Articulada com a sociedade civil, Janja pode ressignificar o que é ser uma primeira-dama

Com a posse do presidente Lula neste domingo (1º), Rosângela da Silva assume oficialmente o papel de primeira-dama do Brasil, com chances de atuar como uma das protagonistas do novo governo. Mas até onde ela pode ir para escapar da regra de primeiras-damas reclusas e dedicadas aos cuidados com o lar, os maridos e à assistência social?

Por Mariana Gonzalez


Rosângela da Silva, a Janja, se torna oficialmente primeira-dama do Brasil neste domingo (1º) Evaristo SA/AFP/Getty Images

A partir deste 1º de janeiro, o país terá um perfil muito diferente no posto de primeira-dama: Rosângela da Silva, a Janja, de 56 anos, 39 deles filiada ao PT. A trajetória da mulher do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, tem fatos incomuns quando comparada às de suas antecessoras. A começar por sua trajetória acadêmica: ela é apenas a quarta entre 34 primeiras-damas a ter ensino superior completo e a segunda a ter trilhado uma carreira acadêmica, depois apenas de Ruth Cardoso, mulher do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Janja é socióloga pela Universidade Federal do Paraná e tem MBA em Gestão Social e Sustentabilidade, conhecimentos que aplicou durante 15 anos trabalhando na hidrelétrica Itaipu e na Eletrobras. Na opinião dos jornalistas Ciça Guedes e Murilo Fiuza de Melo, autores de Todas as Mulheres dos Presidentes (ed. Máquina de Livros, 336 págs., R$ 44,50), o namoro e o casamento com Lula, que aconteceu em 2022, ajudaram a construir a imagem de que ele seguia entusiasmado e de bem com a vida mesmo depois da prisão e de sucessivas derrotas do PT.

Dilma Rousseff não tinha um marido quando recebeu a faixa presidencial, em 2010, “ao lado dela estava a ausência”, comenta a historiadora Dayanny Deyse Rodrigues Leite, que mergulhou em sua tese de doutorado no primeiro-damismo. “Pela primeira vez a mulher não estava na cerimônia de posse como primeira-dama, mas à frente da política, do poder. Mesmo assim, foi impossível não perceber a ausência de um cônjuge para compor a cena”, completa.

Lula beija Janja após ser eleito presidente do Brasil pela terceira vez, em 30 de outubro de 2022 — Foto: Daniel Munoz/VIEWpress/Getty Images

Janja demonstra estar confortável no novo papel. A questão agora, depois de Marcela Temer e Michelle Bolsonaro, consiste em: como se portará a primeira-dama do novo governo Lula? A exemplo da francesa Brigitte Macron, da chilena Irina Karamanos e até da brasileira Ruth Cardoso, Janja tem tudo para manter um protagonismo. Usar sua formação técnica no processo de reconstrução da democracia – e “ressignificar o que é ser uma primeira-dama”, fazendo “um papel de articulação com a sociedade civil”, como prometeu, em entrevista ao Fantástico, na qual citou Michelle Obama e Evita Perón como inspirações, é o esperado.

A primeira sinalização da participação dela, no entanto, foi no sentido contrário. No processo de transição de governo, a ela foi designado o papel de coordenar os preparativos para a festa da posse. “De certa forma, isso a coloca de volta nesse lugar de organizar a casa”, afirma Dayanny. Lula já disse em entrevistas que a esposa terá a liberdade de pensar o que quer fazer para ajudá-lo. Janja, por outro lado, já avisou. “Não vou ser ajudadora. Vou estar do seu lado, lutando para dar de novo esperança ao Brasil”. A ver.

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