![Tarciana Medeiros fala sobre a própria trajetória até chegar à presidência do Banco do Brasil, na 10ª edição do Power Trip Summit, em Belo Horizonte — Foto: Bruna Brandão](https://cdn.statically.io/img/s2-marieclaire.glbimg.com/CfyB1nXjoonqv2lutKcxkErX_x0=/0x0:2048x1369/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_51f0194726ca4cae994c33379977582d/internal_photos/bs/2024/s/D/5sef3DSUaAZ62HGeWUAA/dsc4266.jpg)
Neste domingo (26) se iniciou, no Fasano Belo Horizonte, em Minas Gerais, a décima edição do Power Trip Summit, que tem como tema “Visionárias” e reúne na plateia executivas, CEOS e líderes da sociedade civil nos campos dos negócios, cultura, beleza, moda, política, ciência e tecnologia. Tarciana Medeiros, presidenta do Banco do Brasil, falou a partir do tema “Desafios, liderança feminina e o mercado financeiro”.
Ela, que é a primeira mulher à frente da instituição em 215 anos, é negra, paraibana, filha de feirante e abertamente lésbica e já declarou que se o presidente Lula não tivesse feito questão de nomear uma mulher pro cargo, ela não teria sido escolhida. No evento, falou por aproximadamente 40 minutos sobre sua trajetória e deu um panorama do que mudou ou não nos últimos anos para as mulheres em cargos de liderança.
Leia na íntegra a fala da presidenta:
“Muito obrigada pelo convite de estar aqui conversando com mulheres tão inspiradoras e compartilhando um pouco da minha trajetória profissional. Ao me preparar para subir neste palco, eu fiz uma retrospectiva desses últimos 16 meses em que estou à frente do Banco do Brasil e do quanto aprendi desde aquele 16 de janeiro de 2023.
Gosto de falar “presidenta” para gerar discussão e nunca tive medo de ser CEO do Banco do Brasil, desde o dia em que tomei posse, meu nome já era “pronta”.
Muito além dos desafios diários de liderar uma empresa bicentenária, um conglomerado com 90 empresas e cerca de 125 funcionários, minha maior transformação foi no aprendizado do papel da mulher na sociedade, e principalmente sobre a importância da representatividade de uma mulher ocupar essa posição para a evolução da liderança feminina em nosso país e no mundo.
Muitas pessoas me perguntam sobre como é exercer esse cargo, quais são as maiores dores e delícias, e sempre relaciono poder com empoderamento. Poder e potência tem a mesma origem do latim - vem da capacidade de fazer algo. Com o passar do tempo, o verbo “poder” também passou a significar a capacidade de impor, de mandar e de submeter os outros à própria vontade. E empoderar significa dar poder para si ou para outro, significa que somos donas das nossas escolhas, basicamente é avocar o poder para si. Sempre fui empoderada pelas mulheres da minha família e entendi como é gerir e dar poder também.
Não se espera dos homens que precisem empoderar, porque teoricamente eles já tem o poder de impor a própria vontade. Então fui entender como lidar neste mundo novo para mim e trabalhar com eles. Precisava do meu poder de potência para conseguir fazer o que quero e hoje temos o melhor retorno no sistema financeiro brasileiro. Entregar resultado do Banco é o básico, porque o banco é público de economia mista, temos um trabalho e um dever social também. A inclusão e a diversidade dão dinheiro e resultado e precisamos dizer isso para o mercado falando sobre o assunto todos os dias. O verdadeiro poder está na possibilidade de causar mudanças positivas na vida das pessoas.
Eu procuro focar nas delícias de fazer a diferença para a população, da pequena produtora rural do interior do nordeste, aos pequenos produtores, colegas, empresas e conglomerados do agro que perderam com as enchentes no Rio Grande do Sul. Quero inspirar pessoas, lhes dar autonomia e apoiar com as ferramentas possíveis, confiar e receber de volta o melhor que eles têm a oferecer, dando crédito. É possível e temos feito esse trabalho. Essa é a missão da empresa e a minha também, são valores que se misturam.
O que significa meu papel?
Uma referência para que mulheres acreditem no topo, ter para quem olhar e se verem nesse lugar. Frei Beto dizia: “A cabeça pensa onde os pés pisam”. Por meio dos meus passos, muitas mulheres têm planejado suas carreiras. É preciso ter um olhar empático para todos os diversos e trazer suas narrativas para o centro das nossas decisões.
O que fiz ao chegar?
Conselho Diretor mais diverso do sistema financeiro, políticas de aceleração de lideranças femininas e de raça, compromissos globais com a sustentabilidade e a diversidade.
Como eu cheguei até aqui?
Com incentivo à educação, rede de apoio familiar (mainha, painho, titia), amigos e líderes que me ensinaram e ajudaram a construir a profissional que sou. Eu fui a primeira, mas não sou a única e sou fruto de muitas que vieram antes de mim.
Porque é necessário deixar de ser a primeira?
Somos a última geração de “primeiras” e precisamos promover essa mudança, é preciso normalizar o lugar da liderança feminina.
Há 10 anos este evento foi criado pela Marie Claire porque não havia espaços para compartilhamento. Por coincidência, em 2014 teve início a primeira iniciativa de liderança feminina no BB, as pautas eram de criação de oportunidades de trabalho e liderança e era necessário resgatar o conceito de sororidade e evidenciar vieses inconscientes. E o que mudou nesses 10 anos? As capas de revista, de lá para cá, têm mudado muito, tanto no conteúdo, quanto no tipo de presença feminina e as mulheres líderes resgataram a ideia de que podem ser femininas e fazem lideranças humanas, empáticas, inclusivas, que levam ao crescimento de resultados e engajamento dos funcionários.
Mas o que não mudou nessa década? Recentemente fui alvo da imprensa e julgada no tribunal das redes sociais e muitas aqui já viram ou viveram essa experiência. Mesmo tendo a maior valorização de uma empresa do sistema financeiro na bolsa de valores em um ano, precisamos nos provar todos os dias, dar explicações ao mercado e à sociedade. Os haters se tornaram personagens cada vez mais corriqueiros nas vidas e sofremos a dor da invasão da vida pessoal, simplesmente por ser mulher. Para reverter essa situação, é necessário usar o sentimento de injustiça como combustível para falar: "Agora mesmo que não posso me calar". É preciso também usar os mecanismos de governança como garantia e permanência das conquistas, buscar parcerias, união de lideranças, sinergia de discursos e agendas porque isso não é uma moda, é um novo marco em nossa história.
Por fim, quero lhes dizer que sou Tarciana que começou, aos 6 anos, a vida na feira lá em Campina Grande, na Paraíba, mãe de 3 filhos e 3 pets, pessoa de bem com a vida, que adora aproveitar a vida com os amigos e dançar forró, que nunca se conformou com injustiças sociais, que não sonhava que poderia chegar a um palco como este, mas nunca desistiu de sonhar, estudar, trabalhar e cuidar das pessoas, que quero ver cada vez mais e mais mulheres alcançarem os topos de suas vidas! Essa nunca mudou. Me mantenho inspirada, todos os dias, pelas pessoas que passaram por mim e que ajudaram a construir o tecido da minha vida e, principalmente, levar esse legado adiante!”
![Tarciana Medeiros — Foto: Bruna Brandão](https://cdn.statically.io/img/s2-marieclaire.glbimg.com/A-uBayzA7252qC-F_3h23Jdh_aw=/0x0:1369x2048/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_51f0194726ca4cae994c33379977582d/internal_photos/bs/2024/K/S/JqcUhiRrAWYaBaNvJeIQ/dsc4268.jpg)
Sobre a 10ª edição do Power Trip Summit
O principal encontro de líderes mulheres do Brasil, o Power Trip Summit, promovido por Marie Claire com patrocínio master do Banco do Brasil, patrocínio de L’Oréal Paris, Vivo e Dove, apoio do Magalu, Musquée, Mastercard, Liftera e MSD, parceria educacional da MUST University, apoio institucional do Instituto Inhotim, participações de Oshadi e Dior e parceria editorial da Pantys. Foi realizado nos dias 26, 27 e 28 de maio, no Hotel Fasano Belo Horizonte, em Minas Gerais.
Em sua 10ª edição, o evento aborda o tema “Visionárias” e reuniu na plateia executivas, CEOS e líderes da sociedade civil nos campos dos negócios, cultura, beleza, moda, política, ciência e tecnologia. O Instituto Inhotim, sede de um dos mais importantes acervos de arte contemporânea do Brasil e o maior museu a céu aberto do mundo, foi parte da agenda.