Comportamento
Por , redação Marie Claire — São Paulo

Em uma sociedade que sexo e romance é assunto da maioria das produções,-- dá pra citar de cabeça séries como Sex and the City e um catálogo recheado de letras românticas no repertório de Taylor Swift-- quem se identifica como assexual e/ou arromântico pode se sentir um pouco deslocado. Apesar de ser um tema pouco falado mídia tradicional, as assexuais existem: segundo dados do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, quase 8% das mulheres brasileiras se identificam com o termo.

Dentro da sigla LGBTQIAPN+, o “A” representa os assexuais-- uma pessoa que tem pouca ou nenhuma atração sexual. A psicóloga e CEO da plataforma Vittude, Tatiana Pimenta, explica que a assexualidade é uma orientação sexual e também um termo guarda-chuva, já que ela existe dentro de um espectro. Abaixo a especialista exemplifica algumas:

  • Demissexual: pessoa sente atração sexual somente após desenvolver um vínculo afetivo com outra pessoa;
  • Assexual estrito: pessoa que não sente atração sexual em nenhum momento;
  • Grayssexual: pessoa que sente atração sexual somente em determinadas circunstâncias;
  • Frayssexual: pessoa que sente atração sexual apenas quando não há um vínculo afetivo formado;
  • Cupiossexual: pessoa que não sente atração sexual por outros, mas tem desejo sexual e vontade de ter uma vida sexual ativa;
  • Assexual fluído: pessoa que ora se sente como um demissexual, ora se sente como um grayssexual. Em outras palavras, é alguém cujos desejos sexuais flutuam ocasionalmente.

A escritora Malu Costacurta, de 21 anos, faz parte da comunidade. Ela se percebeu como assexual aos 19 anos, ainda que “sempre tenha tido aquela vozinha no fundo de sua mente falando”. Antes, no entanto, ela não se aceitava muito bem: “Era aquele preconceito internalizado, mas não adiantava fugir, foi aí que pesquisei mais para entender”, conta ela em entrevista com Marie Claire.

Seu primeiro contato com o termo aconteceu por meio das redes sociais, mas a jovem só foi atrás de fato depois do término de seu último relacionamento. “Já tive dois namoros de longo prazo e em nenhum deles eu sabia sobre minha assexualidade”, diz.

“Sempre fui muito transparente em relação às minhas vontades e a forma que sentia atração, só realmente não aceitava o termo na minha vida. Assumir uma ‘bandeira' me dava medo.”

Depois de ler mais sobre o assunto, Malu passou a se aceitar: “Apesar de ter demorado muito para conseguir reunir coragem para falar isso publicamente, nunca tive problema de expor o assunto nas redes sociais, especialmente como escritora. Todos os meus livros têm protagonismo assexual.”

“Porém, na minha vida pessoal, tinha muita apreensão em me abrir. Se conhecia uma pessoa nova e saía com ela, era sempre meio assustador. Hoje em dia é mais fácil, já sei quais são meus limites e que tenho direito de impô-los. Se alguém não estiver disposto a respeitar, então não quero essa pessoa na minha vida.”

Dentro do espectro assexual, ela se identifica como greyssexual: “É uma área da sexualidade de quem sente atração sexual muito raramente ou até sem querer. A questão é que me atraio sexualmente por outras pessoas, mas geralmente com baixa intensidade.”

Malu Costacurta coloca o protagonista assexual em todos os seus livros — Foto: Reprodução/ Instagram
Malu Costacurta coloca o protagonista assexual em todos os seus livros — Foto: Reprodução/ Instagram

Além do termo atração sexual, também existe a atração romântica. A arromanticidade, por exemplo, é uma orientação romântica que descreve pessoas cuja experiência de romance está “desconectada das expectativas normativas da sociedade, geralmente a experimentar pouca ou nenhuma atração romântica”.

'Como poderia sentir falta de algo que nunca tive?'

Para a influenciadora Valesca Farias, que é assexual e arromântica estrita, seu interesse em ambos é zero. “Quando você é mulher e começa a se interessar por outras mulheres, isso pode te chocar. Mas e quando não acontece absolutamente nada, que nem eu? Achava que só não era a hora certa, mas a ‘hora’ acabou nunca chegando pra mim”, reflete.

A jovem, de 21 anos, diz que nunca apresentava interesse em nenhum garoto e, por isso, uma menina de sua escola a julgou como lésbica “de forma pejorativa”. “Pensei comigo mesma ‘e se?’ e revisei todas as meninas que conhecia, porém nenhuma me despertava interesse. E eu só tinha 13 anos na época.”

“Contudo, por conta das pressões sociais, acabei me identificando com toda certeza como assexual e arromântica apenas aos 19 anos. Durante minha adolescência toda, ainda esperava que só não era ‘a hora certa’”, completa ela.

A jovem ainda passa por preconceitos da própria família e ouve comentários como "você só não encontrou a pessoa certa" ou que "é muito nova". “Atualmente, tenho plena concepção da minha sexualidade e não é algo que me afeta. Acho que estou em uma bolha na internet que faz eu me sentir confortável para falar sobre o assunto.”

Valesca afirma que sua sexualidade é “algo que não faz diferença, nem positiva ou negativa”. “Como poderia sentir falta de algo que nunca tive? Não sinto falta do par de asas nas minhas costas, já que nunca existiram e não me faz diferença”, conclui.

A jovem se identifica como assexual e arromântica — Foto: Reprodução/ Instagram
A jovem se identifica como assexual e arromântica — Foto: Reprodução/ Instagram

Outro exemplo da comunidade é a modelo e ativista britânica Yasmin Benoit. Ela também se identifica como assexual e arromântica e se tornou uma das principais vozes quando o assunto é visibilidade aroace (como são chamadas pessoas arromânticas e assexuais em inglês).

Além de ter sido a primeira pessoa que fundou uma iniciativa em prol dos direitos assexuais do Reino Unido, a modelo criou uma hashtag no X (antigo Twitter) chamada #ThisIsWhatAsexualLooksLike, um movimento pela representatividade com o objetivo de "dissipar a ideia de que há uma maneira assexual de parecer ou se vestir."

"As pessoas costumam dizer que não pareço assexual e que não me visto como assexual, mas como você acha que isso se parece? Ainda existe muito estigma, então pessoas assexuais podem passar décadas sem perceber que há uma palavra para o que não estão sentindo", disse ela ao Paper Magazine, em 2019.

Dentro da hashtag, a autora do sucesso Heartstopper é umas das pessoas que celebrou sua visibilidade. Alice Oseman ganhou uma grande base de fãs com as HQs e, posteriormente, com a série na Netflix. Ela, que se identifica como assexual e arromântica, diz em entrevista ao The Guardian que foi para a universidade "se sentindo uma espécie de forasteira", sem nunca ter se apaixonado por ninguém, apesar de gostar de histórias de romance fictícias. Na época, ela não tinha uma linguagem para descrever seus sentimentos-- ou a falta deles.

"O mundo é obcecado por sexo e romance. E se você não tem isso, sente que não alcançou algo que é realmente importante". Oseman tenta destacar a importância dos relacionamentos platônicos em seu próprio trabalho. Até mesmo em Heartstopper, que é uma história de amor, a amizade é extremamente importante .

Cofundadora do Dia Internacional da Assexualidade, Yasmin Benoit deu dicas ao Metro UK sobre como “como navegar em um mundo obcecado por sexo quando se é assexual.”

A ativista respondeu: “Se estiver tentando namorar, faça-o em situações mais platônicas e desenvolva a partir daí. Procure amigos em comum em vez de estranhos, pois é um pouco menos provável que eles desrespeitam seus limites. Se você parecer confiante em sua assexualidade, as pessoas estarão mais inclinadas a levá-lo a sério.”

“O mundo pode parecer completamente obcecado por sexo, dependendo do que você consome. Há muitos hobbies, livros e filmes que não são centrados em sexo e pessoas que também não se importam muito com isso, sejam elas assexuais ou não. Você só precisa encontrá-las e fazer escolhas menos convencionais”, finaliza.

Ativista britânica é uma das principais vozes da comunidade aroace — Foto: Reprodução/ Instagram
Ativista britânica é uma das principais vozes da comunidade aroace — Foto: Reprodução/ Instagram
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