Comportamento
Por , redação Marie Claire — São Paulo (SP)


Mulheres estão desistindo tirar um ano sabático de relacionamentos e sexo — Foto: Getty Images
Mulheres estão desistindo tirar um ano sabático de relacionamentos e sexo — Foto: Getty Images

“Homem virou sinônimo de dor de cabeça para mim.” É assim que Felipa*, 39 anos, explica o motivo pelo qual, em pleno Réveillon em que celebrava a chegada do ano de 2024, decidiu tomar uma medida drástica para sanar o cansaço emocional dos relacionamentos: por um ano inteiro, ela não vai se relacionar nem transar com homens.

A ideia tem um quê de pouso forçado em sua vida. “Para mim, as férias dos homens eram necessárias. Um sabático no qual eu sequer pensaria na existência dessa categoria”, ela explica. Felipa nunca foi uma grande entusiasta do amor romântico, tampouco acredita nos ensinamentos que recebeu a vida toda sobre relacionamentos – que deve conhecer alguém, namorar, casar, ter filhos e viver em função de um cara.

Muito pelo contrário, se envolver com alguém sempre foi sinônimo de desgaste. “Namorei uma meia dúzia, e a verdade é que nunca fui exatamente feliz nesses processos. Primeiro porque um me traiu, depois porque outro foi abusivo, um outro foi ausente demais e por aí vai.”

Já tentou um relacionamento aberto? Claro que sim. Mas ao contrário da libertação que pensou que poderia encontrar, se deparou com mais do mesmo. Nenhuma experiência foi satisfatória. Depois de tanto dar com a cara no muro, recalculou a rota.

“Eu cansei”, diz. “Mas não é que cansei um pouquinho. Cansei demais. Perdi as esperanças que já não tinha e caí num limbo horroroso de me odiar por causa dos meus envolvimentos com homens. Resumindo muito, e depois de uma década de acompanhamento terapêutico, é tudo o que posso dizer.”

Felipa concedeu essa entrevista a Marie Claire horas antes do Carnaval começar no Brasil, uma época em que a libido rola solta e é possível beijar uma, duas, incontáveis bocas sem precisar de qualquer ligação emocional além do tesão. Enquanto a grande maioria das pessoas se preparam para dar de cara com algum gato para chamar de seu por cinco minutos (ou menos), ela está em paz. A ideia nem passa pela cabeça. “Por enquanto, nunca estive tão leve. Que venha a azaração carnavalesca privada de homens — só a ideia já me deixa empolgada.”

O ano sabático de homens que Felipa quer viver pode parecer uma medida drástica, mas faz parte de um fenômeno muito maior: o do descontentamento cíclico vivido por mulheres, sobretudo as que se relacionam com homens, devido aos padrões de comportamento tóxicos que experimentam por parte deles.

Em 2019, esse desconforto chegou a ganhar o nome de heteropessimismo pela mente do escritor queer Asa Seresin, que estuda sexualidade e gênero. A definição foi feita no artigo On Heteropessimism, que ficou famoso depois de ser publicado no The New Inquiry.

“Heteropessimismo consiste nas desafiliações performativas com a heterossexualidade, geralmente expressas na forma de arrependimento, constrangimento ou desesperança sobre a experiência heterossexual”, explica Seresin. Justamente os sentimentos que fizeram Felipa tirar suas férias.

O modelo defasado das regras que ditam como um relacionamento deve ser – com quem se relacionar e quais papeis devem ser preenchidos, quase sempre determinados de maneira desigual –, bem como a idealização do amor e do sexo e uma cultura que pontua que nossa vida só vale a pena ser vivida se houver uma outra metade da laranja, também é o que torna essa pressão insuportável. Ser a própria laranja inteira nunca será suficiente.

Em outro lugar do mundo, outra mulher teve a mesma ideia que Felipa. Em outubro de 2023, a comediante estadunidense de 27 anos Hope Woodard também decidiu tirar seu sabático de homens. Não só: ela, que acumula meio milhão de seguidores no TikTok e Instagram, deu um nome ao período. Ao contrário de celibato, ela está vivendo um “boysober” – uma mescla das palavras “garoto” (“boy”) e “sobriedade” (“sober”).

O termo virou nome de peça: ela está em cartaz com um show de comédia em um bar queer chamado Purgatory, no Brooklyn, em Nova York, para contar a uma plateia repleta de mulheres e pessoas não binárias sobre sua decisão. Numa reportagem feita sobre o espetáculo no The New York Times, é explicado por Woodard que seu “boysober” começou depois que ela se deu conta de que viveu a vida inteira (praticamente, desde o jardim de infância) entre namoros e relacionamentos, ou mesmo em busca de sexo.

Hope Woodard, assim como Felipa, também cansou. E muito. Ela deixa isso explícito quando narra algumas gotas d’água que viveu. Como quando um homem a chamou para um date no Halloween e convidou uma segunda mulher para ir junto, sem avisá-la. Ou ainda quando um pretendente deixou pelos pubianos no vaso sanitário de sua casa. E teve também a vez em que um homem consideravelmente ofereceu a ela stickers de queijo que estava um bom tempo sem refrigeração, guardados na mochila dele.

Se você esteve circulando nas redes sociais nos últimos dias, viu que estes comportamentos masculinos estão longe de serem incomuns: no TikTok, brasileiras passaram a mostrar trechos de suas piores conversas com homens na trend “pov:homens”.

“Cara, você é muito especial, sabia? Eu só gosto de loira e eu escolhi conversar com você mesmo sendo morena”, foi um dos papos que mais bombaram na rede social. “Ela implorou para ficar comigo, é muito feia. Fiquei com pena, mas eu te amo. Quer conhecer minha mãe? [...] Você está sendo muito insegura”, um homem orgulhosamente diz em outro, achando que a combinação de palavras seria uma boa ideia.

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A frequência gritante de comportamentos como esses, que parecem vir sem muito caso pensado e com muita espontaneidade, é que choca as mulheres – e, nos casos de Felipa, Hope e tantas outras que talvez nem imaginemos a quantidade decidiram se afastar. Ao menos por agora.

O descontentamento tem raiz direta na maior possibilidade de mulheres poderem decidir sobre suas próprias vidas – inclusive, o que não querem para elas mesmas. Se antes as mulheres eram relegadas apenas ao papel de cuidadoras enquanto os homens provinham financeiramente, agora a realidade é outra: elas são mais livres para tomarem decisões sobre seus corpos, libertar seus prazeres ou mesmo conseguem abdicar de dinâmicas sociais e de relacionamento falidas quando quiserem.

Ao apresentar “Boysober”, Hope Woodard deixa claro que não torce o nariz para sexo – ela usa uma camiseta que diz “Eu amo orgasmos femininos” nas apresentações – e faz cair por terra comentários de que é uma amargurada por não ter dado certo em relacionamentos amorosos.

O interesse da comediante com seu ano sabático é de que, ao se afastar, ela consiga desaprender os padrões não saudáveis (e medíocres) que os homens adotam em relacionamentos ou mesmo quando há sexo casual – que, por gerações, foram normalizados e empurrados goela abaixo das mulheres. “Talvez sejamos uma das primeiras gerações de mulheres em que não precisamos estar conectadas com um homem para energia, poder ou sei lá o que.”

*O nome foi alterado.

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