Retratos

Por Débora Miranda

“Acordei com os tremores, peguei minha filha de 4 anos e me joguei no canto do meu quarto, entre a cama e a cômoda.” A pedagoga brasileira Eliane Monteiro Pereira, 45 anos, vive em İskenderun, na província de Hatay, cidade atingida pelo terremoto que já deixou mais de 5.000 mortos na Turquia.

Ela se mudou para o país há seis anos, ao se casar com o turco Murat Şanlı, com quem tem a pequena Melissa, que completará 5 anos em abril. Quando os tremores diminuíram, os três conseguiram se agasalhar e fugir do apartamento, que não desabou, mas ficou com rachaduras. E para onde, por enquanto, eles não podem voltar.

“Devia estar uns 4º C, chovia muito e fazia frio. As pessoas estavam na rua, correndo, desesperadas, sem saber o que fazer. Fiquei imaginando quem estava dormindo e não teve tempo de sair… Está sendo tudo muito difícil”, contou, em entrevista a Marie Claire.

“Minha filha me dizia: ‘Mamãe, não olha para o prédio desabando para você não ficar triste. Olha para mim que você vai ficar feliz’.”

Leia, abaixo, o depoimento de Eliane.

“No momento em que começou o terremoto, a gente estava dormindo. Acordei com o tremor. A gente vinha fazendo treinamento para isso há uns dois meses, e eu ficava pensando onde seriam os lugares seguros da minha casa para eu encontrar o triângulo de segurança –acho que é esse o nome. Na hora, só me veio isso à cabeça. Peguei minha filha, me joguei no canto do quarto, entre a cômoda e a cama, onde formava esse triângulo. Peguei ainda uma garrafa de água que estava em cima da cômoda e fiquei esperando passar. Meu marido tinha levantado e veio correndo também.

Parece que foi um minuto de tremor, mas a sensação era de que não acabava nunca. Foi terrível! A gente deitado ali. Quando diminuiu –porque não parou, só diminuiu–, eu peguei uma jaqueta de frio para mim e para a minha filha, e saímos de pijama, com algumas mantas, porque estava muito gelado. Descemos correndo a escadaria, já estava sem energia elétrica, e quando chegamos à rua vimos as pessoas… Todo mundo gritando, desesperado, de pijama. Tinha gente só de meia naquele frio!

Saímos do nosso apartamento, que teve pequenas avarias e rachaduras, entramos no carro e nos afastamos dali, que é uma região de muitos prédios altos. Ficamos com medo que desabassem. O asfalto começou a ceder, a abrir. Passamos perto de um hotel muito famoso e tradicional da cidade, metade dele tinha desabado. Fiquei imaginando que as pessoas estavam dormindo naquela hora. O que aconteceu?

Cena de destruição em Hatay — Foto: Getty Images
Cena de destruição em Hatay — Foto: Getty Images

Fomos para um posto de combustível, porque era uma área aberta e tinha gerador. Ficamos a manhã toda. Não havia água e não dava para usar o banheiro, mas tinha comida, graças a Deus. À tarde, teve outro tremor forte, nos jogamos no chão, foi terrível.

A minha filha até que tem reagido bem. Ela não chora nem está com medo. Melissa é uma graça, ela é a razão de eu estar aqui, é o amor da minha vida. Como os treinamentos para terremoto passavam muito na TV, a gente sempre conversou sobre o assunto, e isso foi fundamental para enfrentar esse momento. Ela não ficou desesperada, não gritou. Quando começou o sismo de madrugada, eu falei: ‘Filha, agora a gente vai fazer aquele treinamento, lembra? De deitar no chão e ficar abraçadinha’.” Ela veio comigo na boa, ficou quietinha.
— Eliane Monteiro Pereira, pedagoga brasileira

Tudo o que eu pedi para ela fazer ela fez comigo, bonitinha, sem desespero. E quando saímos de casa, eu comecei a ver os prédios desabando, fiquei nervosa, falei ‘Meu deus do céu!’. Ela me abraçou e falou: ‘Mamãe, não olha para lá. Não olha para o prédio desabando para você não ficar triste. Olha para mim que você vai ficar feliz’.

Ela é demais. Claro que pergunta o porquê do terremoto, o que está acontecendo, mas a gente conversa bastante com ela, e isso foi fundamental para o momento que estamos vivendo agora.

Saímos da cidade e estamos numa casa a 400 km de lá, em Taşucu, que é um vilarejo de Silifke, na província de Mersin. Um amigo tinha essa casa e nos deixou ficar lá. Não podemos por enquanto voltar para casa, estamos esperando o aval do governo e eles mandaram mensagem pedindo para todos que puderem sair da região. Teve um outro tremor agora à tarde, aqui onde estamos, e ficamos sem eletricidade.

As mulheres aqui na Turquia têm uma qualidade que admiro demais: elas são unidas, muito família, brigam e se amam, cuidam de todos. Quando estávamos no posto, muitas traziam sopas para alimentar quem tinha saído de casa. Essa ajuda é muito importante. Tem organizações ajudando também. A prefeitura abriu escolas e espaços públicos para as pessoas se abrigarem. Há hotéis também recebendo as pessoas de forma gratuita. A Turkish Airlines está vendendo passagens a preços promocionais para quem quiser ir embora.

Mas é aquilo: um caos, cenário de guerra. As pessoas estão aos poucos se organizando. Mas eu acredito que vá precisar de muito mais ajuda, porque ainda tem bastante gente lá, soterrada, esperando ser resgatada. Hoje recebemos mensagem da escolinha da minha filha contando sobre a família de uma das crianças. O menino, graças a Deus, foi retirado dos escombros, mas tinha familiares ainda esperando resgate.

O governo brasileiro também entrou em contato conosco e deixou um número de celular à disposição. Perguntaram se estávamos precisando de alguma coisa. A gente tem um grupo de WhatsApp só de mães que moram aqui na Turquia. A gente tem se ajudado bastante, tem sido uma ferramenta de apoio, conversamos bastante.

Graças a Deus a gente teve como sair e ficar em um lugar seguro. Passei a noite agradecendo por estar viva, por ter uma cama para deitar. Tanta gente que eu conheço está lá, perdeu tudo. O cenário é aterrorizante. Tem muitos pontos históricos destruídos, tudo desabado. A situação do país é assustadora. É real.”

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