#ExploraçãoSexualZero
Por , Em Colaboração para Marie Claire — São Paulo

Na última terça-feira (18) foi divulgado o Atlas da Violência, levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e do Fórum de Segurança Pública. O documento mostra que o tipo de agressão mais frequente registrado em 2022 contra meninas entre 10 e 14 anos foi a violência sexual, que representou 49,6% das ocorrências nessa faixa etária. Entre crianças de zero a nove anos, a violência sexual respondeu por 30,4% dos casos, atrás apenas da negligência.

Os impactos decorrentes de um ou mais episódios de violência sexual são incontáveis. Os mais imediatos e visíveis são os físicos: lesões nas genitálias e infecção por doenças sexualmente transmissíveis, para citar dois exemplos mais frequentes. Mas as cicatrizes emocionais e psicológicas podem ser tão devastadoras quanto aquelas que aparecem no corpo.

A psicóloga e analista Emanuela Vieira de Aguiar, especialista em atenção à saúde da criança pelo Hospital Universitário Onofre Lopes, em Natal (RN), mergulhou em diversas pesquisas para produzir um artigo de revisão de produção científica sobre impactos e consequências psicológicas, cognitivas e emocionais que a violência sexual produz em crianças e adolescentes.

Sequelas da violência sexual

O artigo, publicado em 2020 na revista Psicologia e Saúde em Debate, lista incontáveis sequelas do crime, que influenciam direta ou indiretamente no desenvolvimento de um indivíduo. Segundo a autora, um dos primeiros sentimentos que aparecem em uma vítima de violência sexual é a sensação de desamparo. Especialmente quando o abusador é alguém de confiança da criança, como acontece na maioria dos casos.

Outros sintomas bastante comuns na literatura científica são queda no rendimento escolar, isolamento social e alterações no desenvolvimento cognitivo, na linguagem e na memória. Inclusive a dificuldade em acompanhar os conteúdos apresentados na escola e o isolamento podem ser sinais de alerta para que um crime possa ser descoberto.

Na adolescência, outros sintomas podem manifestar, sendo os mais comuns depressão, ansiedade, tentativas ou consumação de suicídio, autoagressão, fuga de casa e atos de violência ou ilegais.

Outro estudo também publicado em 2020, este na Revista de Saúde Pública, pesquisou universitários que foram vítimas de violência sexual. O desdobramento desse trabalho foi transformado no livro Memórias da Dor – Histórias, Vivências e Trajetórias de Jovens Vítimas de Violência Sexual, lançado em 2023 e escrito pelas médicas e pesquisadoras Flávia Calanca da Silva e Maria Sylvia de Souza Vitalle, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Um dos resultados da pesquisa é que os alunos do grupo de vítimas pontuaram mais alto em testes de depressão e ansiedade e revelaram abusar mais de substâncias, como cigarro, álcool ou outras drogas. Dentre as vítimas de violência sexual, mais que o dobro respondeu fazer uso abusivo de hipnóticos e sedativos em comparação com os alunos do grupo de não vítimas.

“Talvez esse uso seja feito para minimizar o desconforto dos sintomas depressivos ou ansiosos”, registraram os autores. Outro exemplo: 59,4% das vítimas de abuso disseram fazer uso abusivo de álcool, ante 49,9% dos alunos que não passaram por essa violência.

Comportamento de risco e gravidez

Outro aspecto que os autores do estudo encontraram foi um comportamento sexual mais ativo e de risco, com mais ocorrência de relações desprotegidas, mais casos de gravidez precoce e indesejada e maior prevalência de doenças sexualmente transmissíveis.

Somente a questão da gestação indesejada já renderia um capítulo à parte. “A gravidez na adolescência é uma questão de saúde pública e coletiva”, diz Maria Sylvia de Souza Vitalle, que é chefe do setor de medicina do adolescente da Unifesp e co-liderou a pesquisa.

Como podemos acompanhar no noticiário diariamente, muitas meninas e mulheres violentadas sexualmente têm dificuldade de acesso ao aborto legal, mesmo que se enquadrem na lei. “O índice de mortalidade materna é alto, muitas meninas recorrem a um serviço não qualificado para a realização do aborto, ou tentam de uma forma caseira, e acabam com uma série de complicações que podem as levar à morte”, diz a médica.

Segundo a psicóloga Emanuela Aguiar, a mulher que sofre uma violação e não é acolhida e observada do ponto de vista terapêutico pode também desenvolver uma dependência emocional em relação a abusadores e corre mais risco de entrar em relações tóxicas. Ou, mesmo em namoros ou casamentos saudáveis, podem ter dificuldades na relação sexual.

“Muitas sentem dor no ato do sexo, inclusive”, afirma. Às vezes essas mulheres levam essa questão para a ginecologista e nada de errado fisicamente é encontrado. “Aí se descobre que aconteceu um abuso anos atrás que deixou uma resposta no corpo físico, ao ponto de essa mulher não sentir prazer no seu ato sexual”, diz.

E a lista de sequelas da violência sexual não para por aí. As vítimas de violência sexual ainda relatam nos estudos mais problemas de sono, distúrbios de alimentação, déficit de atenção, hiperatividade, fobias e transtorno de estresse pós-traumático.

Intensidade do trauma

A literatura médica também mostra que existem alguns fatores que influenciam na intensidade do trauma gerado. Aguiar aponta três grupos de fatores: os intrínsecos à vítima, como a resiliência e a vulnerabilidade pessoal, os extrínsecos, como a rede de apoio da vítima, e fatores relacionados à violência sexual em si, como duração, grau de parentesco com o abusador e a reação dos cuidadores quando a violência é revelada.

Ou seja, se a criança tinha uma relação de confiança com o abusador, a tendência é que as sequelas sejam agravadas. “O abusador usa a relação de confiança para invalidar a vítima. Diz que, se ela contar para alguém, ninguém vai acreditar, ou a mãe não vai mais amá-la. Isso traz uma resposta emocional profunda. Do ponto de vista da vítima, ela está sendo agredida por alguém que teoricamente a ama, mas a trata como se ela não tivesse importância”, diz Aguiar.

Essa violência emocional acompanhada da sexual traz sentimentos de desesperança em relação ao futuro e abala profundamente a autoestima das vítimas. “Muitas delas se acham não merecedoras, acham que não merecem um bom casamento, não merecem uma vida feliz, não merecem constituir uma família”, aponta Vitalle.

Se a violação acontece recorrentemente, também aumentam os riscos de complicações futuras. “A literatura mostra que pessoas sistematicamente submetidas a abuso sexual passam por eventos mais graves de problemas emocionais, sem falar dos físicos. São pessoas que têm muita ideação suicida, que vão tentar se matar ou vão realizar isso e têm a sensação de valerem menos”, afirma Vitalle.

Já o apoio da família quando a violência é revelada pode ajudar e muito a vítima a lidar com o trauma. “Os filhos de pais que têm um estilo parental de mais conversa, que estão mais próximos, vão sofrer menos riscos do que aqueles inseridos em famílias mais autoritárias. Nesses casos, as crianças e adolescentes muitas vezes sentem medo de contar o que está se passando”, diz a médica.

Desigualdade de gênero

E quanto às vítimas do sexo masculino, elas sofrem da mesma maneira? Sabe-se que a grande maioria dos casos de abuso sexual acontece com meninas. De acordo com o levantamento Cenário da Infância e Adolescência no Brasil 2024, da Fundação Abrinq, elas representaram 87,7 dos casos de violência sexual. Os números variam conforme as pesquisas, mas sempre apontam predominância feminina entre as vítimas.

“A desigualdade de gênero é uma diferença profunda entre homens e mulheres na sociedade, na qual a mulher é colocada em um lugar de inferioridade em relação ao homem. Essa distinção vai se refletir em diversos aspectos da vida, desde mercado de trabalho e acesso à educação até em relacionamentos afetivos e nas estatísticas de violência doméstica, sexual e feminicídio”, aponta Vitalle.

Mas isso não quer dizer que os meninos não sofram profundamente. Além de poderem desenvolver sequelas semelhantes às das meninas, como depressão, ansiedade, isolamento, autoagressão e outras citadas anteriormente, existem algumas particularidades em relação ao abuso sexual contra os garotos. Se há uma subnotificação em relação aos casos desse tipo de violência em geral, no caso dos homens ele é ainda mais acentuado.

“Em nossa sociedade a violência sexual contra meninos traz um preconceito forte, pois é marcada como desvio de conduta sexual”, diz Vitalle. A vítima costuma ser tachada de homossexual, como se fosse algo negativo. “É uma fala cultural que associa erroneamente orientação sexual com o evento traumático”, afirma a médica. Segundo a pesquisadora, algumas vezes os meninos também acabam confundindo o abuso com rito de passagem, como se fosse uma coisa própria da masculinidade.

Além disso, os meninos são mais estimulados pela sociedade em geral e pelas famílias a não expressarem suas emoções, vulnerabilidades e fraquezas. Eles podem esconder mais uma situação de violência sexual do que as meninas.

Como destacam os autores do estudo com os universitários, prevenir a violência sexual contra crianças e adolescentes deveria ser o maior objetivo de todos os programas de saúde pública, já que é um ato de brutalidade que deveria chocar a sociedade e ser tratado como crime hediondo. “O resultado final é sempre trágico para homens e mulheres”, diz Vitalle.

Para saber mais:
Livro: Memórias da Dor – Histórias, Vivências e Trajetórias de Jovens Vítimas de Violência Sexual, de Maria Sylvia de Souza Vitalle e Flavia Calanca da Silva (Editora Dialética).

Esse conteúdo foi oferecido em parceria com Vibra, em prol da campanha contra a exploração sexual de crianças e adolescentes.

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