Comportamento
Por , redação Marie Claire — São Paulo

Você já ouviu falar sobre o termo boyceta? Ele viralizou nas últimas semanas depois que um corte de vídeo do rapper Jupitter Pimentel explicando sua identidade de gênero tomar as redes sociais. Em participação no podcast Entre Amigues, o paulistano disse ser uma pessoa transmasculina de gênero fluido e se identificou como boyceta.

"Entendo as nuances do gênero, para onde ele caminha. Ser boyceta me dá muita liberdade de expressar minha feminilidade quando eu quero e ter essa identidade meio ‘bicha’, que é muito bom. Meu gênero flui, dependendo do espaço”, conta o rapper.

O trecho da entrevista foi repostado pelo deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) em suas redes sociais com a legenda: "É melhor não". O parlamentar afirmou que "não tem mais dinheiro para pagar advogado", dando a entender que sua opinião geraria uma ação judicial.

Em dezembro de 2023, Ferreira foi condenado pela 10ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Minas Gerais por comentários transfóbicos feitos contra a deputada federal Duda Salabert (PSOL-MG). Na última semana, também proferiu falas transfóbicas contra a deputada Erika Hilton (PSOL-SP) e tornou-se alvo de representação no Conselho de Ética.

Rapper lamenta comentários ofensivos

Desde que o corte da entrevista de Jupitter viralizou, perfis conservadores passaram a compartilhar o vídeo, incentivando comentários transfóbicos. A repercussão foi tamanha que o termo boyceta chegou a figurar entre os assuntos mais comentados do X (antigo Twitter). “É a cultura do ódio ali. Quando eu vi o corte, até pensei que isso podia acontecer. Eu só não imaginava quem eram as pessoas que propagariam isso”, lamentou o rapper em entrevista com Marie Claire.

Por estar em um espaço seguro para debater sobre o assunto, ele não viu problemas em dialogar sobre uma vivência pessoal. “Geralmente, pessoas não binárias são invalidadas o tempo todo, e por isso acabam não expondo suas identidades em totalidade. Até porque, na maioria das vezes, são termos que permanecem ocultos na bolha não binária e, quando furam essa bolha, são alvos de ataques dos mais diversos tipos. Por isso, estava confortável em abordar o tema um pouco mais a fundo”.

Secretária da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), Bruna Benevides afirma que existe um contexto de ódio transfóbico nas redes sociais. “São milhares de comentários de ódio que radicalizam cada vez mais uma agenda na política da extrema-direita que é a transfobia. Tem sido prioritária sobretudo em qualquer debate público envolvendo agentes políticos e influenciadores".

“Acabou expondo a pessoa do Jupitter diretamente o colocando nesse lugar de ter a sua narrativa descredibilizada, de que aquilo não poderia ser aceito. É um processo que acontece em relação às pessoas trans, que é de criminalizar as nossas existências, as nossas potências e as constituições da nossa identidade sobretudo”.

Benevides aponta não ter nada de errado o rapper se afirmar boyceta. “O que a gente precisa buscar é que sua identidade seja assegurada, sem que ele seja atacado, violentado, exposto e ameaçado sobretudo em um contexto em que no Brasil hoje pessoas trans têm assegurado o direito à sua autodeterminação de gênero como um direito inalienável a partir do reconhecimento feito pelo STF no julgamento da ADI 4275, que garante a retificação de nome gênero, mas a partir da sua própria autodeclaração.”

“Nós estamos em um desafio de tirar as pessoas desse processo de despolitização e reposicionar a nossa luta no caminho daquilo que nós precisamos para trazer dignidade às pessoas trans”, declara.

O que é boyceta?

Boyceta é uma identidade que foge do binarismo de gênero, utilizada por indivíduos que se identificam com o gênero masculino, mas não com os estereótipos opressores da definição de um homem.

“Transmasculino é um termo que abrange várias possibilidades de ser trans alinhado ao masculino. E o termo boyceta vem num lugar de reivindicação mesmo, de ‘rasgar o véu’. É subversivo, ressignifica termos”, declarou Jupitter. Seu primeiro contato com a identificação aconteceu em 2017 durante a Batalha Dominação, uma batalha de rimas em São Paulo frequentada por mulheres, transmasculinos e não binários.

“Pessoas não binárias estão fora do espectro homem-mulher parcialmente ou totalmente, mas seus gêneros não estão dados. Muitas vezes precisamos buscar termos para melhor defini-los. Boyceta foi um termo que me abraçou em comunidade, no meio do rap, no berço do hip hop paulista, no largo São Bento.”

Foi a partir daquele espaço de troca dentro do rap que Jupitter passou a se reconhecer como uma pessoa trans. "É sempre um lugar de contestação, de você pesquisar e trocar sobre experiências. A partir daquele momento, a gente começou a questionar o nosso gênero também e outras pessoas trouxeram essas discussões. Foi ali que eu comecei a me entender como uma pessoa trans não binária".

A autoria da idealização do termo boyceta é dada a Roberto Chaska Inácio, um boyceta indígena e PcD ligado à cena rap paulistana. Inácio morreu em dezembro de 2022. Dois anos antes de sua morte, ele escreveu um texto em seu Facebook sobre a identidade de gênero.

Comecei o uso do termo com a ideia de não aversão à genital e o medo de que nossa genital nos tornassem menos homens. Eu falava sobre dar! Sim, dar! E que isso não afetava nossa masculinidade. Ser boyceta também me significava tentar ser o menos ‘macho’ possível. Boyceta é sobre minha feminilidade. [...] Nunca foi só sobre genital, nem sobre binaridade ou não binaridade. Boyceta reflete toda minha vida, minha vivência. Esse termo me trouxe conforto com meu corpo e mente, me fez me aceitar melhor. Me trouxe ao mundo”.

Entendendo a transmasculinidade

O relatório A dor e a delícia das transmasculinidades no Brasil: das invisibilidades às demandas divulgada pelo Instituto Brasileiro de Transmasculinidades (IBRAT) em 2021, diz que “nem todas as pessoas que foram designadas do ‘sexo feminino’ e não se identificam com o gênero feminino se identificam com a nomenclatura ‘homem trans’, e muitos não gostam de utilizar a categoria ‘homem’ para falarem sobre si”. É a partir disso que entra a nomenclatura “transmasculino”.

“As experiências trans não binárias, como as experiências trans de modo geral, apresentam-se de formas bastante diversas e se recriam e ressignificam a todo tempo. Estão conectadas à desidentificação com o gênero designado ao nascer, e a identificações e expressões de gênero que se recusam a enquadrar-se no modelo cisheterossexual”, explica o texto.

Ainda assim, observa-se que a existência dos transmasculinos não impede que muitos que se identificam através da denominação “homens trans” “tenham uma expressão de gênero menos binária, com deslocamentos dos estereótipos de gênero e diversificada.”

No acordo social firmado e resolução aprovada durante o I ENAHT (o 1° Encontro Nacional de Homens Trans ocorrido em 2015), no movimento transmasculino se entende por “homem trans” uma identidade política “que abarca todas as transmasculinidades (pessoas que foram designadas ao sexo feminino no nascimento, mas que não se identificam como mulheres cis).”

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