Retratos

Por Camila Cetrone, redação Marie Claire — São Paulo


Quem é Irmã Mônica, influnciadora evangélica que se tornou aliada de pessoas LGBTQIAPN+ — Foto: Reprdução/Instagram
Quem é Irmã Mônica, influnciadora evangélica que se tornou aliada de pessoas LGBTQIAPN+ — Foto: Reprdução/Instagram

Se de alguma forma você está dentro da bolha queer da internet, provavelmente já ouviu uma mulher evangélica, negra, de cabelos pretos compridos e longos vestidos dizer o bordão “Ninguém toca na minha LGBT”. A dona da frase é a influenciadora digital Irmã Mônica Bispo do Véu, que se tornou presença constante na timeline de pessoas LGBTQIAPN+ no Brasil – e vem surpreendendo pela maneira fervorosa como tem defendido a comunidade.

"Deus começou a me revelar em sonho que eu tinha que cuidar do povo LGBT", conta em entrevista por vídeo a Marie Claire, após ser perguntada sobre o porquê de começar a defender a comunidade. "Ele disse: 'Minha filha, toma conta do meu povo. Ora por ele, não deixe ninguém tocar, defende. Agora tô aí nessa luta.”

As palavras de fé na ponta da língua, o pulso firme e a devoção religiosa, bem como o posicionamento político e a postura de aliada (sem contar quando músicas da cantora Lana Del Rey, de quem é fã, tocam ao fundo), fizeram da influenciadora de 47 anos um hit nas redes sociais. Virou até meme, no significado mais carinhoso da palavra. Os vídeos bem-humorados de encorajamento cativaram tanto o público que, atualmente, ela está prestes a alcançar a marca de 500 mil seguidores nas redes sociais (somando números de TikTok, Instagram e YouTube).

"Sou uma mulher simples, normal, uma pessoa do bem. Muita gente pensou que eu ia viralizar e ia mudar, mas sou a mesma mulher de Deus e vou continuar com minha essência”, conta.

Irmã Mônica nasceu em Maceió, em Alagoas, e há 10 anos mora nos arredores de Brasília com o marido e o único filho, Bruno Bispo, de 30 anos, que foi quem a alçou ao estrelato digital. Praticamente nasceu na matriz evangélica, mas conta que foi aos 9 anos, após a morte da mãe, que aceitou Jesus.

Há uma década, ela faz parte da Congregação Cristã do Brasil, igreja de matriz pentecostal. “Dentro da igreja não aceitam política, mas tudo o que faço nas redes sociais é enviado por Deus. As pessoas criticam, querem julgar, mas têm que olhar que estou fazendo o que Deus manda”, afirma.

O que chama atenção na influenciadora é o fato de ela ser, atualmente, considerada um ponto fora da curva dentro da corrente evangélica. O Brasil de 2023 é o que mais mata pessoas LGBTQIAPN+ do mundo, e não é incomum ver líderes religiosos pregarem palavras de ódio e violência contra a comunidade. Enquanto há evangélicos que veem quem faz parte da comunidade como pecador ou imoral, Irmã Mônica escolhe um caminho oposto e abraça todas as cores da bandeira.

“O que vejo neles é amor, e é tudo o que a Irmã Mônica tem”, diz a influenciadora, que emenda que não são raras as vezes que é parada nas ruas ou recebe mensagens e telefonemas de pessoas em busca de acolhimento. “Sentam comigo, começam a contar histórias do que passaram dentro de casa. Foram expulsos, humilhados... Me dói muito, choro junto. Dou a eles o acolhimento para que se sintam abraçados. Como mulher cristã, tenho que dar amor e carinho para o povo que precisa. Isso é o verdadeiro amor.”

Quero passar a palavra de Deus e pregar para mães e pais que desprezam os filhos dentro da igreja. Quero levar essa palavra para que entendam que Deus é amor. Essa é a referência que quero ter nas redes sociais: uma mulher de Deus que acolhe e junta seu povo

Mônica se enxerga como ativista dos direitos humanos. Neste mês, além de suas participações em Paradas do Orgulho de diversos estados brasileiros, mostrou fotos e vídeos se unindo aos povos indígenas em manifestações contra o Marco Temporal, em Brasília, e desprezou publicamente falas anti-LGBT dos pastores André Valadão – que disse que “Deus odeia o mês do orgulho” – e Anderson Silva – que defende as ditas “terapias de reversão sexual”, conhecidas como “cura gay”.

Também visitou o Palácio do Planalto e a Esplanada dos Ministérios, onde apareceu ao lado de Symmy Larrat, Secretária Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+, e pediu bênçãos a parlamentares como as deputadas federais Erika Hilton (PSOL-SP) e Daiana Santos (PCdoB-RS).

“Tem muita gente que quer que eu saia candidata para cuidar do Brasil (risos).” Questionada se aceitaria, ela não concorda e nem discorda: “O futuro está nas mãos de Deus, tudo tem seu tempo. Se Ele autorizar, ninguém me impede.”

‘Profeta política’

Irmã Mônica passou a se engajar politicamente nas redes sociais durante o primeiro turno das eleições presidenciais de 2022 — Foto: Reprodução/Instagram
Irmã Mônica passou a se engajar politicamente nas redes sociais durante o primeiro turno das eleições presidenciais de 2022 — Foto: Reprodução/Instagram

Irmã Mônica também ganhou notoriedade pelo engajamento político e pela forma como se colocou abertamente contra Jair Bolsonaro e seus apoiadores, mais uma vez indo contra a hegemonia imposta aos evangélicos Brasil afora. Mesmo após a eleição, ela continua se posicionando contra ele: não é incomum vê-la pedindo pela prisão e inelegibilidade do ex-presidente, o que atrai tanto admiradores quanto haters.

Ela, que nunca foi militante, passou a se engajar politicamente durante o primeiro turno das eleições presidenciais de 2022 – segundo ela, também a pedido de Deus para cuidar do então candidato Lula.

A primeira vez que viralizou foi em agosto daquele ano, quando apareceu em um vídeo rezando com a mão sobre uma toalha com o rosto de Lula. Com uma bíblia na outra, ela orava e proferia palavras de proteção ao agora presidente. "Falei que ele voltaria para o poder e todo mundo falou que era mentira. Respondi: ‘Só aguarde, o presidente Lula está voltando mais forte que nunca’”, lembra.

Em novembro de 2022, com Lula eleito, viralizou de novo: dessa vez, ao profetizar que fortes chuvas atingiriam os acampamentos de bolsonaristas nas portas de quartéis em Brasília, onde protestavam contra o resultado da eleição. "Falei que Deus mandaria uma grande chuva e, no dia que soltei o vídeo, aconteceu.” Ela se refere à tempestade que tumultuou os acampamentos no dia 15 de novembro.

Além de os evangélicos terem sido parte fundamental do eleitorado que elegeu Bolsonaro em 2018, a religião era (e ainda é) usada à exaustão por fundamentalistas religiosos, de políticos a membros da sociedade civil, como justificativa para colocar em prática determinadas agendas – a própria ex-primeira dama Michelle Bolsonaro chegou a definir o ex-presidente como “um escolhido de Deus”.

A influenciadora, no entanto, discorda. “Os que estavam ali nos quartéis não representavam o evangelho. Deus não gosta de baderna e bagunça. Também não conheço a fé maligna. Bolsonaro, para mim, nunca foi presidente. Ele destruiu e contaminou a igreja evangélica e, por causa dela, a maioria dos evangélicos estão loucos. É preciso tirar a política de dentro da igreja”, declara.

Alvo de ameaças

Irmã Mônica sobre ameaças: 'Tentam me colocar medo mas não conseguem' — Foto: Reprodução/Instagram
Irmã Mônica sobre ameaças: 'Tentam me colocar medo mas não conseguem' — Foto: Reprodução/Instagram

O posicionamento político aberto de Irmã Mônica, no entanto, também passou a incomodar políticos, lideranças religiosas, pessoas públicas e anônimas. Recorrentemente é alvo de xingamentos, tentativas de agressão física ou ameaças, o que inclui as redes sociais – além das ofensas, conta já ter recebido fotos de armas enviadas por pessoas que diziam que iriam atrás dela.

“Acontece todos os dias. Me perseguem por eu ser uma mulher, negra, evangélica, que cuida da minha LGBT. Vejo um racismo contra minha vida. Ouço cada comentário maligno vindo de pastores: já me disseram que se eu estivesse ali, arrancariam minha cabeça. Isso é coisa de um pastor dizer?”, narra.

Onde mora, as ofensas são tão constantes que chegou a ter medo de sair na rua. Só no último mês, foi ameaçada com armas de fogo duas vezes – sendo que uma delas foi pelo vizinho que mora em frente a sua casa. A influenciadora registrou um boletim de ocorrência para cada situação.

"No momento não me sinto segura. Se eu tivesse condições financeiras de me mudar, sairia na mesma hora daquela casa. Não está me fazendo bem. Quando vou dormir, é Deus quem toma conta: coloco meu véu, dobro meu joelho e peço para deixar minha casa invisível para os homens sanguinários. Faço minha oração forte e durmo.”

Em maio, ela também despertou a fúria da influenciadora digital Antônia Fontenelle, que durante o programa radiofônico The Morning Show, da Jovem Pan, reagiu a um vídeo de Mônica comemorando a redução do preço da gasolina e agradecendo Lula.

"Dar espaço para esse tipo de gente, ignorantes, pobres, miseráveis de alma, de espírito e de educação, é a mesma coisa que dar voz para bandidos”, afirmou a Fontenelle, dizendo ainda que "essa infeliz não deve nem ter carro". Com a ajuda da equipe jurídica do youtuber Felipe Neto, que foi chamado de “lixo” por Fontenelle na mesma edição, Mônica move um processo na justiça contra a influenciadora.

O boicote também impacta sua vida financeira: devido a grande visibilidade, tem tido dificuldades para encontrar emprego. "Não posso trabalhar por motivos de segurança devido às ameaças que recebo desde que comecei a falar de política. Quando chego para pedir emprego, as pessoas falam: 'Você é aquela mulher do vídeo? Não quero você aqui porque sou bolsonarista'", narra. Mônica garante que nunca ganhou dinheiro na internet – “nem um centavo” – e que ainda não começou a monetizar seu conteúdo.

Apesar dos ataques, ela conta que não pretende parar. "Tentam me colocar medo mas não conseguem, porque sou uma mulher de Deus que confia muito n’Ele. As pessoas querem que eu me envolva em escândalo, mas sou uma mulher sábia. A Irmã Mônica não anda procurando briga assim, jamais. Procuro a justiça, mas também oro para que Deus venha libertá-los".

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