann quer consolidar-se como empresária do ramo da beleza — Foto: Pétala Lopes

MC E sua depressão se acentuou ao romper com o governo Bolsonaro, é isso?

JH Sim, por causa dos ataques. Já vinha de um processo depressivo, de tristeza de estar naquele ambiente com tanta gente mal intencionada, pouco qualificada. Pensava o que seria do Brasil, meu deus do céu. Aquela bancada bolsonarista eleita era um zoológico sem jaula. Tinha meia dúzia que se salvava, com algum raciocínio lógico, e eu estava incluída aí. Tinha aquela tropa de militares, gente caricata. Era uma coisa! Olhava aquela bancada, e eu ali fazendo parte das reuniões terríveis. Bolsonaro tropeçando na própria língua todos os dias. Aqueles filhos fazendo uma idiotice atrás da outra, indicando pessoas horrorosas para o governo.

Aceitei o cargo de líder do governo, já sabia que era por tempo limitado. Minha missão era passar as reformas da previdência e tributária. Passei a da Previdência, no laço, sem orçamento secreto. Uma novata, mulher, com uma reforma dessa nas costas. Mas dei conta do recado. Quando vi que a tributária não ia sair, rompemos. Comecei a ser muito atacada, e a depressão foi se intensificando, e mais gorda ficava. E mais gorda, parecia que ia me desfigurando. Passei a ter descontroles hormonais terríveis.

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Até que um dia, no carnaval de 2020, não estava passando bem. Tive taquicardia, um fluxo menstrual absurdo, não parava de jeito nenhum. Liguei para a cardiologista Ludhmila Hajjar, minha amiga, e ela me falou para ir ao hospital. Tive que ir para São Paulo de fralda, tamanho o sangramento. Fui internada e para a sala de cirurgia, e perdi meu útero. Meu estômago em uma crise absurda. Estava destruída. Fiquei na UTI por dois dias. Ouvindo o barulho dos equipamentos, bateu um desespero. Não ia entregar minha vida para aqueles caras. Decidi que mudaria completamente, saí focada em cuidar de mim. E assim iniciei o processo, hoje batizado Protocolo JH, com essa dieta baseada em caldos de colágeno.

Fiz três anos de engenharia de alimentos no ensino médio, um curso técnico. Sempre gostei muito dessa área. E fui acompanhada por nutricionistas. Montei a dieta e deu certo.

O tempo passou, emagreci, minha pele ficou maravilhosa. No começo estava muito deprimida para fazer exercício físico, me sentindo muito feia. Mais da metade do peso perdi em 40 dias. Depois foi mais lentamente. Fiz um processo de fases do protocolo.

Gosto de comida boa, vinho, cozinhar, então fiz uma escala para os alimentos irem voltando aos poucos para minha mesa e aí sim com atividade física. Parei de transformar minhas emoções em comida. Tive acompanhamento com psicóloga, que está no meu curso, e me ajudou muito. Nada de jogar culpa nos outros, é a psicologia da felicidade, aluna de um professor da Harvard. Sem excesso de restrições e que funcione realmente.

Saí do mundo da política quando perdi a eleição, no ano passado. Tirei este ano sabático, para ler, viajar com meu marido e curtir meus filhos. Só ter ócio criativo, não fazer nada. Estava escrevendo minha biografia. De repente, minha vida dá um cavalo de pau e caí no ramo da beleza.

MC Quando decidiu que isso seria um trabalho?

JH As coisas foram acontecendo sozinhas. As pessoas me pediam ajuda para emagrecer, e queriam isso full time. Então precisava ser um negócio. Passei menos de meio ano sabático para me tornar empresária do ramo da beleza. Tem uma empresária que quer tornar o caldo de colágeno em produto para ser vendido em todo o Brasil. Nada de produto químico, só trabalho com coisa natural. E tem um sabor delicioso. Você usa nas receitas, na moqueca, na galinhada vai uma dose do caldo de colágeno. As pessoas me perguntam se fiz lipo. Só fiz um procedimento, há 15 anos, depois do meu segundo filho. Não adiantou nada porque engordei tudo de novo. Agora, não teve nenhum procedimento estético.

MC E nem remédio?

JH Tomei Ozempic. foram dois meses de um enjoo terrível e não perdi 1 grama. Não indico a não ser que o médico recomende.

MC Você faz exercício físico todo dia?

JH Uma hora de musculação pesada todo dia. Não gosto muito de cardio, ficar na esteira caminhando não gosto. Então faço abdominal, uns 500 por sessão, entre um exercício e outro.

MC Está saudável agora?

JH Saudabilíssima. Sem remédio nenhum. Nem o Pantoprazol, para o estômago, que tomava todo dia.

MC E está feliz?

JH Muito.

MC Não sente vontade de voltar para a política?

JH Essa é uma outra história. O caminho que trilhei, sendo a mulher mais eleita da história do país, foi implodido por uma bomba bolsonarista. Aquilo não existe mais.

MC Como explica isso? Ir de deputada mais votada para a derrota que você sofreu em 2022?

JH Minha base eleitoral era em sua maioria bolsonarista. Sempre fui de direita, assumidamente. Quando Bolsonaro decidiu ser candidato, precisou juntar pedaços que trouxessem credibilidade a ele: eu, [Gustavo] Bebianno, Paulo Guedes, Sergio Moro. E sugando também porque todos nós perdemos credibilidade com a loucura dele. Então primeiro foi uma soma e depois ele ficou com a soma e a gente com o que sobrou. Então perdi boa parte da minha base. Queria um candidato de centro-direita, e isso não existiu porque o PSDB foi tão incompetente que não conseguiu lançar nome. Por isso saí do partido. A Simone [Tebet] a gente sabia que não ia empolgar.

MC Você apostava na chapa Moro e João Doria, certo? O que pensa disso, agora que nenhum deles conseguiu sair candidato?

JH Os dois são bastante incompetentes no jogo da política, ainda que competentes em outras áreas. A história mostrou isso, não sou eu falando. O Moro, de candidato “já ganhei” passou raspando pelo Senado, e agora pode ter o mandato cassado, não tem apoio, bancada, nada. O Doria voltou para a vida dele, como acho que deveria fazer mesmo. Mas o fato é que fiquei sem padrinho. Perdi a base bolsonarista e jamais apoiaria Lula, porque sou de direita. Mas uma direita centrada e não idiota, como a de Bolsonaro. Fiquei sem lado porque era contra os dois. O país estava dividido. Não sobrou nada para mim.

MC Ficou surpresa com o resultado?

JH Muito. Sabia que ia perder voto, mas não tanto assim. Foi uma derrota acachapante. Ninguém acreditava. Achei que parte dos bolsonaristas, os arrependidos, me apoiariam.

MC E que leitura você faz disso? Do fracasso de Doria, Moro, seu. Há espaço para uma terceira via no Brasil?

JH Não teve, mas acho que poderemos ter ainda. E pode ser Geraldo Alckmin. Ele virá candidato, se não na próxima eleição presidencial, na outra. Ele não entrou para brincar de vice. Não é de esquerda e nunca será. A única coisa boa que tem no governo Lula é o Alckmin. Mas daqui até a eleição, em política até vaca voa. Tudo pode acontecer. Lula foi preso e agora é presidente da República. Ninguém faz a menor ideia do que vai ser em 2026.

MC E Bolsonaro se tornará inelegível?

JH Acho que sim, não tem como fugir.

MC E aí o bolsonarismo fica na mão de quem? Quem será o nome?

JH Pode ser Michelle, algum filho, ou qualquer outro que ele controle. Ele se torna um forte cabo eleitoral.

MC Mas quem acha que será o escolhido?

JH Não fossem os escândalos, seria o Flávio. A Michelle ele nunca quis colocar, por ciúmes de um eventual potencial eleitoral dela, ainda que eu ache ela superestimada. Não tem conteúdo nenhum, aquele discurso de santa de pau oco vai se desmontando. Quem conhece de perto sabe o quanto ela é arrogante, fútil. A Michelle é aquela mulher que anda com o maquiador para cima e para baixo, tomando chá das 17h enquanto o país está pegando fogo. Deslumbrada com o que ganhou na política. Uma mulherzinha, no sentido de estatura moral. Uma mulher pequena. O PL quer ela porque vê uma transferência de votos do Bolsonaro, mas ele mesmo não quer. Aí terá uma briga de cachorro grande, porque Bolsonaro tem medo de perder espaço. Se tiver alguém que ele possa controlar totalmente, um zé ruela, será o escolhido.

Bolsonaro amava ser presidente. Virou o grande brinquedo dele. O aspecto físico dele piorou ao longo do mandato pelo medo de perder o poder. Bolsonaro sempre foi vagabundo e nunca gostou de trabalhar, isso a gente já sabe. No Palácio do Planalto ele mandou montar uma cama num quartinho anexado para dormir depois do almoço. Um preguiçoso. O estresse que deixava ele com aquela cara envolvia poder escorrendo da mão, medo de um filho ser preso.

MC Bolsonaro será preso?

JH Se o Brasil fosse um país mais sério, seria preso porque cometeu muitos crimes, em especial na pandemia. Mas conversando com vários juristas, consideram improvável. Pelo conjunto da obra, tinha que passar uns 20 anos na cadeia.

MC E o bolsonarismo continuará forte?

JH Acho que vão manter os 20% de radicais. É uma força importante, mas acho que, se aparecer um candidato de direita centrado e capaz, parte dessa gente pode migrar. Conheço muita gente que votou no Bolsonaro para não votar no Lula.

MC Agora gostaria de falar sobre a acusação de rachadinha por parte de sua ex-assessora. Você alega que o marido dela era uma pessoa de confiança, mas agora o chama de bandido, e diz que ele anda armado, inclusive. Quem é ele? O que ele fazia antes de ser seu chefe de gabinete?

JH É tão chocante. A mulher chega ao ponto de dizer que ameacei ela de morte e desovar o corpo em Parelheiros. É tanta loucura. Surreal. Meu erro foi estender a mão para um amigo, mais que amigo, um amor de irmão. O Ney, marido da Juliana [Christine Pereira Bejes]. Conheci ele quando era casado com outra pessoa, essa sim minha amiga. São 20 anos de amizade. Ele administrava uma empresa de arquitetura e construção dos dois e personal trainer nas horas vagas. A ex-mulher dele foi arquiteta da minha casa e ficamos muito amigos, de todos os finais de semana estarmos juntos. Um cara muito qualificado, com inúmeras especializações. O tempo passou e, quando fui eleita, o chamei para ser meu chefe de gabinete em São Paulo.

MC O chefe de gabinete é um cargo importante. E ele não tinha experiência nenhuma nisso?

JH Não precisa ter experiência. Você precisa chefiar pessoas, nisso ele tinha experiência. Chefiar técnicos, responder a você e ser leal. É o maestro. Ele falou que não podia naquele momento porque estava casado com outra mulher, que estava grávida. Depois aceitou a proposta, mas falou que precisaria levar a Juliana. Estava sem secretária em São Paulo, então ofereci colocá-la nessa função, para cuidar dos meus ressarcimentos de contas da Câmara. A secretária de Brasília, experiente, ensinaria ela. E assim foram os primeiros cinco meses. Ela não conseguiu aprender o básico.

O meu maior erro foi acomodá-la por causa dele, dar espaço a ela no meu gabinete. Não devia ter feito isso, pronto. Ela me fez perder 34 mil reais. Tenho uma briga judicial com a Veja e conseguiram bloquear minhas contas, limparam minhas contas. Por isso, orientei eles a imediatamente transferirem ou sacarem o dinheiro que caísse nas minhas contas. Houve um pagamento de 34 mil reais de ressarcimento. Juliana passou três dias sem olhar a conta e pegaram esse dinheiro. Aí fiquei louca e quis demiti-la. Poderia desconfiar de uma traição do meu marido antes do Ney. Armaram para cima de mim e ainda tentaram me extorquir. Ney me falou para pagar 300 mil reais para a Juliana voltar para o Paraná.

MC Queria que explicasse o episódio de dois anos atrás, em que você apareceu com diversas fraturas no rosto, no queixo, cabeça. A polícia investigou e não encontrou nenhuma evidência de que alguém entrou no seu apartamento.

JH Não quiseram saber o que aconteceu. O secretário de segurança do Distrito Federal foi ministro do Bolsonaro, Anderson Torres. Apareço toda quebrada, na coluna, no rosto, e a câmera de segurança cheio de ponto cego, sendo que não tinha câmera no meu andar – algo que não sabia. Acordei no closet toda ensanguentada. Ninguém me tira da cabeça que foi um atentado. Quem entrou sabia que eu tomava remédio para dormir, a posição em que eu dormia. Encontraram pegadas de botina na minha casa duas vezes antes disso. O meu funcionário que achou e falou que alguém tinha entrado.

Tem cópia da chave do apartamento na Câmara, mas em tese ninguém poderia mexer nisso. Conseguiram a chave dessa forma ou usaram chaveiro que consegue abrir qualquer porta. Era uma porta comum. A forma como a polícia enfiou esse caso para debaixo do tapete tão rapidamente, e o como delegado tentou desesperadamente me convencer que foi uma queda da própria altura... O Ministério Público Federal continua com o caso, mas a polícia encerrou.

MC Tem alguma novidade para elucidar o que de fato aconteceu naquela noite?

JH A única novidade é que sei o que aconteceu. Fui ao Arthur Lira e falei quem e como. Ele me perguntou se tinha provas. Respondi que não. E ele me falou que seria cassada se fizesse qualquer acusação. Não tenho provas e ganho um belo processo se abrir a boca. Reuni informações no próprio prédio, sobre pessoas que tiverem acesso a um dos apartamentos, minha alma de jornalista investigativa entrou em ação. E tiveram as ameaças que sofri, para calar a boca, de uma pessoa próxima ao governo, numa festa. Quando foram coletar as digitais no meu quarto, não tinha sequer as minhas. Limparam tudo. É uma história muito cabulosa.

Joice Hasselmann — Foto: Pétala Lopes
Joice Hasselmann — Foto: Pétala Lopes

MC Depois de tudo que já passou, se arrepende de ter entrado para a vida pública? E quais os seus planos para o futuro?

JH Não sei se me arrependo. Amo política, realmente me trouxe muita coisa ruim, machucados internos e externos, perda de patrimônio. Ganhava muito mais antes de entrar para a política. Individualmente não ganhei nada com a política. Se voltar, será com uma cabeça muito mais madura, sem ilusões. Não quero viver da política. Se voltar, será como empresária.

MC Você já falou em diversas entrevistas, inclusive para a Marie Claire, no começo do seu mandato, que não é feminista.

JH [Interrompe] Mudei completamente de ideia, cavalo de pau. Quando entrei na Câmara e conheci a bancada feminina, as dificuldades femininas de relatar projetos, aprovar projetos, começou aí minha mudança. Os presidentes pegam a semana da mulher, dão meia dúzia de projetos como cala boca. Aquilo me incomodou muito. Não queria projeto café com leite. Comecei a me juntar com mulheres porretas e fizemos uns motins ali dentro.

MC Essa aliança conseguia ultrapassar as diferenças ideológicas?

JH Totalmente. Tinha uma aliada do PCdoB, Perpétua Almeida. A gente se reunia toda semana. Cada dia uma levava um vinho, eu cozinhava. Eram grupos de até 21 mulheres, de vários partidos. Só não tinha do PSL. Ninguém queria aquelas mulheres do PSL, que xingavam outras mulheres, debochavam. Uma pessoa que se tornou uma grande parceira e amiga é a Jandira Feghali, que aliás canta Alcione como ninguém. E aí minha cabeça foi mudando. Meus olhos se abriram para o feminismo. O feminismo não é uma coisa só, tem vários braços. ‘Feminista de direita’, acho cafona, mas podem até me chamar disso. Me identifico com a luta para colocar mulheres em espaço de poder. Dei curso gratuito para 500 mulheres no pré-eleição para treiná-las a serem candidatas. Se isso é ser feminista, eu sou.

MC Você já se posicionou contra a legalização do aborto, mas favorável à discussão e que ela seja feita entre mulheres. De que forma essa discussão deve ocorrer? E apoia que uma mulher que tenha feito um aborto de forma ilegal seja presa?

JH Defendo a lei como ela é hoje, mas acho que precisa de discussão madura, sem extremos.

Defender a prisão de uma mulher que fez um aborto é algo que não consigo fazer'
— Joice hasselmann

Porque você não sabe o que ela está passando, enfrentando. Não concordo com aborto, nunca fiz um. Conheço várias mulheres que fizeram, mas nenhuma delas fala disso com felicidade.

A legislação atual precisa ser mais ágil para atender essas mulheres. A discussão deve ser feita com mais ciência, e menos igreja. Mesmo sendo evangélica, nunca integrei a bancada porque é surreal, um desserviço aos que são cristãos de verdade. Os que comandam são xiitas e envergonham quem é cristão de verdade. Usar religião como o comando da bancada evangélica faz para colocar cabresto nas pessoas e obter vantagens, não há nada mais pecaminoso do que isso. Vou ser escorraçada em praça pública por dizer isso. Precisamos de educação, lá na escola, ensinando método contraceptivo, a usar preservativo.

MC Educação sexual nas escolas virou motivo de disputa, não?

JH Ridículo, outro desserviço dos xiitas da bancada evangélica.

MC Como avalia esses primeiros seis meses de governo Lula?

JH O que vimos foi mais do mesmo, a volta de programas sociais que o PT carimbou como seus. Positivo, mas nenhuma inovação. Na questão indígena e ambiental ele evoluiu, há mais coisas positivas do que negativas. O arcabouço fiscal do Haddad é melhor do que esperava. O resto vejo parado, infraestrutura, saúde. Mas ainda está muito no começo.

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