Beleza

Por Paola Deodoro


Bruna Tavares — Foto: Divulgação
Bruna Tavares — Foto: Divulgação

Havia um abismo de performance entre o mercado de maquiagem no Brasil e as marcas internacionais até bem pouco tempo atrás. Pois eis que, com curiosidade sedenta e sensibilidade afiada para perceber o público, surgiu Bruna Tavares. A empresária de Campinas, jornalista de formação e blogueira de repercussão, controla hoje um império que gira em torno de 500 mil unidades de itens de make por mês, distribuídos em uma média de 300 produtos diferentes. Mas o volume não é, nem de longe, a principal característica do seu projeto.

A conversa da Bruna é sobre a equação entre qualidade, tecnologia e preço para chegar ao público mais amplo possível. "É pela inovação que a marca se posiciona e a minha atenção está voltada para onde o mercado falha. O consumidor de beleza é crítico, conhece bons produtos e quer novidade", conta a empreendedora que teve como primeiro hit um batom líquido igualzinho aos das marcas gringas. "Eu fiquei muito tempo estudando os produtos importados, indo a fundo nas listas de ingredientes, e entendi que a diferença estava na elasticidade da fórmula, que era o que garantia conforto durante o uso".

Isso foi em 2015. E de lá para cá, a relação entre ciência e tecnologia só aumenta. Trabalha com laboratório próprio, instalado no Brasil. Mantém um invejável dicionário de matérias-primas. E sempre opta por reinvestir parte dos lucros em estudos e novas possibilidades.

Ainda antes de lançar a marca, Bruna criou um precioso inventário de informações: o blog Pausa para Feminices. Lançado em 2009, ela se debruçava sobre as centenas de comentários de apaixonadas por beleza, elogiando, criticando e apontando desejos de um mercado que, até então, era muito carente. E dali se abasteceu (o blog foi extinto em 2021) de informações e insights para criar seus maiores sucessos, sempre alinhados com demandas sociais. Em 2020 foi a primeira marca nacional a criar uma tabela com 30 cores de base, divididas em categorias e subtons. Também desenvolveu itens multifuncionais com uma intensidade de pigmentos que o Brasil ainda não tinha visto. "Tenho consciência de que a indústria nacional cresceu com BT. É uma marca inovadora, cuidadosa. Todos os processos são muito bem pensados e eu penso na longevidade das ideias. Quero mesmo é fazer história", finaliza, dias antes de apresentar uma aguardada parceria com a Disney para lançar uma coleção inspirada na Minnie Mouse.

Onde tudo começou

"Eu tinha um blog, o Pausa Para Feminices, que começou em 2009 e foi finalizado em 2021. Tudo era mato quando eu comecei. Não existia a profissão blogueira. Tanto que na época, as blogueiras eram as jornalistas do mercado. Escrevia sobre moda, mas gostava muito de beleza, então fiz o blog para encontrar a minha turma – e ter um emprego, claro. Como jornalista comecei a me destacar muito fazendo matérias de maquiagem e de beleza, porque não tinha ninguém fazendo exatamente o que eu fazia. Depois de dois anos de blog eu fui chamada para fazer o meu primeiro batom. Em 2011 a Tracta fez um projeto pioneiro e chamou 13 blogueiras para fazer um batom. Eu fui a 13a. Nesse momento nasceu um dos meus maiores diferenciais, porque eu me destaquei muito pelo desenvolvimento de maquiagem. Hoje eu sou reconhecida por isso. Mas o batom que eu criei fez muito sucesso por dois motivos - que imprimiu na minha carreira até hoje. Como eu sempre fui apaixonada por maquiagem e tinha um contato muito legal com o público que gostava de maquiagem - o meu blog já tinha muitas visitas e meus posts tinham 400 comentários. Então eu já sabia o que as pessoas queriam. Na hora de fazer o batom, eu pensei em dois movimentos essenciais. Eu quis desenvolver uma cor que ninguém tinha. Pensava "Como eu vou cativar". Eu avaliei todos os batons que eu tinha, todos os batons que a minha mãe tinha, fui buscar o gap de mercado. É uma coisa que eu faço até hoje, que é buscar o gap. Minha atenção está voltada para onde o mercado falha. O que está faltando, o que o público está querendo e o mercado não está oferecendo? Então eu fiz um batom coral rosado, meio neon, super diferente. Na época o mercado só oferecia cor de boca, vinho, vermelho. E esse batom ficou muito diferente. Até hoje é uma cor diferente. E a ideia era que ele ficasse diferente em cada pessoa, o neon ficava mais acesso dependendo da pessoa, então chamou muita atenção. A cor foi a mais vendida do projeto e junto com isso, o blog cresceu muito. Mas também eu usei esse batom como marketing. Distribuí o produto para maquiadores, profissionais de beleza, em uma época em que ninguém fazia isso. E em vez de receber o dinheiro das vendas, eu troquei toda a comissão por mais batons. Não que eu não precisasse do dinheiro, mas eu vi como uma oportunidade de marketing. O lote era de 2 mil batons e minha comissão era de 10%, então eu recebi 200 batons para usar como cartão de visita. Assim eu fiz networking, queria muito fazer alguns contatos mas não tinha muito approach. E ainda a marca viu que estava dando certo e me mandou mais. Mandei para a Camila Coelho, lá nos Estados Unidos. Ela fez um post e vendeu 100 batons só pelo post. Aí a empresa viu resultado e me incentivou a continuar mandando pro meu mailing. Eu sou jornalista e sempre tive essa manha, esse olhar. Agora estou lançando uma coleção em parceria com a Disney e quem escreveu o release? Até hoje eu tenho essa coisa forte de liderar a comunicação da minha marca e procurar um gap de mercado".

Bruna Tavares testando fórmulas no BT Lab — Foto: Reprodução Instagram
Bruna Tavares testando fórmulas no BT Lab — Foto: Reprodução Instagram

À procura da fórmula perfeita

"Tenho investidores que acreditam muito no meu trabalho. Mas eu não sou fominha. Desde que comecei com investidores, nunca pedi reajuste para a minha parte. O que eu sempre quero mais é tecnologia. Na hora de renegociar, não é para ganhar mais, mas é para ganhar mais tecnologia para a marca. Eu cresço um degrau de cada vez. Eu tenho ambição, mas eu sempre priorizo a tecnologia. Eu sempre chego e peço para comprar um maquinário novo. Nunca chego pedindo para ganhar mais. Agora mesmo vamos chegar com uma tecnologia de batons bala que não tinha no Brasil. A inovação é onde a minha marca se destaca. Quando eu comecei, existia uma distância muito grande entre o produto nacional e importado. E eu entrei muito focada em diminuir essa diferença. O que sempre chama a atenção são as tendências. Lá fora, por exemplo, começou a moda do batom com fundo acinzentado. E eu consegui lançar rápido, tinha agilidade para lançar cores diferentes, isso chama a atenção, vende rápido, e com o giro, reinvisto em tecnologia. Hoje a gente tem dois laboratórios exclusivos, trabalhamos com fornecedores exclusivos, no mundo inteiro. Porque cada lugar tem uma especificidade. A marca é nacional, mas a gente trabalha com matéria-prima importada. Eu não aceitava isso de "o produto importado é melhor". Qual a questão? A matéria-prima? Então vamos atrás! Eu lembro que quando começou a febre do batom líquido, eu percebi que o importado tinha uma elasticidade diferente, uma durabilidade. E eu falava "por que o nosso não fica desse jeito?". Os técnicos me diziam que era por causa de uma matéria-prima com nylon, caríssima. E aí eu decidi ir atrás, negociar, porque eu sabia que ia vender muito aqui. Foi meu primeiro produto que se destacou. E hoje já é diferente, porque o mercado está mais aberto para a gente, os fornecedores vêm até mim. BT é vista como uma marca inovadora, é uma vitrine para os fornecedores. Eles gostam de formular para mim, é tudo feito no nosso laboratório, não terceirizamos, com algumas parcerias internacionais, mas sempre interno. E olha, a matemática é louca mesmo. Eu negocio produto por produto, converso com os investidores, estou sempre buscando essa inovação e entendendo o custo x benefício. Também precisa ter paciência para desenvolver, abrir mercado, arriscar. Depois que você abre mercado, a matéria-prima se populariza e tudo funciona. Eu acho que a indústria nacional cresceu muito com o BT, sem falsa modéstia. Eu fui atrás, não aceitei vários nãos. Eu nunca acho que pode ser tão complicado assim, sempre tem jeito. Às vezes nem eu acredito na coleção, nos produtos que a gente consegue desenvolver".

Bruna Tavares lançou a linha Minnie Mouse, em parceira com a Disney — Foto: Reprodução Instagram
Bruna Tavares lançou a linha Minnie Mouse, em parceira com a Disney — Foto: Reprodução Instagram

Habilidade de pesquisa

"Minha mãe achava que eu ia ser cientista. Eu amo pesquisa. Acho até que ninguém sabe, mas eu sou voluntária na Nasa para caçar asteroides. Tenho até certificado. Amo fazer isso nas horas vagas. Coloco uma musiquinha e fico lá. Então eu sou muito curiosa, pego a lista de ingredientes e vou atrás. Tenho conversas com as farmacêuticas e engenheiras químicas, quero sempre entender cada matéria-prima. Tanto que eu tenho um dicionário com todas as matérias-primas que a gente trabalha. Quero entender tudo. Às vezes eu não sei qual ingrediente que falta, mas sei o efeito final que eu quero, então vamos discutindo e testando juntos até chegar ao resultado. E eu já anoto o que foi usado para ser mais direta nos próximos testes. São anos decorando esses nomes, dentro do BT Lab. Sempre que viajo eu vou em alguma fábrica, converso com todo mundo, pego amostras e depois estudo tudinho. Começo a abrir as fórmulas, vou em feiras de matérias-primas. Eu sou muito autodidata, a maioria das coisas eu aprendi sozinha. Aprendi a fotografar, a mexer no photoshop, tudo pesquisando na internet. Eu sou da geração que ia à biblioteca para pesquisar. Eu amo demais isso. Sou muito CDF. Amava as feiras de ciências da escola, explodia tudo, fazia a maior sujeira em casa".

Fazer história

"Eu penso muito na longevidade das coisas. Na comunicação as coisas mudam, a história dos blogs, da influência, tudo meio que vai parando. Tem prazo de validade, as pessoas vão se transformando. Mas uma coisa que eu sempre tive certeza é de que ninguém vai deixar de comprar cosméticos na vida. Quando me encontrei nesse universo, na maquiagem, no desenvolvimento, na pesquisa, foi incrível. Eu tenho essa necessidade de completa compreensão do que eu estou usando ou falando. Então o desenvolvimento do produto, poder falar sobre ele com propriedade, é tão bom, tão natural para mim. Eu mesma faço o treinamento com a equipe de vendas e eu nem preciso estudar, já está tudo na minha cabeça. Hoje eu estava batendo com a minha equipe de comunicação as cores do próximo lançamento e eu já sei de cor, nem preciso olhar as paletas. Eu participei tanto desse processo, fui tão ativa. Então eu penso na longevidade do negócio e também em criar uma história. Quero criar um legado. Acompanho a história de grandes fundadores, me inspiro em Laura Mercier, Estée Lauder, nessas histórias que não vão morrer, que fazem parte da história da maquiagem. Eu gostaria de olhar para trás, quando estiver mais velha, e pensar: eu não fiz só uma marca de maquiagem e ganhei o meu dinheiro, eu fiz a diferença, ampliei a indústria nacional. Criar história, criar legado é o que me motiva. Eu quero levar a brazilian beauty para o mundo. Espero que a Linha Bruna Tavares não morra nunca, que outras pessoas cuidem e entendam a marca".

Linha Bruna Tavares: produtos lançados em 2022 — Foto: Reprodução Instagram
Linha Bruna Tavares: produtos lançados em 2022 — Foto: Reprodução Instagram
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