Ezabely Lopes, 27, decidiu trazer sua história para o TikTok a fim de alertar outras pessoas sobre sintomas persistentes que podem ser indícios de câncer e valem ao menos a investigação. A modelo e estudante de enfermagem tratou uma tosse contínua como se fosse alergia e, mais tarde, refluxo. Mas, na verdade, ela estava com linfoma de Hodgkin.
“Tudo começou em junho de 2023, no inverno. Eu passei a ter uma tosse que foi interpretada como alérgica. Fiz uma consulta com a médica da UBS e ela me passou azitromicina, só que não melhorou”, lembra a moradora de Viçosa, Minas Gerais.
A segunda explicação que tentaram dar à tosse de Lopes era devido a um quadro de refluxo. Isso porque a modelo sentia a tosse piorar após comer. “Comecei a tratar com domperidona e, mesmo assim, não passava”, conta. Ela ainda foi submetida a exames referentes a tuberculose, mas que vieram negativos.
“Continuei tratando como tosse alérgica e refluxo durante seis meses”, lembra. O cenário só mudou quando identificou um nódulo no pescoço que ficou evidente após a modelo perder cinco quilos de um mês para o outro.
Além do emagrecimento repentino, que é um sintoma associado ao câncer, ela apresentou outros indícios da doença, mas que passaram desapercebidos na época. “Como uma coceira enorme na perna e muito suor noturno”, exemplifica.
Lopes foi submetida a um ultrassom e, no exame, constatou-se que ela tinha três nódulos patológicos. Posteriormente, a modelo passou por uma tomografia, que revelou uma massa tumoral de 18 centímetros no mediastino, espaço existente entre os dois pulmões, no centro do tórax.
Ao passar pela biópsia, a modelo foi informada que a massa tumoral de 18 centímetros era, na verdade, linfoma de Hodgkin.
![A modelo tenta manter a positividade mesmo durante um tratamento difícil — Foto: Arquivo pessoal](https://cdn.statically.io/img/s2-marieclaire.glbimg.com/qtdi0B1P9VeyVFaV3A_s5mQiwHc=/0x0:2041x1148/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_51f0194726ca4cae994c33379977582d/internal_photos/bs/2024/a/h/5qqB2PQ6Wra6nQcUIcBA/ezabely-lopes-academia.png)
O que é linfoma de Hodgkin?
“O linfoma de Hodgkin é um tipo de câncer de células do sangue. Ele se desenvolve principalmente nos gânglios. Ainda assim, ele pode acometer outros locais”, explica o hematologista Pedro Neffá, do Hospital São Luiz Itaim, da Rede D’Or.
O especialista ainda pontua que o linfoma de Hodgkin representa aproximadamente 10% de todos os tipos de linfoma.
“O principal sintoma associado à doença é o aumento dos gânglios”, explica a hematologista Larissa Teixeira, do Hospital Israelita Albert Einstein. A região do pescoço e do tórax, como aconteceu com Lopes, são as mais acometidas em cerca de 60% dos pacientes.
Ainda de acordo com Teixeira, outros sintomas podem ser observados, como:
- Sudorese noturna, a ponto de a pessoa encharcar a roupa de cama ao dormir;
- Febre diária sem causa aparente;
- Perda de, pelo menos, 10% do peso do indivíduo em um período de seis meses;
- Coceira pelo corpo.
Tratamento para linfoma de Hodgkin
“O tratamento inicial do linfoma de Hodgkin quase sempre inclui uma combinação de quimioterapia e eventualmente radioterapia. É uma doença que pode ter indicação de transplante de medula em casos de recaída. A imunoterapia tem papel importante também na piora ou retorno da doença”, detalha Neffá.
Lopes, por exemplo, tem seis ciclos de quimioterapia previstos no tratamento inicial contra o câncer. Cada ciclo é constituído de duas sessões de quimio. No momento, ela está indo para a décima sessão, no quinto ciclo.
![Lopes na primeira sessão de quimioterapia — Foto: Arquivo pessoal](https://cdn.statically.io/img/s2-marieclaire.glbimg.com/Hi_DZDNS-X7ocyZz5CY0dJ_m25M=/0x0:2722x1531/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_51f0194726ca4cae994c33379977582d/internal_photos/bs/2024/H/u/pALDn0SOqVh7L4Er7R5Q/ezabely-lopes-quimio.jpg)
“Depois das 12, eu repito o PET Scan e vejo se ainda tem atividade tumoral ou não dentro da massa. A partir disso, a médica e sua equipe decidem se vai precisar complementar o tratamento com radioterapia ou não”, detalha a modelo.
Lopes comenta que quimioterapia a faz sentir enjoos fortes, muita fraqueza, dores no local da aplicação da medicação e perda de força nas mãos e nas pernas. Ainda assim, ela tenta se manter positiva nessa luta.
“Eu tenho tentando ressignificar o câncer em si, porque é um processo naturalmente muito difícil. Para isso, não tenho deixado de fazer as minhas atividades do dia a dia, conforme é possível e seguro. Hoje, a medicina evoluiu a tal ponto que temos um percentual de cura. É importante se agarrar a isso. Acreditar que tudo isso é passageiro é a chave principal”, reflete.
![Lopes raspou a cabeça após a quimioterapia — Foto: Arquivo pessoal](https://cdn.statically.io/img/s2-marieclaire.glbimg.com/_I5X2Rr5RDfRW30iGXxBJv40u4s=/0x0:922x518/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_51f0194726ca4cae994c33379977582d/internal_photos/bs/2024/Y/0/dvqyOFSOCM8zdTaS48dg/ezabely-lopes-cabelo.png)
O hematologista do Hospital São Luiz Itaim enfatiza que o linfoma de Hodgkin tem boas taxas de resposta e cura, até mesmo em que tem a doença em estágio avançado.
“A remissão pode chegar a mais de 80% após a primeira linha de tratamento nessa população com a doença mais avançada, com sobrevidas maiores de 90% em 6 anos de seguimento. Para pacientes com doença localizada, essas taxas são ainda melhores” pontua Neffá.