Síndrome dos ovários policísticos: causas, sintomas e tratamentos

Condição pode afetar o ciclo menstrual e causar infertilidade, câncer de endométrio, diabetes e doenças cardiovasculares

Por Marcella Centofanti, Colaboração Para Marie Claire — São Paulo


Controlar o peso é fundamental para diminuir os sintomas da síndrome Pexels

A síndrome dos ovários policísticos (SOP) é ​​uma condição que afeta o equilíbrio hormonal da mulher, causando a formação de pequenos cistos nos ovários. Sem tratamento, essa alteração pode afetar o ciclo menstrual e causar infertilidade, câncer de endométrio, diabetes e doenças cardiovasculares.

Para entender a síndrome dos ovários policísticos, é preciso dar um passo atrás e compreender como funciona o mecanismo ovulatório da mulher.

O que é a síndrome dos ovários policísticos?

Todo mês, os ovários de uma pessoa que não usa contraceptivos e tem ciclos menstruais normais recruta de 10 a 15 folículos chamados primordiais. No décimo terceiro ou décimo quarto dia do ciclo menstrual, um desses folículos se torna dominante. Ele dará origem ao óvulo que será liberado naquele mês.

O organismo, então, causa mudanças no endométrio, a camada que reveste o útero internamente, para receber um embrião. Se o óvulo liberado não for fertilizado, o endométrio se desprende pela vagina — a menstruação.

“Na síndrome dos ovários policísticos, atualmente chamada de síndrome da anovulação crônica, a mulher não tem essa dominância folicular. Esses folículos, dos quais um seria recrutado, se tornam microcistos de 2 a 10 milímetros nos ovários e a pessoa deixa de ovular”, explica o ginecologista Maurício Abrão, coordenador de Ginecologia da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Quais são os sinais e sintomas da SOP?

Para o diagnóstico da SOP, uma pessoa precisa ter duas de três características:

- Menstruação irregular – Se ela passa mais de 38 dias ou mais sem menstruar, isso significa que os ovários não estão liberando óvulos regularmente;

- Aumento de androgênios – Altos níveis de hormônios masculinos, principalmente a testosterona, podem causar sinais físicos, como acne e excesso de pelos na face ou no corpo. A alteração pode ser captada também em exames de sangue;

- Ovários policísticos – Um ultrassom mostra que o órgão tem tamanho aumentado e muitos folículos.

“Existe muito erro de diagnóstico, porque os médicos acham que somente o resultado do ultrassom já é suficiente para caracterizar a síndrome.
— Cristina Laguna Benetti Pinto, ginecologista

A confusão costuma ser mais comum nos primeiros anos após a menarca.

A mulher nasce com o ovário cheio de folículos e vai gastando a reserva ao longo da vida. Quando chega na menopausa, os folículos acabam e o ovário para de funcionar. No início da vida reprodutiva, o ovário é naturalmente grande. No final, é pequeno, ao ponto de às vezes nem ser visualizado no ultrassom.

Além disso, meninas costumam ter mais acne e com frequência apresentam ciclos menstruais irregulares, uma consequência da imaturidade do eixo hormonal.

“Hoje, existe um consenso na literatura médica mundial de que o diagnóstico de síndrome dos ovários policísticos só pode ser confirmado oito anos depois da primeira menstruação”, diz Cristina Laguna Benetti Pinto, presidente da Comissão Nacional Especializada em Ginecologia Endócrina da Febrasgo

Quais são as causas e fatores de risco da SOP?

As causas da síndrome dos ovários policísticos são desconhecidas. “Existe uma predisposição genética, uma herança familiar. Mas não há um fator determinante que gere esse tipo de alteração”, afirma Maurício Abrão.

Estudos preliminares apontam que bebês que nasceram com baixo peso ou tiveram algum tipo de sofrimento no útero da mãe têm um risco maior de desenvolver SOP.

A ciência conhece com mais clareza os fatores que são associados ao quadro.

O diagnóstico de síndrome de ovário policístico está presente em aproximadamente 10 a 15% das mulheres durante o período de vida reprodutiva, quer dizer, desde que começa a menstruar até a menopausa. Metade das pacientes pode ter obesidade, pré-diabetes ou diabetes e hipertensão antes dos 40 anos”, diz a professora da Unicamp.

Sem tratamento, a síndrome aumenta ainda o risco de câncer de endométrio. Além disso, 70% das pessoas diagnosticadas podem ter dificuldade para engravidar.

“Com obesidade e aumento de pelos, muitas mulheres reportam mais dificuldade para arrumar parceiro e menos satisfação sexual. Alguns estudos mostram que tudo isso, aliado à infertilidade, aumenta a predisposição da pessoa à depressão e à ansiedade”, aponta a médica.

Como é o diagnóstico de síndrome dos ovários policísticos?

O diagnóstico da SOP começa pela anamnese, no consultório. Para confirmar a suspeita, o ginecologista solicita dosagem dos hormônios masculinos, principalmente a testosterona, e um ultrassom — transvaginal, para quem iniciou a atividade sexual, e abdominal, para pessoas virgens.

“Às vezes, a pessoa recebe um diagnóstico errado e fala: ‘Já que eu tenho dificuldade para engravidar, não vou tomar cuidado’. Aí, pode ter uma gravidez indesejada. Ou ela carrega o peso de ter uma infertilidade. O diagnóstico tem que ser bem feito para não comprometer a qualidade de vida da paciente”, diz Pinto.

Como é o tratamento para SOP?

De acordo com a médica, os sintomas da condição podem aparecer desde a primeira menstruação e acompanham a mulher ao longo da vida. O tratamento é contínuo e varia de acordo com as manifestações mais importantes em cada etapa.

No entanto, seguir um estilo de vida saudável é fundamental em qualquer idade. “O principal tratamento é o controle do peso”, atesta a médica.

“Na adolescência, ainda que seja somente uma suspeita de diagnóstico, o médico deve orientar a paciente a praticar atividade física e se alimentar bem. O sobrepeso e a obesidade pioram todas as manifestações da SOP. O ginecologista tem que estar alerta para isso, porque no final da puberdade é muito mais fácil a jovem ganhar peso”, afirma ela.

Na medida em que os anos passam, além das queixas sobre acne e pelos, pode haver preocupação com a infertilidade. Mais adiante, chegam as complicações relativas a diabetes, resistência insulínica, doenças cardiovasculares e, perto da menopausa, câncer de endométrio.

Além dos hábitos saudáveis, o tratamento pode incluir hormônios para regularizar o ciclo menstrual.

“Para as pacientes que não querem engravidar, a recomendação são as pílulas anticoncepcionais, em geral com uma associação de estrogênio e progesterona. Os sintomas da síndrome tendem a diminuir com o bloqueio da ovulação”, atesta Abrão.

Já se a pessoa deseja a gestação, o médico pode prescrever um fármaco que induz a ovulação.

A última indicação é um procedimento cirúrgico chamado drilling ovariano. “Por meio de uma laparoscopia, a gente faz pequenos estímulos e os ovários tendem a voltar a funcionar por pelo menos um ano. Mas não é o tratamento de primeira linha para a síndrome”, afirma o médico da BP.

As queixas relacionadas ao aumento de testosterona, como pelos e acnes, podem ser tratadas diuréticos específicos para esse fim e medicações chamadas antiandrogênicas.

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