Estou cobrindo a semana de moda em Paris e testemunhei no banheiro de uma brasserie, nas redondezas do Jardim de Tuilerie, uma cena que me deixou consternada. Uma moça entrou no banheiro, sorriu e disse bom dia e, enquanto eu lavava as mãos, ela se ajoelhou e forçou o vômito.
Foi especialmente perturbador porque eu havia acabado de sair de um desfile e constatado que o casting de modelos nessa temporada da Paris Fashion Week realmente está priorizando meninas muito magras e excluindo corpos diversos e gordos.
Esse assunto já tomou conta do debate na imprensa de moda semanas atrás, durante os desfiles de Nova York, Londres e Milão A magreza extrema vem sendo cultuada novamente nas passarelas. Parece que os anos 90 voltaram – e isso é como um pesadelo.
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Nessa época, a questão da indução à magreza, como padrão de beleza vigente, criou uma epidemia de transtornos alimentares especialmente em adolescentes. A bulimia e a anorexia nervosa eram associadas ao culto ao corpo ideal magro e a cobrança aos padrões de beleza e de moda.
Levou anos até que esses padrões fossem questionados e que a indústria da moda encarasse seu papel social com mais responsabilidade. Parece que agora isso está em jogo novamente, há uma regressão moral em curso.
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Inúmeras publicações estão alertando sobre essa volta deprimente ao culto da magreza.
"O corpo da mulher é um assunto difícil de comentar, independentemente do seu tamanho. Francamente, não deveria ser algo que alguém comentasse. Mas, tendo estado na London Fashion Week nos últimos oito anos e ouvido histórias intermináveis de modelos passando fome antes dos desfiles, ou sendo instruídas a diminuir o tamanho do manequim em dois dias para serem escaladas para um desfile, fiquei cada vez mais preocupada com a saúde e o bem-estar das modelos e a falta de representatividade em termos de forma corporal", escreveu Olivia Petter, jornalista do Independent.
Ela ressalta que o que é ainda mais preocupante, é que ninguém parece se importar. Pelo menos não o suficiente para fazer algo a respeito.
Antes disso, Vanessa Friedman, diretora de moda do The New York Times, twittou: “Até eu me distraio com a extrema magreza de muitas das modelos do desfile de Jason Wu”. O tweet gerou centenas de comentários, e ela esclareceu mais tarde.
“Já passei por muitos distúrbios alimentares em minha vida, assim como muitas pessoas naturalmente magras, e a diferença entre os dois não é difícil de reconhecer. Posso dizer que pelo menos duas das modelos se enquadram nessa categoria. O objetivo não era envergonhar as modelos, mas chamar a atenção para o assunto. Eu realmente acredito que é hora de a moda refletir toda a população que usa roupas, em raça, gênero, tamanho e idade.”
É preciso dizer e repetir que a aceitação de diversos corpos não pode ser uma questão de moda ou de tendência. Isso cria uma série de transtornos e vira questão de saúde pública. Aqui em Paris não é difícil perceber que a obsessão pela magreza nunca desapareceu das passarelas. Mas ainda é tempo da moda não andar para trás glamorizando a magreza extrema.