Michelli Provensi

Por Michelli Provensi

Multiartista por vocação, Michelli se divide entre a passarela, cabine de dj e literatura. É autora dos livros Preciso Rodar o Mundo e Marinheira de Açude.


Michelli Provensi — Foto: Arquivo Pessoal
Michelli Provensi — Foto: Arquivo Pessoal

Por vários dias printei posts de escritores amigos na tentativa de organizar um roteiro. Botei despertador no dia que iniciavam as vendas de ingressos, separei roupas confortáveis e quentes, patins novos e livros de autores da programação, na certeza que teria a oportunidade de pedir autógrafo. Tudo isso porque era a minha primeira.

De primeira, a gente comete erros, a começar pelo sol que não estava previsto de dar as caras pela meteorologia que indicava só dias de fortes chuvas e que de tão intenso derrete a cola da sola da minha papete. Os prints se perderam na galeria de fotos do celular junto a inúmeras imagens de pôr do sol, casarões coloniais refletidos nas poças d'água de novembro e nem se tivesse todos (no meu caso nenhum) planeta em virgem, teria dado conta de me organizar para programação oficial e paralela que para mim são indissociáveis. Primeira lição da Flip: o programa não se organiza, ele se apresenta.

Michelli Provensi — Foto: Arquivo Pessoal
Michelli Provensi — Foto: Arquivo Pessoal

Aflita de ter apenas comprado ingressos para três mesas – muitas instantaneamente esgotadas – e preços salgados, fui agraciada com a credencial de imprensa da Marie Claire. Presente de véspera. No entanto, por mais que tivesse acesso à tenda principal, a segunda lição: nada se perde na festa literária em assistir de graça o telão da praça.

Aliás, muitas vezes escapei da tenda fechada com o ar-condicionado atacando a minha rinite para continuar acompanhada de um outro público mais diverso, embaixo de outro toldo, aberto, assistindo as vozes que diziam: escrever um livro é romper com a vida que você levava antes; nomear uma existência é o mesmo que nomear uma obra; são falas interessadas em vestir a literatura, que escrevem desde um Brasil cabloco, indígena, negro ou de lugares que tentam esconder sua memória…

Não só como leitora e correspondente, participei como escritora de uma mesa composta por cinco autoras, em um dos muitos eventos paralelos. Corpo, casa e palavra: o feminino na literatura. Confesso que foi apenas um minuto antes do bate papo começar que entendi não ser preciso intelectualizar minha fala, era preciso apenas citar como minhas personagens femininas eram retratadas no livro. As companheiras estavam mais preparadas, trouxeram reflexões e referências.

Michelli participou como autora na mesa Corpo, casa e palavra: o feminino na literatura — Foto: Arquivo Pessoal
Michelli participou como autora na mesa Corpo, casa e palavra: o feminino na literatura — Foto: Arquivo Pessoal

Eu flui no improviso e lembrei de uma frase da escritora Camila Sosa Villada sobre qual tipo de perigo ela oferecia: "Acho que é a ameaça de uma pessoa sem assunto, sem informação acadêmica, sem dinheiro que de repente escreve um livro e tem muito sucesso. Eles não suportam o nosso sucesso". Além de Camila, Amara Moira - 10 anos depois de Laerte - presenças travestis nesta edição onde as mulheres foram maioria no programa e pela primeira vez, uma mulher negra foi a homenageada: a maranhense Maria Firmina Dos Reis.

"Recomenda-se não levar patins" — Foto: Arquivo Pessoal
"Recomenda-se não levar patins" — Foto: Arquivo Pessoal

Fez calor e para compensar o figurino inadequado, comprei um sorvete numa livraria em cuja parede havia desenhado em letras charmosas a história dos 20 anos da Flip, seu programa e curiosidades dos convidados de cada edição. Na primeira, só havia homens, entre eles Ruy Castro, Ferreira Gullar, Millôr Fernandes e Chico Mattoso, que recomendou não levar patins. De primeira a gente erra, às vezes por querer demais.

Michelli Provensi levou patins à Flip — Foto: Arquivo Pessoal
Michelli Provensi levou patins à Flip — Foto: Arquivo Pessoal
Paraty — Foto: Divulgação
Paraty — Foto: Divulgação
Michelli Provensi conta a experiência em sua primeira Flip — Foto: Arquivo Pessoal
Michelli Provensi conta a experiência em sua primeira Flip — Foto: Arquivo Pessoal
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