No extremo Sul, sob intensos frio e calor, está uma terra larga e rústica, solta aos ventos e ao tempo, pintada em coxias e vales úberes, assentada no bioma único que (também) a define, o pampa. É nesse chão que cresce uma cultura incomum, centrada em valores e tradições que não são simples nem tão complexos, mas são sólidos. Crescem também uvas, oliveiras, nozes, sabores locais. É nessa cepa que brotam homens e mulheres em destemido esforço para empreender suas vidas. E é dessa raiz que vemos irromper ações, atitudes de uma solidariedade valente, campo afora, cidade adentro, quando o que é a terra inunda.
É a história desse meu Rio Grande do Sul: luta e coragem. Foi assim e continua sendo agora, ao vivo, nas lives que estão apinhando o mundo de relatos e imagens das enchentes no estado. Visões desalentadoras, perdas irreparáveis, vidas alagadas. É dessa brava gente que recebemos também, em proporções superiores à tragédia, as cenas de uma peleja incansável para salvar vidas. E tudo o que “salvar vidas” representa, para um povo que coloca suor e sorrisos no seu solo, na familia, nos animais, nos negócios, na sua formação, em tudo em que empreende. O gaúcho é corajoso, aguerrido, sabemos, e mostra resiliência diante do caos e sofrimento, encarando cada batalha de uma vez tendo como foco alcançar a próxima batalha: a reconstrução.
Sou vinho dessa pipa, expressão dos vinhateiros para dizer: somos iguais! Gaúcha porto-alegrense, sinto de perto a dor que assola todo o estado, a capital, meus familiares, amigos, clientes, fornecedores, parceiros e parceiras. Em Porto Alegre, o Mercado Municipal recém-restaurado de um incêndio se sustenta cercado pela água; na orla do Guaíba, antes colorida com arte e gastronomia, museus e restaurantes, agora pintada pela lama, repleta de botes, jet-skis e voluntários; os restaurantes que não foram inundados, com as cozinhas a milhão preparando marmitas; ginásios, escolas, galpões de empresas lotados de mulheres, crianças, colchões, cobertores e mais voluntários; quem está a salvo, doa o que tem e o que consegue comprar, levando aos desabrigados conforto, comida e café. É tudo a mesma gente, o mesmo povo unido em gestos de solidariedade e apoio.
![Carla Pernambuco enaltece a coragem do povo gaúcho — Foto: Daniel Kondo](https://cdn.statically.io/img/s2-marieclaire.glbimg.com/NWlnvg2Likn_TH0pvs2D4BjxAPY=/0x0:1270x1280/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_51f0194726ca4cae994c33379977582d/internal_photos/bs/2024/v/V/KQubqKRXiU1tbBp0EmXw/3.jpg)
Fora do Rio Grande do Sul, inúmeras ações recolhem donativos, pix recebem valores que crescem exponencialmente com a boa vontade de uma população que quer colaborar. É uma rede extraordinária. Dia 17/06, às 19h, em São Paulo, o Jantar das Minas, no Manioca, da chef Helena Rizzo, reunirá as gurias para cozinhar e arrecadar fundos — estarei com elas. No dia 28/05, dez cozinheiros vão se encontrar na cozinha do Tuju, também em São Paulo, para preparar um jantar dedicado a doar a arrecadação — lá vou eu de novo. E meu novo livro, Tá no Forno, da Editora Senac, com 150 páginas de receitas para fazer no forno, vai ter lançamento especial em 10 de junho com a venda revertida para as ações solidárias em prol de meus conterrâneos.
![Dia 17/06 em São Paulo, o Jantar das Minas, no Manioca, arrecadará fundos para as vítimas do RS — Foto: Divulgação](https://cdn.statically.io/img/s2-marieclaire.glbimg.com/F3G8vgXYNxZqEbw5dqZm1OYlzGs=/0x0:3264x1922/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_51f0194726ca4cae994c33379977582d/internal_photos/bs/2024/f/Q/AQnGuCQU6rtgOOwMoB6g/jantar-mani-rs.png)
Obrigada.