Neste Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes, marcado neste sábado (18), Xuxa compartilhou com Marie Claire um recado de alerta para pais, mães e responsáveis sobre a importância de identificar os sinais para salvar vidas.
A própria apresentadora e empresária, hoje com 61 anos, foi vítima de abuso sexual infantil, e também relembra sobre as dores que carrega consigo desde então.
O Brasil ocupa o 11º lugar no ranking de combate à violência sexual contra crianças. É o que aponta a pesquisa Out of the Shadows (Fora das Sombras), produzida pela revista britânica The Economist, divulgada em maio de 2023. O país é o mais bem colocado da lista no território da América Latina e do Caribe.
Mesmo assim, os índices de incidência em solo brasileiro são alarmantes. De acordo com a 17ª edição do Anuário de Segurança Pública, seis crianças ou adolescentes são vítimas do crime a cada uma hora – por ano, isso resulta em 51.971 vítimas entre zero e 17 anos.
Uma projeção do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) indica que apenas 8,5% dos casos são denunciados. Além disso, nos casos em que a vítima tem entre zero e nove anos, 68% dos autores do crime são familiares e pessoas conhecidas, aponta boletim divulgado pelo Ministério da Saúde em maio de 2023.
Xuxa se tornou uma das vozes brasileiras mais proeminentes no combate ao abuso e exploração sexual infantil. Ela se abriu publicamente sobre o assunto pela primeira vez em 2012, em entrevista ao Fantástico, e o abordou de maneira franca em sua autobiografia intitulada Memórias (ed. Globo Livros, R$ 22,99, 272 págs.), lançada em 2020.
A seguir, leia o relato de Xuxa para a Marie Claire.
"Quando eu tinha por volta de três ou quatro anos – ou era cinco ou seis anos, não sei bem –, sofri meu primeiro abuso. Não me lembro direito, claro que não, mas só soube quando parou, quando eu tinha 13 anos. Foram incessantes abusos que sofri por homens e mulheres, amigos do meu pai, pessoas muito próximas da família e até primos distantes.
O que eu gostaria de falar para todos é que um abusador, um pedófilo, ele chega como um amigo muito próximo a alguém, que brinca, faz cosquinha, fala carinhoso. É aquele cara muito legal ou aquela menina muito bacana que está sempre disposta a dar banho, brincar de médico, de vampiro, de pique-esconde ou Gato Mia. É aquela babá quase perfeita.
E aí é que acontece.
Gostaria muito que as mães, os pais e responsáveis prestassem muita atenção no que as crianças têm a dizer com o corpo. Às vezes ele não diz nada, mas aí é que ela está gritando, pedindo socorro.
Prestem atenção nessas amizades muito próximas e muito carinhosas com seus filhos. E ouça, ouça o que ele tem para dizer. Às vezes, sem palavras, essas crianças dizem muita coisa.
E se você, por acaso, vir ou ouvir alguma coisa – mesmo que não seja da sua família e estiver perto –, também denuncie. É muito importante.
Hoje, sou uma mulher que não posso dizer que superei, mas posso dizer que me acostumei com essa dor e com tudo que vivi e passei. Gostaria muito que, depois de ler esse relato, vocês consigam salvar, observar e não deixar que isso aconteça a, ao menos, uma ou duas crianças agora.
Meninos e meninas precisam das nossas ajudas. Meninos e meninas precisam que a gente esteja sempre atento por eles. Muito obrigada.”
Como denunciar abuso sexual infantil
- Disque 100: o canal recebe denúncias anônimas de violações de direitos humanos;
- Ligue 180 - Central de Atendimento à Mulher: o número de telefone recebe denúncias anônimas, inclusive de violências sexuais contra crianças e adolescentes. Também é possível denunciar pelo WhatsApp (61) 9610-0180;
- 190 - Polícia Militar: deve ser acionada quando a criança ou adolescente corre risco imediato;
- 192 - Samu: para quando há necessidade de socorro urgente;
- Delegacias especializadas: é possível se dirigir a Delegacia de Defesa da Mulher (DDM). Se não houver no seu município, é possível fazer boletim de ocorrência em uma delegacia de polícia convencional;
- Ministério Público;
- Conselho tutelar: neste caso, os conselheiros vão até a residência verificar a ocorrência, e podem chegar com amparo policial e requerer abertura de inquérito;
- Profissionais de saúde: em hospitais e postos de atendimento, médicos, psicólogos e enfermeiros são alguns profissionais que podem notificar suspeita de violência sexual compulsoriamente. Neste caso, a polícia e o Conselho Tutelar podem ser notificados.