Estudo revela que meninas estão menstruando mais cedo do que gerações anteriores

Aumento do peso corporal e exposição a produtos químicos ambientais podem influenciar a mudança, que é mais proeminente em alguns grupos sociais

Por , Em Colaboração para Marie Claire — São Paulo


Mudança foi observada principalmente entre meninas negras não hispânicas e asiáticas Gabby K para Pexels

Um estudo revelou que a primeira menstruação está chegando mais cedo entre as norte-americanas do que em gerações anteriores. A mudança é mais evidente em meninas que pertencem a minorias étnicas e a grupos socioeconômicos vulneráveis.

A pesquisa, publicada no periódico Jama Network, também revelou que muitas jovens têm ciclos irregulares por anos, um fator de risco para vários problemas de saúde, como doenças cardiovasculares, câncer e distúrbios metabólicos.

Como foi o estudo

No estudo, cientistas analisaram dados de mais de 71 mil norte-americanas nascidas entre 1950 e 2005. As voluntárias eram usuárias de produtos da Apple e concordaram em compartilhar dados como seus ciclos menstruais e saúde ginecológica.

Havia participantes de várias etnias, incluindo negras, brancas, hispânicas e asiáticas, embora as brancas fossem majoritárias. As participantes também classificaram seu nível socioeconômico em baixo, mediano ou alto.

De acordo com os dados, a idade média da menarca — nome que os médicos dão à primeira menstruação — caiu de 12,5 anos entre as nascidas de 1950 a 1969 para 11,9 anos naquelas que nasceram de 2000 a 2005. As médias mais precoces foram observadas entre as que se identificaram como asiáticas, negras não hispânicas e multirraciais, em comparação com as brancas, assim como entre as de níveis socioeconômicos mais baixos.

Quase 16% das participantes nascidas entre 2000 e 2005 tinham entre 9 e 11 anos na menarca, ante 8% das que nasceram entre 1950 e 1969. O estudo também descobriu que mais mulheres apresentavam ciclos irregulares durante três anos ou mais após a menarca.

O estudo, conduzido por pesquisadores da Universidade Harvard, reforçou resultados de pesquisas que chegaram a conclusões similares. O presente trabalho, porém, deu um passo além.

“Apesar da magnitude relativamente pequena da mudança na idade média, o nosso estudo está entre os primeiros a mostrar que as percentagens de menarca precoce e muito precoce também aumentaram quase duas vezes ao longo dos anos de nascimento, de 1950 a 2005, levantando preocupações de que mais indivíduos possam ser vulneráveis a resultados adversos para a saúde relacionados com a menarca precoce”, escreveram os autores no trabalho.

Além disso, os cientistas trouxeram dados de populações como a hispânica e a asiática, que foram sub representadas em pesquisas que investigaram a idade da primeira menstruação.

O risco da menarca precoce e da irregularidade

O estudo alerta sobre o que chamou de sinal vital, o tempo entre a primeira menstruação e os ciclos menstruais regulares. “Descobrimos que as crianças passam mais tempo até [alcançar] a regularidade”, disse Zifan Wang, principal autora do estudo e pesquisadora de pós-doutorado, ao jornal The Washington Post.

“Isto também é muito preocupante porque os ciclos irregulares são um indicador importante de eventos adversos de saúde mais tarde na vida. Isso nos alarma. Precisamos fazer mais aconselhamento e intervenção precoce em ciclos irregulares entre crianças e adolescentes”, afirmou ela.

Segundo Shruthi Mahalingaiah, coautora da pesquisa, meninas que iniciam a menstruação precocemente podem enfrentar problemas de saúde mais tarde na vida. “Precisamos considerar os fatores de promoção da saúde que podemos implementar para impactar não apenas a idade da menarca, mas também o tempo para regular o ciclo”, afirmou ao The Washington Post.

Por que a menarca está vindo mais cedo?

Diversas pesquisas já tentaram responder a essa pergunta. Uma das causas apontadas é a obesidade infantil, que, segundo as autoras do novo trabalho, pode responder por até 46% dos casos de menarca precoce.

No entanto, as cientistas reconhecem que a tendência é anterior à epidemia de obesidade, sugerindo que outras causas estão relacionadas ao quadro. Elas enumeram algumas possibilidades: fatores ambientais (por exemplo, produtos químicos desreguladores endócrinos, metais ou os poluentes atmosféricos), padrões alimentares (como ingestão de açúcar), stress psicossocial e experiências adversas na infância.

Mais recente Próxima Anemia: quais são as consequências de não tratar a condição que atinge 30% das mulheres em idade reprodutiva?

Leia mais