Coordenadora de cenas de sexo em 'Pobres Criaturas' comenta reações polêmicas: ‘Mais dispostos a assistir estupro do que ato consensual’

A atriz e coordenadora de intimidade Elle McAlpine, de 33 anos, é a responsável por coordenar as cenas de sexo que estão dando o que falar por serem, ao mesmo tempo, desconfortáveis e realistas

Por Marie Claire Grécia, Com Tradução de Camila Cetrone, de Marie Claire Brasil


Cenas de sexo de Pobres Criaturas — Foto: Reprodução/Divulgação

O novo filme de Yorgos Lanthimos Pobres Criaturas, que chega ao Oscar 2024 com 11 indicações, vem sendo comentado, entre outras coisas, pelas cenas de sexo. Enquanto algumas pessoas as consideraram excessivas, a protagonista do longa, Emma Stone, as elogiou por transparecer honestidade.

A coordenadora de intimidade Elle McAlpine foi quem se encarregou de coordenar as cenas de sexo do filme, garantindo que todos se sentissem confortáveis enquanto, ao mesmo tempo, buscava por um resultado realista. – A profissão floresceu na indústria do entretenimento na esteira do movimento #MeToo.

Em entrevista ao The Guardian, a também atriz de 33 anos, diz que tanto o diretor quanto a estrela do filme destacaram suas contribuições em entrevistas – embora Stone tenha admitido que, no início, estava “hesitante”. Mas foi mais fácil para eles se comunicarem, já que estavam filmando há meses e “construíram um código juntos”, comenta McAlpine.

Sua jornada na coordenação de intimidade começou após se formar na escola de teatro, quando participou de um workshop da diretora de movimento britânica Ita O'Brien, considerada uma das pioneiras na profissão. Logo começou seu aprendizado ao lado dela, em um período em que o termo “coordenadora de intimidade” era bastante desconhecido, até mesmo para cineastas. Alguns a viram como uma ameaça, "especialmente porque eu era uma mulher jovem e tinha que trabalhar com pessoas que nunca tinham cruzado essa linha vermelha antes. Houve momentos em que fui expulsa dos sets de filmagem".

Depois de 18 meses aprendendo com O’Brien, McAlpine fundou sua própria empresa, a EK Intimacy, com a qual colaborou na produção de Pobres Criaturas.

Hoje, o mundo do cinema deu muitos passos em direção à aceitação de sua profissão. Como ela explica, se você tiver uma conversa sobre a expressão sexual de um personagem antes das filmagens, "o ator dará a melhor performance porque estará transbordando de criatividade". E quando uma cena requer mais do que ele está disposto a oferecer, existem adereços de proteção, como pedaços de tecido e almofadas.

No entanto, como ela mesma observa, hoje "estamos muito mais dispostos a assistir a uma cena de estupro do que a um ato sexual completamente consensual. O que isso nos diz?". Pelo menos no filme de Lanthimos, Bella Baxter, a protagonista vivida por Emma Stone, descobre o sexo por si mesma, o que se torna um elemento crucial em seu desenvolvimento – como uma das grandes alegrias de sua vida.

Para McAlpine, o roteiro de Tony McNamara levanta a questão: "E se ouvíssemos mais nosso corpo? O sexo é uma parte enorme disso. Com o orgasmo, você sente que o mundo está buscando o que busca com as drogas: o esquecimento.”

No entanto, um aspecto sombrio da exploração de Baxter é quando ela trabalha em uma casa de prostituição em Paris, onde, de acordo com a coordenadora de intimidade, "ela não concorda com a transação". É, como ela acrescenta, um aterramento abrupto para a heroína na realidade, onde ela entra em conflito "com nossa cultura e sociedade". Embora, a verdade seja, como ela acrescenta, que a vida de uma profissional do sexo "é muito mais difícil do que o filme mostra".

O maior desafio de McAlpine com o personagem Baxter? "Estamos falando sobre a mente de um bebê no corpo de uma mulher. Então estamos dando um 'salto absurdo'. O que isso significa para mim, como pessoa?"

Este artigo foi originalmente publicado em Marie Claire Grécia.

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