Dengue: sua boca ficou amarga e o paladar mudou? Entenda porque isso acontece

O início do quadro de dengue fez Sousa pensar que estava com Covid-19 ou até mesmo com uma gripe forte. “Eu pratico corrida e, durante o exercício, notei que estava mais ofegante e com dificuldade para respirar. Além disso, sentia dor nos joelhos e uma leve dor de cabeça. Depois, começou a arranhar a garganta e uma leve febre”, relata.

Ao procurar pelo pronto-atendimento, tanto a Covid-19 quanto a gripe foram descartadas. Ao mesmo tempo, os sintomas associados à dengue começaram a ficar mais fortes, principalmente a dor de cabeça e a febre alta.

“O que me deixou bastante preocupada também foi a minha pressão arterial. Eu fui internada com a pressão 19 por 11”, lembra. A médica que atendeu Souza explicou que, embora o cenário fosse sério, o aumento da pressão arterial se explicada pela dor sentida nos quadros de dengue.

Outro sintoma importante que a vendedora sentiu foi enjoo. Com náusea, ela não conseguia se alimentar corretamente, o que a fez emagrecer 5 quilos em uma semana.

“Outro sintoma, que é pouco falado, é sobre a boca amarga. Tudo que você come, amarga. Além disso, os alimentos ficam muito salgados e a água, doce. A primeira vez que senti, pensei que era o copo e cheguei a trocá-lo. Era como se eu tivesse colocado adoçante na água”, lembra.

O período agudo da infecção não foi fácil para a vendedora, mas o pós-dengue foi ainda mais desafiador. “Até algo simples, como lavar a louça, eu não conseguia. Tinha que parar de tanto que minhas mãos e o pulso doíam. Não conseguia ficar em pé por muito tempo por causa do formigamento nas perna e veio a coceira na palma das mãos e dos pés”, relata.

O psicológico de Souza também ficou bastante abalado. Ela passou a ter crises de ansiedade com sensações de angústia e solidão que estavam presente mesmo sendo assistida de perto pela família.

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Hoje, dois meses após o pico da dengue, a vendedora ainda sente uma forte dor de cabeça e não conseguiu voltar a praticar exercício físico como fazia antes devido a sensação de fraqueza que permaneceu depois da infecção.

A infectologista Mariângela Resende, diretora da Sociedade Paulista de Infectologia (SPI), explica que a dengue é uma doença sistêmica, logo, é esperado que ela afete o organismo como um todo. No entanto, ainda não há uma explicação consolidada do porquê há alterações no paladar quando a pessoa é infectada pelo vírus transmitido pelo mosquito Aedes Aegypti.

“O que pode acontecer é que, com a dengue, há um extravasamento de líquido para fora dos vasos. Nesse sentido, vai ocorrer uma desidratação e a pessoa pode sentir esses sintomas em decorrência de estar perdendo água”, esclarece a especialista.

Outra possível explicação para a mudança no paladar está relacionada ao fato de que a dengue afeta o fígado da pessoa. Não por acaso, há pacientes que desenvolvem hepatite em decorrência da infecção viral. Tudo isso contribui para as alterações no paladar no curso da doença.

Além da sensação da água doce e dos alimentos salgados, outro sintoma da dengue que tem repercutido nas redes sociais é a percepção de que tudo está com cheiro de água sanitária. As explicações para esse fenômeno ainda não são consolidadas.

O motivo mais comum é que a infecção tende a modificar o odor do indivíduo e com a dengue não é diferente. Uma pesquisa conduzida em 2022 por cientistas da Universidade de Tsinghua, em Pequim, publicada no periódico Cell, mostra bem isso.

A partir de testes em camundongos, eles descobriram que os vírus tanto da dengue quanto do zika alteram o cheiro do corpo humano, tornando-o ainda mais atraente para o mosquito transmissor das doenças. Essa atração acontece porque quem está infectado produz mais acetofenona. Isso já tinha sido descoberto em relação a malária.