Power Trip Summit
Por e , redação Marie Claire — de Belo Horizonte (MG)

A pressão estética sobre as mulheres é implacável, e os números não nos deixam mentir. Por aqui, e no mundo inteiro, uma em cada três mulheres, independentemente da idade, se sente julgada pela aparência o tempo inteiro. Não à toa, nos penalizamos tanto. No Brasil, 54% das mulheres afirmam que elas próprias são suas piores críticas quando se trata de avaliar seu corpo.

E tudo isso estimulado, formado, divulgado por uma gigantesca indústria de beleza, que, por todas as suas pontas, durante décadas, estabeleceu conceitos (bem restritos) sobre o que é belo. O cenário foi se tornando insustentável, parecia que não tinha mais para onde ir, até que a gente começou a ver movimentos de reflexão sobre aquela realidade. Um dos mais definitivos e emblemáticos nessa mudança de olhar está completando 20 anos agora. Dove começou a plantar uma sementinha sobre consciência, diversidade, aceitação e autoamor em sua campanha promovendo a beleza real.

Ainda que a gente viva um livre acesso à informação – e uma realidade de redes sociais que estimula uma vivência de comparação muito forte –, o primeiro passo foi dado, e hoje a gente aprendeu a refletir. Ainda bem. Porque estamos vivendo a era da inteligência artificial.

E se antes a gente se comparava a pessoas bem específicas, mas que existiam de fato, imagina se comparar a uma criação cibernética? Para falar sobre tudo isso, sobre esse universo de mudança de olhares, conceitos e padrões, Andreza Graner, diretora de marketing da Unilever, e Paolla Oliveira, uma das atrizes mais talentosas da atualidade no Brasil e que desenvolveu uma consciência gigante que faz com que ela não se dobre para as pessoas que questionam a sua beleza real, se juntaram a Paola Deodoro, Editora de Beleza de Marie Claire.

Paolla Oliveira, Andreza Graner e Paola Deodoro na 10ª edição do Power Trip Summit de Marie Claire — Foto: Bruna Brandão
Paolla Oliveira, Andreza Graner e Paola Deodoro na 10ª edição do Power Trip Summit de Marie Claire — Foto: Bruna Brandão

PAOLA DEODORO Andreza, a campanha da Dove pela Beleza Real está completando 20 anos. Hoje, com as redes sociais, com manipulação de imagens e todos os filtros, os padrões inalcançáveis se refinaram e se amplificaram. Mas a campanha do vocês foi lançada no mesmo ano que o Orkut, quando tudo era mato. Como vocês tiveram esse insight? Qual foi a semente dessa campanha?
ANDREZA GRANER
O que era referência de beleza eram as modelos da Victoria's secret, mulheres esguias, magérrimas, altíssimas e todas muito parecidas. Desde o início, Dove teve como missão o cuidado com as mulheres e sempre fez muita pesquisa sobre comportamentos de consumo. Em 2004, o dado mais alarmante da nossa pesquisa era que só 2% das mulheres do mundo se achavam bonitas pelo que viam nas passarelas e nas capas de revistas. Com esse compromisso da marca, veio uma legião de mulheres muito corajosas para inaugurar esse mote da beleza real e trazer mulheres diversas nas suas comunicações. Depois disso, além do discurso e promovê-lo, também queríamos fazer algo pela sociedade. Lançamos o compromisso pela autoestima, em que trazemos conteúdos positivos para meninas jovens de comunidades, escolas, e reforçamos a consistência da marca que se renova em campanhas como essa, após 20 anos, através de novos estímulos que temos todos os anos. Celebrando a diversidade de belezas por aí.

PD Já a campanha atual, Código Dove, partiu de uma busca espontânea. Conta pra gente um pouco sobre o processo de criação, da surpresa dos resultados e de como vocês, como empresa, interpretam esse resultado. Dá para dizer que Dove ensinou a inteligência artificial a representar melhor as mulheres?
AG
Primeiramente, a iniciativa dessa campanha foi para celebrar os 20 anos dela. Mas mais do que o aniversário, é a gente reafirmar nossos compromissos e mostrar para o mundo e para a indústria que continuamos nessa luta, por quanto tempo for. É uma campanha global para retratar de uma maneira atual e moderna um tema sob o qual falamos há 20 anos de forma relevante e que traga um compromisso de reflexão, de movimentar as pessoas, fazer as pessoas pensarem e gerar impacto social positivo. O insight veio da conscientização a partir dessa busca de que 20 anos depois Dove conseguiu pautar a inteligência artificial no que tange à beleza. Se conseguirmos continuar assim, vai ser um pouco menos desafiador esse trabalho. Até 2025, 90% dos conteúdos digitais vão ser gerados por IA, se não nos movimentarmos através de iniciativas com essas, estamos condenados.

PD De todos os estudos e pesquisas que a marca tem feito nos últimos anos, qual o dado sobre comportamento em relação à beleza é mais chocante?
AG
Em uma de nossas pesquisas perguntamos se as mulheres doariam um ano de sua vida para alcançar o “corpo ideal” e 38% das 33 mil pessoas entrevistadas dizem sim.

Andreza Graner, Paolla Oliveira e Paola Deodoro na décima edição do Power Trip Summit — Foto: Bruna Brandão
Andreza Graner, Paolla Oliveira e Paola Deodoro na décima edição do Power Trip Summit — Foto: Bruna Brandão

PAOLA DEODORO Em janeiro, você respondeu a um hater que te acusou de usar Photoshop nas fotos. Você escreveu: “Já me fizeram perder energia, o bom humor; ficar chateada, perder a vontade de estar nos lugares, minando minha autoconfiança. Mas, agora, não mais. Não é que eu estou blindada para isso, mas fui criando confiança ao longo do tempo”. Quais foram as suas estratégias para criar autoconfiança?
PAOLLA OLIVEIRA
Não tem caminho. Nada que eu possa falar para as pessoas seguirem. A maior estratégia para adquirir autoconfiança é o tempo, só que às vezes queremos que chegue mais rápido. Agora, olhando para trás, percebo que fui mais aberta para ouvir e usei tudo isso como ferramenta para me construir, saber o que me faz mal, o que me causa estranhamento. A autocrítica era enorme, eu achava que tinha que me sentir mal, porque devia alguma coisa, era menos que alguém, não deveria estar naquele lugar. Mas veio um ponto de autoconfiança através de várias mulheres e, por isso também, consegui conquistar mais a autoconfiança e não ficar à mercê das críticas. Ela não é perene, por mais que a gente batalhe, tem algo que pode acontecer que nos fazer pensar “cadê a coragem que estava aqui?”. Mas não podemos nos abater com as primeiras críticas porque precisamos seguir caminhando. Cada uma tem a própria estratégia para aumentar a sua autoconfiança. Do alto do meu privilégio, vejo que mulheres se identificam, porque enxergam que estamos todas no mesmo caminho, sob pressão, fico feliz que elas tenham me encontrado e que falem comigo sobre como o meu discurso as toca.

PD Emocionalmente a gente sabe que a pressão estética causa danos profundos. Mas para chegar a certos padrões, muitas vezes a saúde física é sacrificada. Você já teve problemas de saúde para atender a esses padrões?
PO
Quem aqui não vive ou fica doente e o médico diz que é “estresse”? Como evitar isso? Sai do trabalho, pede “dispensa” da família? Todas as vezes que estive afastada do que era o aceitável para a opinião alheia, estava sempre doente, com hipertireoidismo, precisando tomar corticoide até. Nunca ninguém perguntou se eu estava bem, não queriam saber se era algo importante para a minha saúde. O mundo nos valoriza não pelo que somos, mas pela nossa aparência, mulheres perdem oportunidades em várias áreas por isso, estão erradas de qualquer maneira. Espero o dia em que realmente vamos nos importar com o outro, se a pessoa está doente, se mutilando. Não tem jeito de estar certa, a saúde mental é o que você se propõe a ser, é o que temos que cuidar mais hoje, estarmos íntegras com nós mesmas. O maior cuidado que podemos ter é cuidar da nossa cabeça e não deixar que essa insegurança que nos ronda entre na nossa vida.

PD Recentemente você assumiu um compromisso público de não usar filtros ou manipulação nas imagens que você posta em suas redes sociais. Como você lidou com esse processo? Se sentiu tentada a usar alguma vez, mexer em algum detalhe? O quanto isso já fazia parte de você quando decidiu parar?
PO
Sou uma amante do presente, muita coisa fazemos no presente e é isso que estamos fazendo aqui para enxergar um futuro melhor. Dove somou comigo nessa questão, mas só conseguimos ter essa simbiose quando isso já existe e essa questão já existia para mim. Talvez por ser atriz e me modificar muito, estou sempre atrás de algum artifício, e nas minhas redes sociais quis me mostrar como eu mesma, era um valor meu, queria só a liberdade de não ter que ser perfeita nas minhas redes, ter minhas transformações, mudanças e não ter ninguém falando nada, porque ali é um espaço meu. Detesto a palavra padrão, a Dove me prova que há 20 anos isso já era falado e continuamos falando sobre isso e vamos continuar por muitos anos. Sinto muito que as pessoas confundem filtro e modificação com maquiagem, luz, ângulo, que são artifícios que podemos usar, mostrando o melhor que podemos ser. Questionam o porquê de eu ir para a academia, já que estou “sem filtro”, e isso não faz sentido! Nunca tive vontade de voltar a usar Photoshop e filtros, porque me via mais natural nas minhas redes e percebia que meu entorno me modificava, porque as coisas escapam das nossas mãos em uma capa de revista, em uma campanha. Cheguei ao ponto de pedir para devolver meus volumes, minha perna, minhas dobrinhas. Estou muito satisfeita em não precisar me modificar.

PD Você acredita que a inteligência artificial pode ter um impacto significativo na mudança da percepção de beleza na sociedade? Até onde você acha que as pessoas reais são substituíveis por representações artificiais?
AG
Eu acho que já impacta, 46% das mulheres brasileiras se sentem pressionadas a mudar algo no seu corpo por conta de estilos que elas consomem online e mesmo que saibam que são conteúdos manipulados, elas se sentem com vontade de mexer em algo do corpo. É muito perigoso e desafiador, mas a inteligência artificial, a beleza artificial não vão substituir a beleza real e os valores que isso têm. Sempre vão ter novos estilos que vão desafiar esse movimento.
PO Todo avanço tecnológico normalmente traz uma consequência e com a inteligência artificial não vai ser diferente. Claro que vão ter ganhos depois, mas precisamos de pesquisa, entender mais sobre ela e os impactos. Temos que ter responsabilidade na internet, porque nós somos parte dessa inteligência artificial.

PD Como você percebe a diferença da pressão estética sobre os homens e sobre as mulheres na sua profissão? Você mesmo já fez um vídeo perguntando como os homens estavam se preparando para o Carnaval…
PO
Caí nessa cilada de responder essas pessoas que falaram do meu corpo muitas vezes, menti até, para suprir coisas que nem precisava suprir. Como esses homens se preparam para a vida? Ninguém questiona isso para eles. A gente se arruma para uma reunião online, o cara no máximo passa desodorante. Perdemos tanto tempo pensando em estética, em look, maquiagem, até para a vida pessoal, em encontros. Ninguém pode tirar nossa potência por causa da nossa aparência. O corpo ideal para o Carnaval é o corpo que você tem e acabou. Eu tive uma autosabotagem por muito tempo e não quis mais ficar em cima de privilégios, soube o que era importante para mim e quis manter isso. Como vale mais sermos uma pessoa importante, com linha de raciocínio que faz sentido, que se comunica com mulheres. Eu me sentia um rato, diminuída, e quando emergi de tudo isso e encontrei um caminho que me libertava, ganhei uma vida forte para além da celebridade, do trabalho, que sou muito grata, mas a gente ser íntegra e com propósitos me fez chegar até aqui e fechar um ciclo vendo que hoje sou todas as vertentes da minha vida. É um privilégio viver quem a gente é todos os dias.
AG Por isso a Paolla é a primeira celebridade a ter uma parceria de longo prazo com a Dove na história do Brasil. Na época nossos guidelines não deixavam contratar celebridades, mas ela era uma pessoa dando voz ao discurso da marca de forma genuína e batalhamos com o global para poder trazê-la. E nos deixaram depois de verem todos os vídeos dela sobre corpo, pressão estética e Carnaval.

Sobre a 10ª edição do Power Trip Summit

O principal encontro de líderes mulheres do Brasil, o Power Trip Summit, promovido por Marie Claire com patrocínio master do Banco do Brasil, patrocínio de L’Oréal Paris, Vivo e Dove, apoio do Magalu, Musquée, Mastercard, Liftera e MSD, parceria educacional da MUST University, apoio institucional do Instituto Inhotim, participações de Oshadi e Dior e parceria editorial da Pantys. Foi realizado nos dias 26, 27 e 28 de maio, no Hotel Fasano Belo Horizonte, em Minas Gerais.

Em sua 10ª edição, o evento aborda o tema “Visionárias” e reuniu na plateia executivas, CEOS e líderes da sociedade civil nos campos dos negócios, cultura, beleza, moda, política, ciência e tecnologia. O Instituto Inhotim, sede de um dos mais importantes acervos de arte contemporânea do Brasil e o maior museu a céu aberto do mundo, foi parte da agenda.

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