De acordo com um levantamento da Antra (Associação Nacional de Travestis e Transsexuais), divulgado nesta segunda (29), o Brasil teve 145 transexuais e travestis assassinados em 2023, um aumento de 10% em relação a 2022 - quando 131 casos foram contabilizados -, e que totaliza 12 assassinatos de pessoas trans e travestis por mês em 2023.
Pelo 15º ano consecutivo, o Brasil lidera o ranking mundial de assassinatos: a maioria das vítimas (94%) eram mulheres trans/travestis, preta ou parda (72%). 90 vítimas (81%) tinham entre 13 e 39 anos.
Com 19 casos, São Paulo foi o estado com mais assassinatos, com aumento de 73% em relação a 2022. Em seguida, o Rio de Janeiro registrou 16 casos, já o Ceará aumentou de 11 para 12 casos, assim como o Paraná. Nos estados do Acre, Roraima, Santa Catarina, Sergipe e Tocantins, não foram encontrados casos de assassinatos no ano de 2023.
65% (90 casos) aconteceram fora das capitais dos estados, em cidades do interior. De acordo com o relatório escrito por Bruna Benevides, o perfil das vítimas é parecido: "57% dos assassinatos foram direcionados contra travestis e mulheres trans que atuam como profissionais do sexo, as mais expostas à violência direta e que vivenciam o estigma que os processos de marginalização impõem a essas profissionais."
O dossiê destaca pontos em comum entre as vítimas: "A maioria é negra, empobrecida e reivindica ou expressa publicamente o gênero feminino; Estéticas e aparências não normativas são fatores de alto risco; Os crimes ocorrem majoritariamente em locais públicos, principalmente, em via pública; 79% das vítimas tinham menos de 35 anos de idade."
Cerca de 16% dos casos notificados não tiveram informações sobre o tipo de ferramenta/meio utilizado para cometer o assassinato. "Dos 122 casos restantes, 56 (46%) foram cometidos por armas de fogo; 29 (24%) por arma branca; 12 (10%) por espancamento, apedrejamento, asfixia e/ou estrangulamento e; 25 (20%) de outros meios, como pauladas, degolamento e corpos carbonizados", aponta o relatório. Em 54% dos casos, os assassinatos foram apresentados com requintes de crueldade.
Como conclusão, o relatório informa que "uma pessoa transfeminina (travesti ou mulher trans) tem até 32 vezes mais chances de ser assassinada". O Antra é, no momento, a única fonte de dados sobre violência transfóbica no país e o dossiê é feito anualmente pela associação, que divulga as informações na véspera ou no Dia da Visibilidade Trans.