Bebé Salvego, Melly e Uana: as artistas potência que são promessas na música

A ascensão de novas cantoras tem levado ao público diferentes narrativas e personalidades. Entre as artistas que têm se destacado, Bebé Salvego, Melly e Uana mostram como o futuro da música tende a ser ainda mais autêntico

Por e , redação Marie Claire — São Paulo (SP)


Bebé Salvego, Melly e Uana chegaram para inovar a cena da música nacional — Foto: divulgação

A cada nova geração, a música brasileira descortina talentos que pouco a pouco conquistam seu público e marcam seu lugar. Por meio de um trabalho intenso e decisões estratégicas para a própria carreira, artistas têm conseguido ultrapassar barreiras – de gênero e, também, geográficas – ao mostrar sua obra em um campo já bem delimitado e consolidado que é o musical. Não à toa, são chamadas de revelações. Elas trazem novidades em suas letras e representam aquilo que os brasileiros têm buscado consumir, principalmente perante a leva de produtos cada vez menos indistinguíveis no mainstream.

Bebé Salvego, Melly e Uana estão aí. Cada uma, em seu próprio estilo, traduz a pluralidade e a nova cara da Black Music nacional. A seguir, suas histórias e por que são nossas grandes apostas.

BEBÉ SALVEGO

Bebé Salvego lança álbum 'Salve-se'; artista traçou sua trajetória inspirando-se em referências do jazz — Foto: divulgação

“Você tem a voz parecida com a de Billie Holiday. Pode ser um lance de outras vidas.” A frase é de Jô Soares e foi dita a Bebé Salvego quando ela tinha apenas 11 anos. Nascida Isabela, em Piracicaba, interior de São Paulo, hoje, aos 20, ela recolhe os frutos da premonição feita pelo apresentador ao se mostrar como uma das cantoras que estão mudando o cenário musical.

Bebé reconhece que a doçura e o miado de sua voz, o mesmo de Billie Holiday, conectam as duas. Foi o gosto pela black music que a levou ao palco do Jô, depois que viralizou cantando All About That Bass, da Meghan Trainor, numa versão em jazz. Em 2015, aos 12, ganhou ainda mais o Brasil ao participar do The Voice Kids. “Lembro de estar na cama e gritar para os meus pais: ‘música não é competição’, mas sabia da importância de um programa como esse na minha carreira”, recorda. E ainda da “responsabilidadeque é carregar as comparações com esses nomes [do jazz]”.

“Sou insegura, autocrítica, mas fui conquistando confiança com o processo de fazer música autoral”, diz ela. No fim de maio, Bebé lançou seu segundo disco, Salve-se, que marca sua maturidade emocional, lírica e musical. “É como se meu primeiro álbum [Bebé, de 2021] fosse o sonho e esse a realidade. Saio do interior e dou de cara com novos conflitos. Também aprendi mais a amar e desapegar de angústias.”

Bebé tem pés firmes no chão, é tranquila e não acumula haters. Credita isso a exposição tão nova ao ser julgada no reality show, mas também a base familiar na música. Filha de produtora executiva, pai professor de violão e irmão, Felipe Salvego, seu parceiro na produção musical. “Cresci ouvindo as divas do jazz”, lembra.

“E sempre soube que é possível viver de música, pois essa é minha realidade”, celebra Bebé. “A única coisa que eu penso é lançar 50 discos antes de o mundo acabar. Independentemente das projeções da mídia e do mercado, só quero estar bem comigo e com a minha música. Sinto como uma missão espiritual”, diz ela. Coincidência ou não, Billie Holiday também pensava assim.

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MELLY

Melly lança primeiro disco 'Amaríssima'; cantora parte do gosto de amargo para se expressar em nova produção — Foto: João Arraes

"Piada esse prêmio"; “ninguém conhece”; “quem é?”: foram alguns dos comentários – e os mais leves – que Melly leu nas redes sociais ao levar o troféu de Artista Revelação, do Multishow, em novembro passado. “Não me atravessou, pois nada que foi dito me fazia crescer”, lembra. E é nisso que a baiana de 22 anos se viu focada desde aquela noite. “Não sabia da minha grandeza como artista, não tinha essa autoestima."

Esse foi o segundo momento de “virada” de Melly. O primeiro foi quando a música “Azul”, do seu álbum de estreia de mesmo nome, de 2021, atingiu um público muito maior do que ela esperava. E ainda foi cantada por Liniker, de quem a baiana é fã e participa agora do seu novo álbum, Amaríssima, que estreou no final de maio. “Ficamos amigas e ela me ensinou muito”, diz.

Se no primeiro disco Melly se jogou na doçura, neste ela traz o superlativo de amargo que representa seu amadurecimento. “Para viver novos ciclos precisei abandonar um pouquinho o doce, buscar equilíbrio”, conta. A cantora reflete que muitos dos desconfortos que a fizeram buscar esse equilíbrio aconteceu pelo fato de ela ser uma mulher preta, “que é da arte, bissexual, nem sei ainda, talvez seja lésbica. Amaríssima é me descobrir”.

Esse disco acaba sendo então seu maior orgulho. “Quero que ele seja popular, mas não sendo igual aos outros, pois quero mudar o que é pop.” Melly trilhou um caminho particular na música e isso se dá pela bagagem que carrega desde criança. Com pai músico, suas lembranças de infância são dentro de um estúdio. Aos 15, já cantava na igreja e depois barzinhos. O resultado disso a gente já sabe. “A música sempre foi minha forma de viver”, lembra.

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UANA

Uana é a artista acelerada pelo Alerta Experimente, do Multishow; a cantora traz em performances referências do brega funk — Foto: divulgação/Uhgo

Para quem nasceu ao som de Bob Marley, fica fácil encontrar as primeiras influências musicais. “Meu pai, quando chegou na maternidade, colocou Bob Marley pra tocar”, lembra Uana. Com uma família de agitadores culturais, a cantora, de 30 anos e natural de Recife, Pernambuco, faz questão de se afirmar no gênero pop e traz em seu trabalho referências da cultura negra e da cultura popular tradicional pernambucana. “Quero demarcar esse lugar de que fazemos pop e que não é um pop nordestino ou tropical. É um pop como de qualquer outro lugar do Brasil.”

O frevo, maracatu e cavalo-marinho são expressões que fazem parte da formação de Uana, que escolheu uma transição do jazz e R&B e explorou isso desde que começou a cantar, aos 16, e de forma consolidada em seu primeiro álbum, Pantera, em 2019. “Faço música pop desde 2021, mas já tinha uma relação forte com a música negra. Tudo que se populariza no Brasil é música negra, o samba, funk, brega funk. Se não fosse a música negra não existiria música brasileira.”

Suas composições mostram a versatilidade dos temas que costuma retratar, como sensualidade, sexo e amor, baseados tanto em experiências pessoais quanto externas. Uana tem como referência Alcione, Elza Soares e Erykah Badu. Vencedora na categoria revelação do prêmio Women’s Music Event Awards de 2023, a cantora revela que esse foi o momento mais significativo de sua carreira. “Depois disso, muitos pararam para prestar atenção no meu trabalho. É uma premiação que acontece no Sudeste e estamos em um momento que é urgente olhar para outros lugares. Há mulheres pretas no Nordeste fazendo música pop.”

O troféu foi combustível para Uana entrar no programa de aceleração de carreiras do Multishow e começar novos projetos. “Vou lançar um disco com a pesquisa que tenho feito da música urbana de Recife. Nunca estive tão feliz."

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