Política

Por Mariana Gonzalez, em colaboração para Marie Claire — São Paulo


Beatriz Matos fala de cargo no Ministério dos Povos Indígenas e memória do marido, o indigenista Bruno Pereira — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal
Beatriz Matos fala de cargo no Ministério dos Povos Indígenas e memória do marido, o indigenista Bruno Pereira — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Quando a professora de Antropologia e Etnologia Indígena da Universidade Federal do Pará (UFPA) Beatriz Matos recebeu o telefonema da ministra Sônia Guajajara, em janeiro, convidando-a para ocupar o cargo de diretora do Departamento de Proteção Territorial de Povos Isolados e de Recente Contato, do Ministério dos Povos Indígenas, não pensou duas vezes antes de dizer “sim” – afinal, há 20 anos, ela trabalha e milita pela demarcação de terras.

Há quase um ano, perdeu o marido, o indigenista Bruno Pereira, para esta luta, e vê neste trabalho uma oportunidade de dar continuidade ao trabalho que fizeram juntos.

Fez apenas uma ressalva: “Ministra, sou viúva e tenho dois filhos pequenos, o trabalho precisa ser compatível com os cuidados com eles”. Ela é mãe de Pedro Uaqui, de 4 anos, e Luís Vissá, de 2 anos. Mas foi tranquilizada ao ouvir que quase todos os cargos de liderança no Ministério são ocupados por mulheres que têm filhos, incluindo a própria Sônia Guajajara.

“As mulheres indígenas estão acostumadas a realizar as tarefas mais difíceis e encampar as lutas políticas mais importantes carregando os filhos no colo. Isso faz toda a diferença. Quando falo que preciso buscar meus filhos na escola ou que preciso levá-los ao médico, não vejo nenhuma cara feia pra mim, diferente do que acontece em outros ambientes de trabalho. É muito bom ser chefiada por mulheres, sobretudo mulheres indígenas”, fala.

“Minhas companheiras de trabalho infelizmente também sabem o que é perder um pai, um irmão, um marido para a luta em defesa do território. Elas se solidarizaram comigo, porque, como elas mesmas dizem, sofri na pele o que mulheres indígenas sofrem historicamente”.

Beatriz Matos concedeu essa entrevista para Marie Claire na última terça-feira (9), menos de 24 horas depois que os três homens acusados de matar seu marido haviam prestado o primeiro depoimento à Justiça, numa audiência adiada quatro vezes. Agora, a Justiça Federal do Amazonas decidirá se Amarildo da Costa Oliveira, Oseney da Costa de Oliveira e Jefferson da Silva Lima vão a júri popular.

Mas a viúva de Bruno não acompanhou a audiência: diz que preferiu se poupar de ouvir os depoimentos – afinal, além de ser muito doloroso, confia na Justiça e em seus advogados.

"É muito bom ser chefiada por mulheres, sobretudo mulheres indígenas”, diz Beatriz Matos — Foto: Reprodução/Acervo pessoal
"É muito bom ser chefiada por mulheres, sobretudo mulheres indígenas”, diz Beatriz Matos — Foto: Reprodução/Acervo pessoal

Bruno Pereira e o jornalista britânico Dom Philips foram assassinados a tiros, em 5 de junho de 2022, em uma emboscada no Rio Itacoaí, em Atalaia do Norte, no Amazonas –segundo a Polícia Federal por denunciar quadrilhas de pesca ilegal em terras indígenas.

‘Eles sentem falta do pai. Eu também sinto’

Quase um ano depois do crime, ela se dedica ao cargo no Ministério dos Povos Indígenas que, somado aos cuidados com os filhos, deixa sua agenda bem ocupada.

“Tem três meses, mas parece um ano de tanta coisa que já aconteceu por aqui. Consigo fazer a janta e depois colocar eles para dormir, então temos esse momento juntos quase todos os dias. A gente conversa, conta histórias, eles falam do pai, da saudade que sentem, e conto que também sinto. A falta do pai é inevitável, não tem como. Então a gente se abraça e fala dele. Eles estão bem, fortes, saudáveis, adoram a escola nova”, conta.

Beatriz Matos sobre cargo no Ministério dos Povos Indígenas: “Para mim, é uma forma de dar continuidade ao trabalho do Bruno" — Foto: Reprodução/Acervo pessoal
Beatriz Matos sobre cargo no Ministério dos Povos Indígenas: “Para mim, é uma forma de dar continuidade ao trabalho do Bruno" — Foto: Reprodução/Acervo pessoal

Desde fevereiro, quando assumiu o posto, vem trabalhando especialmente na recuperação das políticas públicas de proteção para povos indígenas isolados e, mais recentemente, em um comitê para coordenar ações de desintrusão em terras indígenas, formado também por representantes do Ministério da Justiça, da Polícia Federal, da Força Nacional e do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente). No governo Bolsonaro, o comitê funcionava sob o Gabinete de Segurança Institucional, mas passou para o Ministério dos Povos Indígenas por decisão do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal.

Embora trabalhe com povos indígenas há duas décadas, se surpreendeu com o tamanho e com a intensidade das invasões em terras: “Não é um problema que começou agora, mas o volume, a intensidade e a recorrência dos crimes –caça e pesca ilegais, garimpo, tráfico de madeira– é muito impressionante. A morte do meu marido inclusive se deu nessas circunstâncias”.

“Para mim, é uma forma de dar continuidade ao trabalho do Bruno, ao trabalho que fazíamos juntos, no qual acreditamos juntos. Isso é muito importante para mim. Ele tinha um grande trabalho, ia realizar muita coisa, mas foi brutalmente interrompido.”

As lembranças do marido são inevitáveis durante o exercício das funções: além de ter sonhado com ele com um governo que se dedicasse à defesa dos povos indígenas, com liderança indígenas tomando as decisões, Beatriz frequentemente encontra colegas de trabalho dele, amigos que conviveram com o casal. “Toda vez que vejo um amigo do Bruno, e isso acontece muito aqui no Ministério, a gente chora junto.”

Em fevereiro, a primeira missão da professora de Antropologia no cargo foi uma viagem ao Vale do Javari, região onde trabalhou no início dos anos 2000, onde conheceu Bruno Pereira e também onde ele foi assassinado. Ela passou “um dos dias mais importantes de sua vida”, como definiu, na companhia da ministra Sônia Guajajara e de Alessandra Sampaio, viúva de Dom Phillips.

Beatriz com a Sônia Guajajara e a Alessandra, viúva do Dom Phillips, em fevereiro, no Vale do Javari — Foto: Reprodução/Leo Otero/MPI
Beatriz com a Sônia Guajajara e a Alessandra, viúva do Dom Phillips, em fevereiro, no Vale do Javari — Foto: Reprodução/Leo Otero/MPI

“Foi muito emocionante, tanto a nível pessoal, claro, como profissional. Encontrei vários amigos pela primeira vez depois de tudo o que aconteceu – pandemia, morte do Bruno. Me encheu de esperança voltar ao Vale do Javari e ver essa reconstrução acontecendo, com uma ministra indígena”, diz.

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