• Beatriz Cristina
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Dia do Orgasmo (Foto: Reprodução/Giphy)

O orgasmo pode gerar reações (voluntárias e involuntárias) diferentes em cada pessoa  (Foto: Reprodução/Giphy)

La petite mort (ou a pequena morte, em tradução literal) é a forma que os franceses usam para descrever o orgasmo. Essa foi a definição que encontraram para traduzir a sensação e que tem a ver com o relaxamento total, o descontrole do corpo e a breve perda de consciência que acompanha os segundos seguintes ao ápice do prazer sexual.

Por mais que seja uma resposta fisiológica do corpo, muitas pessoas ainda têm dúvidas sobre o tema. Por vezes, esses questionamentos podem até impedir que consigam acessar o próprio prazer. Para esclarecer desde as perguntas mais básicas até as que chegam aos consultórios de terapeutas e sexólogos, ouvimos especialistas que trabalham para dismistificar o tabu e deixar o tema mais acessível e menos complicado

O que é o orgasmo?

O orgasmo é um prazer muito característico, diferente de outros estímulos sexuais. Ele acontece quando o ponto máximo da excitação é atingido, relaxando os músculos do corpo, com duração média entre cinco a 15 segundos.

“É uma descarga de energia no corpo. Mas, para acontecer, o orgasmo depende de uma sequência de fatores. É preciso que seja construída uma tensão de carga, para, então descarregá-la”, explica Mariana Stock, fundadora do Prazerela, psicanalista e terapeuta orgástica.

Quais sensações o orgasmo provoca?

Na prática, as sensações variam de pessoa para pessoa, por isso não podem ser generalizadas. “É uma situação bastante subjetiva, mas existem algumas respostas do corpo que são mais comuns”, diz Mariana.

“Normalmente, ele é acompanhado do aumento dos batimentos cardíacos e da pressão arterial, tremores, algumas contrações involuntárias de todo o assoalho pélvico e contrações voluntárias de outras partes do corpo, como pés e mãos”, detalha Ana Canosa, sexóloga e psicóloga. Reações como riso, choro e vocalizações como gritos e gemidos também são recorrentes.

Além do relaxamento, o orgasmo promove a liberação de substâncias como ocitocina e dopamina. “A ocitocina dá uma sensação de bem-estar e aconchego, já a dopamina garante foco e motivação, além de prazer e gratificação”, completa.

Como saber se eu tive um orgasmo?

A dúvida sobre já ter tido ou não um orgasmo é muito comum entre as pessoas que Ana atende. “Acredito que isso aconteça, porque estamos falando de sexualidade feminina de maneira mais aberta e clara há pouquíssimo tempo. Então, muitas pessoas não conhecem de fato o seu corpo e não conseguem ter essa percepção sensorial”, opina Ana.

“Também existe a idealização de que o orgasmo sempre é algo arrebatador, muito forte, mas não funciona assim. É importante lembrar que existem variações de intensidade para essa descarga”, esclarece.

Distração cognitiva forte, preocupação com outras situações e falta de foco no momento podem levar alguém a deixar de perceber o próprio corpo, aponta a sexóloga. “Normalmente quando um orgasmo acontece, a gente sabe. Mas pode acontecer de algumas pessoas não acharem que aquilo era o ápice da excitação sexual”, pontua. 

É possível nunca ter tido um orgasmo?

Sim, é possível. A anorgasmia é um transtorno que, literalmente, significa falta de orgasmo. Essa condição pode ser primária, quando a mulher nunca chegou ao clímax, ou secundária, se ela tinha orgasmos, mas a partir de um determinado momento da vida, passou a não ter mais.

“Em nível mundial, sabe-se hoje que 25% das mulheres sofre de anorgasmia e, na maioria dos casos, as causas são psicoemocionais ou comportamentais. São poucas as pessoas que possuem condições fisiológicas que as impedem de gozar”, diz Ana.

É possível também que a anorgasmia seja situacional. Isso quer dizer que em algumas situações a pessoa tem o orgasmo e em outras não. “É muito comum receber pacientes dizendo que têm orgasmo na masturbação e não têm durante a relação sexual”, conta. “Isso diz muito sobre a autonomia feminina para a comunicação do prazer, sobre a dificuldade que ainda existe de falar para o parceiro quais são os estímulos que excitam mais e estabelecer uma troca satisfatória.”

+ Gaby Amarantos: "Não preciso de um parceiro para chegar ao orgasmo"

Mariana conta que essa situação é bastante comum em relações heterossexuais, quando há uma referência falocêntrica de que o prazer precisa de penetração para ser alcançado. “É preciso abstrair essa mentalidade. Quando a gente fala da sensação do orgasmo, existem várias maneiras de chegar até ela, para além do sexo prenetativo. O corpo possui diversos pontos de prazer que fazem parte da excitação, desde o beijo na boca até o estímulo clitoriano”, informa Mariana.

Apenas uma minoria das mulheres conseguem gozar apenas com penetração vaginal, reforça. “É algo que vai contra a anatomia feminina, já que a vagina é uma região pouco inervada, especialmente por se tratar do canal de parto”, destaca. “Por mais que algumas sintam o orgasmo com o estímulo vaginal, o nosso maior centro de nervos e sensibilidade é o clitóris.”

Estar confortável, conhecer o próprio corpo e entender do que você precisa para disparar o orgasmo é essencial para alcançar o prazer de forma positiva, acredita Ana. A anorgasmia, inclusive, pode ser tratada com exercícios de autoconhecimento.

É verdade que mulheres demoram mais tempo para gozar?

De acordo com as especialistas, é verdade. Em média, as mulheres demoram 13 minutos para gozar. Em relações heterossexuais, pode-se afirmar que a mulher demora o dobro do tempo que um homem leva para chegar ao orgasmo, diz Ana.

Contudo, nas especificidades, alguns fatores podem alterar esse tempo. “Às vezes, a pessoa está extremamente excitada o dia inteiro e com uma breve estimulação já tem o orgasmo”, esclarece.

A paixão também é um critério importante para se levar em conta. “Se você está completamente apaixonada por alguém, o momento da transa vai ser muito mais excitante. Picos hormonais interferem para chegar ao auge do prazer mais rápido”, continua. Estímulos visuais e sensoriais mais intensos, combinados, podem acelerar o processo da mesma forma.

O ponto G existe?

Não há consenso sobre isso entre a comunidade científica ainda. “Anatomicamente, quando se fez pesquisas não foi encontrado nenhum ponto específico diferente no canal vaginal”, explica a sexóloga. “Mas existem muitas mulheres que vão relatar que quando colocam o dedo no primeiro terço do canal vaginal, na parte anterior, sentem essa região mais sensível.”

Alguns especialistas acreditam que essa área pode ter alguma ligação com o clitóris e, por isso, é um ponto de prazer maior. “O clitóris é uma estrutura que fica montada em cima da uretra e da vagina. Então, no momento em que se faz o movimento de ‘vem cá’ com os dedos, pode haver o estímulo dos nervos da região clitoriana”, esclarece Mariana.

E a ejaculação feminina?

Também não existe um consenso sobre esse fenômeno. O que se sabe é que algumas pessoas podem produzir e expelir um fluido pelo canal vaginal, com características semelhantes ao líquido prostático, quando ficam muito excitadas.

“As glândulas parauretrais (também chamadas de glândulas Skene), que são responsáveis pela secreção, são contraídas junto aos músculos do assoalho pélvico durante o orgasmo. Com isso, elas podem liberar o líquido pela uretra, processo que é chamado de ejaculação feminina por alguns estudiosos”, diz Mariana.

Porém, é importante destacar que a ejaculação feminina não é um tipo de orgasmo e também não acontece com todo mundo. “Algumas mulheres não liberam esse líquido, mesmo durante um orgasmo intenso. Também é uma situação normal”, reforça Ana.

+ Prazer: Ejaculação feminina existe? Significa orgasmos intensos? Toda mulher pode?

Os orgasmos múltiplos podem acontecer?

Podem sim! A fase resolutiva é a última etapa da resposta sexual, logo após o orgasmo. Nesse momento, os órgãos estão voltando ao estado anterior, pré-tensão e descarga. “Como esse processo acontece mais devagar na fase feminina do que na fase masculina,  é possível continuar com a estimulação que pode desencadear em um novo orgasmo”, aponta Ana.

“De novo, nem todas as pessoas experimentam orgasmos múltiplos. As que ficam com o clitóris muito sensível após um orgasmo, geralmente não gostam de serem tocadas novamente”, completa.

E também é importante observar que existem intervalos entre um orgasmo e outro, eles não acontecem em sequência. “Esse tempo não é padrão, mas, em média, podem acontecer entre um espaço de três e cinco minutos”, conta Mariana. “O importante é que o corpo não perca a excitação e que o campo de estímulos nas zonas erógenas seja mantido.”

Dicas para chegar lá

“Acho que o mais importante é a autopermissão para ter prazer. Para isso, a entrega para a experiência é fundamental”, recomenda Ana. “Dê um foco total nas sensações, estimule o clitóris. Quem tem mais dificuldade, pode apostar em um sex toy. Uma dica é contrair a musculatura pélvica assim que sentir que a excitação está mais forte, porque isso ajuda a bombear sangue para a região genital.”

“Estar relaxada também é um bom começo para conseguir gozar. Acredito que essa experiência pode ser desenvolvida primeiro na individualidade, para entender o que funciona e o que não funciona. Se estiver acompanhada, lembre-se de que o sensorial é muito importante. O toque, o carinho, o olhar, o beijo… Tudo é sexo e estímulo de prazer”, finaliza Mariana.