'Larguei carreira, família e meu país para me casar com um homem que vi duas vezes'

A cabeleireira Andreia Harris estava concentrada na filha e na carreira, quando foi apresentada ao amigo de uma cliente. Os dois saíram para jantar e só se despediram três dias depois, quando ele voltou para os EUA. Após seis meses, ela não aguentou mais a relação a distância e terminou por telefone. No dia seguinte, ele apareceu e a pediu em casamento

Por Depoimento A Kizzy Bortolo


Brian e Andreia Harris Arquivo pessoal

“Tive uma infância de extrema pobreza na Baixada Fluminense [Rio de Janeiro], um lugar violento e hostil. Até os 12 anos, quando minha mãe conheceu o meu padrasto e tudo mudou para melhor, eu e minha irmã caçula sofremos muito. Como desde pequenininha gostava de cuidar do cabelo das minhas amigas, aos 13, por incentivo da minha tia e da minha prima que trabalhavam em salão, entrei em um curso de cabeleireira. E nunca mais parei.

Aos 15, comecei a trabalhar como auxiliar de cabeleireiro em um salão da zona sul do Rio, onde cresci bastante. Cheguei a gerenciar um salão superbadalado em Ipanema, frequentado por atrizes e celebridades . Também passei a dar aulas de corte e tintura num lugar que era referência na cidade. E, assim, fui conquistando a minha clientela.

Em 1998, engravidei da minha filha, Andressa Larissa, hoje com 24 anos. Mas a relação com o pai dela não deu certo, e segui minha vida cuidando dela sozinha, como grande parte das mães brasileiras. Ela tinha acabado de completar 5 anos quando, numa tarde, estava trabalhando em um salão em Copacabana, e vi entrando pela porta um homem lindo.

Alto, forte, cheio de estilo. Pela maneira de se vestir e gesticular, logo percebi que não era brasileiro. Estava com uma cliente minha, que nos apresentou. Brian era o nome dele. Não demorou para entender que, como eu, ele estava solteiro. E me convidou para jantar.

Mal chegamos ao restaurante e saiu o primeiro beijo. Tudo entre a gente combinava. O cheiro, a pele, o gosto. Passamos os três dias seguintes absolutamente grudados, até ele voltar para a Filadélfia, nos Estados Unidos, onde morava na época. O romance seguiu a todo vapor, mas, depois daquele primeiro encontro de 72 horas, nunca mais tínhamos nos visto pessoalmente.

Depois de seis longos meses, resolvi terminar. Por telefone, disse a ele que estava difícil lidar com a saudade, não queria sustentar esse namoro a distância. E terminei.

Passei o restante do dia muito triste. Eu amava aquele homem, como nunca havia amado ninguém antes. Mas não aguentava mais namorar por telefone, estava certa de que precisava acabar com aquela situação. No dia seguinte, acordei com a campainha tocando sem parar. Assustada, corri para abrir a porta, e a surpresa: era Brian, que havia pegado um voo na noite anterior para reverter a situação que tanto me fazia sofrer.

Tomei um baita susto, mas adorei a surpresa. Pensei: ‘Esse homem me ama mesmo’. Havia terminado com ele por volta das quatro da tarde de uma sexta-feira e, no dia seguinte de manhã, ele estava na minha frente. Sem rodeios, ainda de pé, disse: ‘Se a distância vai nos separar, temos que nos casar’. Eu não sabia se chorava ou o beijava.

A princípio, relutei. Sabia que seria uma mudança drástica, principalmente com uma criança pequena, e nunca havia desejado morar fora do Brasil. Mas vê-lo tratando minha filha com tanto amor me fez ter certeza de que podia confiar nele e que formaríamos uma linda família.

Andreia largou a vida no Rio de Janeiro para ir viver com o amor de sua vida, nos EUA — Foto: Arquivo pessoal

Brian foi embora no dia seguinte e, já na segunda-feira, entramos com a papelada e começamos o processo de vistos. Seis meses depois, Larissa e eu chegamos aos Estados Unidos com uma mala de roupas. Larguei tudo para trás: minha casa, meu trabalho, minha família. Tudo por amor. E detalhe: eu só tinha visto o Brian ao vivo e a cores duas vezes. Nossas conversas e a aproximação foi toda por telefone e e-mails de amor.

Como o clima da Filadélfia em nada combinava comigo, fomos direto para Jacksonville, na Flórida, onde, na época, moravam pouquíssimos brasileiros. Eu não conhecia ninguém e não sabia falar nada de inglês. Começamos a nossa vida ali, do zero. Um mês depois, nos casamos em uma cerimônia simples e linda na casa da minha sogra, no Tennessee, que nos recebeu superbem. Larissa entrou de daminha, linda e feliz como nunca.

Minha nova vida de casada, no entanto, me levou a mudar de profissão. Durante mais de dez anos, trabalhava limpando casas, na faxina pesada, como a maioria das brasileiras que vêm para cá. Mas aos poucos fui contando para as pessoas que era cabeleireira e conquistando novas clientes. Atendia a mulherada a domicílio ou no quintal da minha casa. Nesse meio tempo, nasceu nosso filho, Brian, hoje com 14 anos.

No início, nada foi fácil, mas juntos fomos perseverando. Após alguns anos, conseguimos finalmente financiar e comprar uma casa grande, linda, como sempre sonhei. Também compramos carros novos, viajamos para lugares bacanas e fomos conquistando os nossos sonhos. Tudo com trabalho duro e sem folgas. Eu limpava em média três casas por dia e ainda fazia os cabelos das minhas clientes durante a noite.

Neste ano, juntei meu sonho com o de uma amiga, Kelly, e montamos o Agape, salão mais descolado da cidade. A casa está sempre cheia, com fila de espera e tudo. E não pretendo parar por aí: penso em abrir franquias e já até criei a minha própria linha de produtos capilares. Sou conhecida em Jacksonville como ‘a rainha da queratina’, por deixar os fios alinhados e sem nenhum frizz.

Em julho do ano passado, minha filha também se casou com um americano, Tyler, e foi morar na Califórnia. Estou feliz, realizada. Sigo apaixonada por Brian, o homem da minha vida, e ainda vou ser avó.”

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