Diário da Cozinheira

Por Carla Pernambuco

Chef de cozinha

em colaboração para Marie Claire — São Paulo

O verão brasileiro começa em 22 de dezembro e o calorão não quis saber, chegou antes. É esquentar e eu já me pergunto: como será que está na Suíça agora? De acordo com o Weather Channel, a previsão é de agradáveis temperaturas entre -3ºC e 6ºC, ainda antes da entrada oficial do inverno. Posso imaginar mil coisas para fazer em uma temporada por lá e elas envolvem queijos, vinhos, chocolates e belas paisagens nevadas. No entanto, mesmo que eu acredite que sei tudo que vou encontrar, minhas definições precisam ser atualizadas: tem muito mais sabor, alegria e surpresas no elegante país alpino. Aumente o frio no ar-condicionado e sinta o clima com as dicas dessa rota deliciosamente gelada.

St. Moritz é o must-go suíço, segundo Carla Pernambuco — Foto: Getty Images
St. Moritz é o must-go suíço, segundo Carla Pernambuco — Foto: Getty Images

  • St. Moritz é o must-go suíço, com tantas coisas para fazer em seus 1.800m de altitude que atravessam estações — e gerações: os programas são para todas as idades. Grande parte das atividades esportivas da programação deste inverno acontecem no icônico Lago St. Moritz: desde um glamuroso campeonato de polo na neve, a 39º edição da Copa do Mundo de Polo na Neve, em janeiro de 2024, até, em fevereiro, o tradicional White Turf – International Horse Races, que acontece há mais de 100 anos nas montanhas de Engadina sobre o lago congelado, onde os cavalos correm a incríveis velocidades. Há, ainda, um concurso automobilístico, The I.C.E., no auge da temporada, quando o inverno transforma o Lago St. Moritz em um cenário branco e cintilante desafiado pelo calor dos carros e da torcida de admiradores. St. Moritz é também um lugar que festeja sua gastronomia: o famoso St Moritz Gourmet Festival celebra, em 2024, 30 Years of Culinary Excellence in the Engadine - A Fireworks of Stars, que terá a presença de 30 estrelas da gastronomia internacional.

É bom lembrar que a Suíça possui quatro línguas oficiais: francês, alemão, italiano e o romanche, língua românica derivada do latim. Inglês não é oficial, mas com o português somam as duas línguas estrangeiras mais faladas no país. Portanto, a comunicação é mais um ponto favorável.

Zermatt, uma estação de esqui de conto de fadas — Foto: Getty Images
Zermatt, uma estação de esqui de conto de fadas — Foto: Getty Images

  • Mais distante, aos pés da majestosa montanha Matterhorn, fica Zermatt, uma estação de esqui de conto de fadas — ou um conto de fadas que é estação de esqui. Próxima à fronteira com a Itália, Zermatt inaugura neste inverno a mais alta travessia contínua dos Alpes por teleférico, conectando a estação de montanha Mattherhorn Galcier Paradise à estação de Test Grigia, na Itália. Já pensou?

Caprices Festival acontece em março em uma das estações mais charmosas nos Alpes suíços: Crans-Montana — Foto: Getty Images
Caprices Festival acontece em março em uma das estações mais charmosas nos Alpes suíços: Crans-Montana — Foto: Getty Images

  • Muito ouvi falar desse lugar que ainda não conheço, mas faz parte da rota de estações de esqui mais charmosas nos Alpes suíços: Crans-Montana. Também no Cantão de Valais, o lugar combina esportes de inverno com gastronomia local e sofisticada, em altitudes que variam de 1.500 a 3.000 metros. No tour gastronômico, encontram-se cabanas pitorescas nas montanhas com menu da região e restaurantes Michelin, como os famosos Franck Reynaud l'Ours, do chef Franck, e LeMontBlanc, do LeCrans Hôtel & Spa. Em março, acontece por lá o Caprices Festival, um agito nas alturas com um palco de vidro e DJs do mundo todo sacudindo as montanhas.

Gstaad é bastante conhecida pelas celebridades que a frequentam no inverno — Foto: Getty Images
Gstaad é bastante conhecida pelas celebridades que a frequentam no inverno — Foto: Getty Images

  • Do outro lado, no cantão de Berna, Gstaad é bastante conhecida pelo número de celebs que a frequentam na temporada de inverno. A estação possui o Elevador Eggli, um marco arquitetônico nas montanhas com os teleféricos de design Porsche. Ali se instalam foodtrucks com a gastronomia do luxuoso The Alpina, assinada pelo seu time de chefs. Se a proposta for apreciar o clássico fondue em uma paisagem estonteante, o Fondueland Gstaad é o lugar perfeito. E quem quer iniciar no esporte, Gstaad inaugurou recentemente cinco parques especializados para aprendizagem de esqui, tanto para crianças como adultos.

E os chocolates, queijos e vinhos?

O Train du Chocolat, existe desde 1915: ele sai da Gare de Montreux para chegar em Broc, na Suíça — Foto: Divulgação: https://www.myswitzerland.com/en/experiences/chocolate-train/
O Train du Chocolat, existe desde 1915: ele sai da Gare de Montreux para chegar em Broc, na Suíça — Foto: Divulgação: https://www.myswitzerland.com/en/experiences/chocolate-train/

  • Tudo junto: imagine você, nesta temporada suíça, dentro de um trem passeando por paisagens belíssimas entre as regiões produtoras de vinhos, enquanto degusta vinhos locais com pães e folhados. A primeira parada é na cidade de Gruyères, onde ... adivinha? Sim, onde você vai conhecer a produção do famoso queijo suíço, aprender sobre esse produto nacional e experimentar seu sabor in loco. De volta ao trem, o destino é a cidade de Broc, que desde 1898 é a sede da fábrica Cailler-Nestlé — e aí a festa é com eles, os chocolates! Esse é o Train du Chocolat, que existe desde 1915: ele sai da Gare de Montreux para chegar em Broc — o passeio dura 7 horas e 30 minutos (lembre-se da pontualidade suíça, outro precioso patrimônio).

Algumas informações importantes para carregar junto com a curiosidade e o apetite antes de embarcar: a Suíça produz 700 tipos de queijos, todos feitos com leite suíço e sem nenhum aditivo; os queijos são avaliados em concursos nacionais que elegem os melhores do país e seus sabores variam entre o suave e o marcante, entre texturas do cremoso ao duríssimo – as classificações são: extra duro, duro, semiduro, cremoso, fresco, cream cheese e fundido.

O vinho que você degusta no vagão durante o percurso é nacional. A Suíça possui seis regiões produtoras e uma variedade de mais de 250 castas. As regiões de maior produção são aquelas fronteiriças com a França e Itália — Vaud e Valais, respectivamente. Uma suíça ou um suíço bebe por ano 38 garrafas de vinho (cada um) e, dessas, 14 são nacionais. Uma curiosidade: em Valais está localizada a menor vinícola do mundo, a Saillon, que produz apenas três vinhos, e ela pertence ao Dalai Lama.

Uma país pequeno, sem litoral, de natureza exuberante, uma cultura moderna que preserva tradições, paisagens que convidam à contemplação, águas limpas, cidades com história e desenvolvimento e um povo diverso que é igual no respeito, na cordialidade — é tudo isso com as temperaturas lá em baixo e as caminhadas lá em cima. Imagina quando chegar o inverno paulistano, onde vou querer passar um verão impecável e charmoso?

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