Eu, Leitora

Meu nome é Sheila Macedo, tenho 32 anos, e fui viciada em jogos de azar. Tudo começou há 5 anos, quando um primo meu me mostrou um site para apostas esportivas.

No começo, parece que você tem tudo sobre controle, falava para as pessoas que aquilo não era um problema e não queria que ninguém se metesse na minha vida. Lembro que após as primeiras apostas ganhei uns R$ 200 reais e aquilo se tornou a prova que eu podia crescer na vida.

O vício em jogos de azar pode ser comparado a um vício em drogas. Eu tinha acesso a tudo na tela do meu celular. Na época, eu era assistente administrativa e ganhava cerca de R$ 800,00. Então, pensei que poderia mudar minha vida e da minha família com o que eu ganharia.

Comecei a viver para jogar. Virava a noite jogando, não comia, emagreci uns quinze quilos naquela época. Caia qualquer quantia no meu celular e eu já jogava. Meu salário caia no dia primeiro de todo mês e no dia seguinte, já tinha perdido tudo.

Dentro de mim, era um sentimento angustiante. Porque, ao mesmo tempo que me sentia péssima por gastar tanto, queria jogar mais, pois ficava entorpecida e tinha que recuperar o dinheiro perdido.

A pandemia

Chegou a pandemia, perdi meu emprego, pois ficava o dia inteiro no celular apostando. Em 2021, vi que influenciadores começaram a divulgar outras casas de apostas e conheci o que é popularmente conhecido como o ‘jogo do foguetinho’ [ou "jogo do aviãozinho"].

Falo que aquele foguete te leva lá para cima só para te fazer cair com tudo no chão. Os influenciadores só mostram eles ganhando e acabei achando que seria assim também.

Mas não, eu não ganhava na mesma proporção que perdia. E como eu necessitava jogar o tempo todo, comecei a pedir dinheiro emprestado. Comecei pedindo R$ 50 para minha irmã, e depois novas quantias, para meus pais, amigos e familiares.

Não era o suficiente. Precisava de mais e mais. Foi quando tive o primeiro contato com o primeiro agiota. Como eu estava sem emprego, eles não confiavam que eu fosse devolver, então eu pedia quantias baixas, como R$ 500 reais e dizia que iria devolver com juros de 50% no dia seguinte.

Perdia todo o dinheiro e acabava pedindo mais. Eu ia convencendo os agiotas que daria certo. Nesses dois anos que fiquei jogando, pedi dinheiro para mais de 46 agiotas. Quando chegou no limite, estava devendo ao todo, com juros e tudo mais, cerca de R$ 400 mil.

Sheila Macedo mostra o antes e depois do vício. Ela emagreceu mais de 15 quilos e entrou em depressão. Hoje, curada, ajuda outras pessoas a saírem do vício — Foto: Reprodução
Sheila Macedo mostra o antes e depois do vício. Ela emagreceu mais de 15 quilos e entrou em depressão. Hoje, curada, ajuda outras pessoas a saírem do vício — Foto: Reprodução

Sem saída

Perdi a noção de tempo, não sabia quando era dia, quando era noite, só sabia jogar sem parar. Quando não jogava, pensava em me matar. Não entendia como tinha chegado àquele ponto. Olhava para a avenida cheia de carros e cogitava pular ou me encher de remédios. Sentia vergonha de mim e pavor de contar para minha família.

Minha irmã percebeu que algo estava errado e veio falar comigo. Não consegui contar, eu queria, mas na hora travei. Ela me disse então que iria passar o contato de uma psicóloga que era amiga dela e que eu precisava de ajuda.

Uma semana depois, estava no consultório dela e quando pisei na sala e ela perguntou o que estava acontecendo, só conseguia chorar e falei tudo. Contei das apostas, dos pensamentos, o quanto de dinheiro eu estava devendo e como me sentia envergonhada de tudo aquilo.

Ela foi a primeira pessoa que me ouviu e me acolheu. Mostrou que tudo poderia ser solucionado, mas pediu para falar com a minha família e eu autorizei.

Seis meses trancada em casa

O dia que meus pais e minha irmã souberam do meu vício, considero ter sido o pior dia da minha vida. Eles brigaram comigo porque não entendiam como eu tinha chegado àquele ponto, algo que nem eu sabia.

Mas, ao mesmo tempo, eles me acolheram e disseram que iriam me ajudar. Muitas pessoas se afastaram de mim, não tenho amigos, mas minha família, apesar de tudo, me estendeu a mão.

Alguns familiares disseram aos meus pais que deveriam ter deixado eu me virar sozinha, mas largar alguém nessa situação é desumano. Me sinto mal pelo fato deles terem vendido duas casas que eles tinham e o carro da família, mas aos poucos fomos pagando todos para quem eu devia dinheiro.

Apesar de me apoiarem, eles ainda não confiavam em mim. Passei seis meses trancada em casa sem acesso ao celular ou ao computador. As únicas pessoas que tinha contato eram meus pais e minha irmã e só saia para ir para a psicóloga.

Tentei me matar e quiseram me internar, minha mãe que não deixou. Mas, com o tratamento e acompanhamento médico, fui melhorando. Tive uma recaída. Depois disso, eu prometi a mim mesma que nunca mais me colocaria nessa situação.

Tinha dois trabalhos para pagar a dívida. Trabalhava de manhã como vendedora e de noite em uma pizzaria. Era exaustivo, mas sabia que precisava fazer isso. Atualmente, 98% da dívida está paga e se alguém fala de jogos para mim sinto nojo, nunca mais joguei.

Apoio

Quando voltei para a internet lentamente, percebi que assim como eu outras pessoas estavam passando pelo mesmo. Na loja em que trabalho aqui em Salvador, na Bahia, algumas funcionárias jogavam. Quando contei minha história para elas, elas também falaram que tudo estava sob controle. Até que elas vieram falar comigo que estavam perdendo muito dinheiro e não sabiam o que fazer.

Foi aí que surgiu a ideia de ajudar aconselhando ex-jogadores. Não criei um grupo, eu converso particular com cada um. Oriento, dou força, aconselho. Muita gente chega até mim no Instagram ou em outras redes sociais falando que está pensando em se matar depois de perder tudo. Faço isso para a pessoa não se sentir sozinha, para criar uma rede de apoio. Chega uma hora que não jogamos mais pelo dinheiro e sim pelo prazer, pois perdemos o prazer da vida.

Todos os dias recebo ligações de ex-viciados ou de familiares que não sabem o que fazer. Sinto que esse é meu propósito depois de tudo que passei. Meu maior intuito é mostrar que conseguimos vencer esse "câncer" da geração, esse jogo que veio pra matar e destruir. Passei os piores dias da minha vida e não desejo nem para meu pior inimigo.

Mas, com a ajuda dos familiares, do apoio psicológico e tratamento, hoje eu superei. Cada dia é uma vitória e quero ajudar cada vez mais pessoas a saírem desse mal."

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