Saúde

Por Alice Arnoldi, Colaboração Para Marie Claire — São Paulo

A estudante de psicologia Vitória Bez de Souza, de 19 anos, tinha apenas 11 quando foi diagnosticada com anorexia nervosa pela psicóloga que a acompanhava na época. Ao longo da adolescência, seu corpo magro despertava elogios. O que muitos não sabiam era que a busca incessante de Vitória pela magreza quase a levou à morte.

“Anorexia nervosa é um transtorno psiquiátrico em que o indivíduo apresenta uma necessidade incessante de controlar o peso e a forma do seu corpo, adotando um padrão alimentar bastante restritivo, seja em termos de quantidade seja de qualidade”, explica a psiquiatra Bruna Boaretto, idealizadora do Centro Especializado em Transtornos Alimentares (Ceta).

Junto com as dietas extremas, a pessoa também recorre a métodos compensatórios, como atividades físicas intensas. “Na academia eu treinava três vezes por semana, cerca de uma hora por dia. O que eu fazia de forma demasiada era caminhar, todos os dias. Não sei nem quantas horas eu já cheguei a ficar andando”, lembra Vitória.

A situação era tão delicada que a estudante de psicologia mentia para a mãe sobre o que estava fazendo. Ela dizia que ia para a casa de uma amiga ou fingia sair para comprar algo e aproveitava a desculpa para caminhar por longas horas.

A prática da atividade física era tão intensa que Vitória desenvolveu problemas nos ossos, nas articulações e parou de crescer aos 11 anos. Já a desnutrição profunda fez a estudante de psicologia ter amenorreia (pausa da menstruação) por dois anos e desenvolver pressão baixa, o que desencadeia episódios de desmaio até hoje.

As causas da anorexia nervosa

A psicóloga Teresa Muller, especializada em transtornos alimentares, explica que a anorexia nervosa é multifatorial, ou seja, diferentes fatores contribuem para o seu aparecimento.

Vitória teve diversos gatilhos, como o bullying sofrido na infância devido ao seu corpo e a obsessão da mãe e da tia por dietas restritivas para emagrecer.

“Além do fator genético, em que filhos de mães com transtornos alimentares têm maior probabilidade de desenvolvê-los, os comportamentos alimentares maternos influenciam como o filho come”, explica a psicóloga.

Ao ver uma mãe constantemente preocupada em emagrecer e vivendo de dietas, o filho pode acabar entendendo que a magreza extrema é o ideal e a restrição alimentar é uma forma aceitável de lidar com a alimentação e com os próprios sentimentos.

No auge da magreza, Vitória tinha dificuldade para ficar de pé, falar, ouvir e enxergar — Foto: Arquivo pessoal
No auge da magreza, Vitória tinha dificuldade para ficar de pé, falar, ouvir e enxergar — Foto: Arquivo pessoal

A recaída mais difícil

Desde o diagnóstico aos 11 anos, Vitória tem passado por subidas e descidas em relação a anorexia nervosa. Aos 16 anos, ela vivenciou uma das crises mais difíceis do transtorno alimentar.

A adolescência costuma ser um período delicado do transtorno alimentar porque é quando meninas passam por mudanças hormonais e principalmente corporais, ganhando curvas, bumbum e seios.

Era março de 2020 quando a estudante de psicologia decidiu que queria emagrecer porque havia passado o verão se sentindo gorda. Só que a pandemia causada pela Covid-19 impediu suas idas à academia. A saída encontrada por ela foi restringir sua alimentação.

“Eu acreditava que os treinos em casa não queimavam tantas calorias quanto na academia. Então, comecei a comer extremamente pouco, menos do que aos 11 anos. Nessa época também comecei a contar calorias”, lembra Vitória.

Ela também se isolou socialmente. “Passava dias trancadas no meu quarto. Comia no escuro, porque tinha muita vergonha. Apesar de comer ser o meu maior sonho, era meu maior medo”, desabafa.

Teresa Muller explica que o pavor da comida é tanto que a pessoa evita chegar perto dela por acreditar que vai acabar engordando. Já em outros momentos, ela pode ter comportamentos ritualísticos em relação à comida. Vitória, por exemplo, cheirava os alimentos para amenizar a fome.

“Em setembro de 2020, eu já não era mais reconhecível. Realmente parecia um cadáver”, lembra a estudante de psicologia. Ela começou a ter dificuldade para fazer o básico, como ficar de pé, falar, ouvir e enxergar.

Vitória também desenvolveu lanugo - uma penugem que surge pelo corpo devido à porcentagem baixa de gordura do organismo, com o intuito de protegê-lo da perda excessiva de calor - e passou a ter muita queda de cabelo.

Ainda que ela tivesse acompanhamento psicológico e nutricional nesse período, ela sentia que nada resolvia.

Sua relação com a comida só começou a mudar quando seus pais disseram que iriam interná-la no começo de 2021, após ela perder cerca de 20 quilos.

Quando perdeu 20 quilos, os pais decidiram interná-la — Foto: Arquivo pessoal
Quando perdeu 20 quilos, os pais decidiram interná-la — Foto: Arquivo pessoal

Pequenos passos

Embora a anorexia não tenha cura, a pessoa pode ter remissão dos sintomas. “Eu ainda não consegui isso. Mas atualmente tenho uma relação mais estável com a comida e consigo me alimentar sem sentir tanta culpa”, explica Vitória.

A sua relação com o exercício físico também está sendo construída. Ela diz que ainda há momentos em que se sente culpada por não ter ido treinar, mas não se pune no dia seguinte com uma atividade física mais intensa.

Essas conquistas são possíveis por meio de um tratamento multidisciplinar que, segundo Bruna Boaretto, deve incluir psiquiatra, psicólogo e nutricionista.

“Na anorexia nervosa, a pessoa tem um estado de desnutrição crônica. Logo, o acompanhamento nutricional é importante para que ela volte a ser saudável”, explica a nutricionista Débora Marcili, especializada em transtornos alimentares com abordagem junguiana.

A mudança na alimentação do paciente com anorexia nervosa é gradativa. Pode começar, por exemplo, com refeições menores, só que bem distribuídas ao longo do dia, e substituições inteligentes. O principal objetivo desse processo é fazer o indivíduo perder o medo de comer.

“A pessoa vai aprender a ressignificar seu padrão alimentar. Ela vai ter seus momentos de comer alimentos que não são nutricionalmente saudáveis, mas que emocionalmente e psicologicamente devem fazer parte do processo, por exemplo”, detalha a nutricionista.

A importância de celebrar a jornada

Fazer parte dos 4,7% brasileiros que sofrem com distúrbios alimentares, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), não é fácil. Mas Vitória encontrou uma forma de trazer um novo significado para sua luta contra a anorexia nervosa. Aos 19 anos, ela decidiu ajudar outras pessoas que vivem o mesmo que ela por meio da sua profissão.

“Estar cursando uma faculdade de psicologia é muito satisfatório, porque eu sei que eu poderia não estar aqui. Eu peguei todo aquele sofrimento e transformei em algo que quero que se torne o objetivo do meu trabalho: o tratamento de transtornos alimentares”, diz.

Vitória também decidiu levar sua história para as redes sociais, onde divide o que faz para estabelecer uma relação mais saudável com a comida na prática e conscientizar mais pessoas sobre os perigos da busca incessante pela magreza, enraizada socialmente, principalmente entre as mulheres.

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