Reprodução assistida
 
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Você, provavelmente, já sabe a resposta para aquela pergunta que os pais mais temem ouvir dos filhos: de onde vêm os bebês? A velha história de que a sementinha do papai encontra a sementinha da mamãe e dá origem à criança nem sempre é assim tão simples e, graças à evolução da ciência e das técnicas de reprodução assistida, a explicação ganhou novos contornos e variáveis.

De repente, a mamãe escolheu uma sementinha para colocar na barriga dela. Ou congelou a sementinha dela por alguns anos, até se sentir preparada para receber o filho. Ou as sementinhas foram unidas por um cientista, em um laboratório, e só depois o resultado foi transferido para o útero materno. Por conta de todas essas novas possibilidades, nem sempre uma mulher precisa de um parceiro para se tornar mãe. Muitas não encontraram alguém com quem achem que valha a pena dividir essa aventura, muitas simplesmente têm mesmo a vontade de fazer individualmente. Mas, seja qual for o motivo, a gravidez independente ou monoparental se tornou uma realidade cada vez mais frequente. A possibilidade é um alento para quem sofre com a cruel pressão do relógio biológico.

Mulheres escolhem produção independente para ter filhos, mesmo sem parceiros — Foto: Unsplash
Mulheres escolhem produção independente para ter filhos, mesmo sem parceiros — Foto: Unsplash

Nem toda mulher tem o sonho de engravidar, mas, para as que têm, há um prazo-limite, por vezes, cruel. A dinâmica feminina mudou (ainda bem!): se antes, a regra era se casar jovem, nem sempre com um pretendente escolhido por ela, e engravidar, hoje há liberdade para ter outros desejos e buscar a realização profissional e a estabilidade financeira antes da maternidade. Só que apesar de todas essas transformações na sociedade, o relógio biológico segue o mesmo: a mulher tem um período específico para conseguir conceber naturalmente, que é conhecido como idade reprodutiva, até a menopausa. E nem sempre esse tempo é suficiente para que ela se sinta preparada para ser mãe ou encontre as condições ideais.

Os motivos pelos quais as mulheres buscam a gestação monoparental são vários. “Algumas nunca se casaram, outras se divorciaram antes de ter filhos; algumas buscaram primeiramente a realização profissional e outras aguardavam o ‘homem ideal’ para constituírem uma família”, enumera a psicóloga Cássia Cançado Avelar, da Clínica Huntington Pró-Criar, especializada em reprodução assistida. “O que percebemos é que quando estão estáveis profissionalmente e não encontram um parceiro ideal, a escolha por ser mãe solo é bem fundamentada para as mulheres cuja idade reprodutiva está em declínio. Elas pontuam que, embora seja possível encontrar um parceiro em qualquer idade, não é possível ser mãe em qualquer momento”, relata a especialista, sobre o que costuma ouvir no consultório.

Afinal, o que é produção independente?

A chamada gestação independente ou monoparental, popularmente conhecida como “produção independente”, é quando uma pessoa decide ter um filho sozinha, sem o envolvimento de um parceiro. “Para as mulheres, isso pode ser feito por meio da inseminação artificial ou da fertilização in vitro, com sêmen de um doador anônimo, que pode ser de um banco de sêmen nacional ou internacional”, explica o ginecologista e obstetra Rodrigo Rosa, diretor da clínica Mater Prime (SP) e do Mater Lab, laboraratório de Reprodução Humana, de São Paulo.

De acordo com o especialista, não há, no Brasil, números que demonstrem quantas pessoas buscam a gravidez independente, porque os dados do Sistema Nacional de Produções de Embriões (SisEmbrio), da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), não distingue essa especificidade, apenas aponta dados gerais de fertilização in vitro. “No entanto, para se ter uma ideia, na minha clínica, a maternidade solo representa cerca de 3% dos ciclos de fertilização in vitro”, aponta o médico.

Essa procura parece ter aumentado pela facilidade, por conta da evolução das técnicas e do acesso à reprodução assistida, e também pelo fato de a sociedade, hoje, aceitar isso de maneira mais aberta. Na verdade, a situação de famílias monoparentais, sobretudo com mães solo, sempre existiu e é uma realidade. No Brasil, é amplamente conhecido o fato de que mais de 5 milhões de crianças não possuem o nome do pai na certidão de nascimento. “A existência dessas famílias monoparentais pode ser decorrente de viuvez; separação do cônjuge; abandono da criança pelo pai ou pela mãe; criança com paternidade desconhecida ou não reconhecida ou parentalidade de pessoas solteiras – seja por meio da adoção ou de produção independente”, explica a psicóloga Cássia. “Mas, nas últimas décadas, nos deparamos com a monoparentalidade voluntária, que é originária de um desejo e de uma escolha da mulher de exercer a maternidade solo. Estas mulheres buscam as tecnologias da reprodução assistida, que é permitida pelo Conselho Federal de Medicina, desde a resolução nº 2.013/2013”, acrescenta.

Embora não haja, no Brasil, uma lei que regule a reprodução assistida, normas elaboradas e revisadas periodicamente pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) orientam a prática. Antes, já constava nessa lista de normas que qualquer pessoa poderia se submeter a procedimentos de reprodução assistida, mas de uma forma que poderia gerar diferentes interpretações. A partir da resolução nº 2013/13, o direito ficou mais claro. “É permitido o uso das técnicas de reprodução assistida para relacionamentos homoafetivos e pessoas solteiras, respeitado o direito da objeção de consciência do médico”, diz o documento.

Uma decisão bem pensada

Sim, hoje é possível e mais aceito decidir ter um filho e ter, sem depender de um parceiro para isso. Ainda assim, é importante avaliar a decisão, com todos os prós e contras. Você quer ter um filho porque é seu desejo ou por pressão da sociedade, pela sensação do tempo se esgotando? É importante lembrar que gerar uma criança não é apenas um “check” na lista de tarefas da vida ou do que as pessoas esperam de você. Para a psicóloga Cássia, é importante compreender tudo o que envolve esse desejo de ter um filho para tomar uma decisão entre a realização do tratamento solo ou da preservação dos óvulos.

Atualmente, não é obrigatório que a mulher passe por uma avaliação psicológica antes de ter um filho sozinha por meio da reprodução assistida, mas é recomendável. “Isso permite que ela expresse e entre em contato com suas fantasias, inquietações, medos e expectativas com relação ao tratamento e à formação de uma família monoparental”, diz Cássia. “Ela pode refletir sobre os motivos da escolha de ser mãe solo, sobre como lida com a ausência de um(a) parceiro(a) e com o uso de sêmen doado. Esse momento, no meu entender, é de fundamental importância, porque propicia uma reflexão a respeito dos desdobramentos desta escolha para o exercício da maternidade solo e o processo de subjetivação da criança, além da análise dos vínculos familiares e sociais, verificando a rede de apoio social e afetiva”, aponta.

O passo a passo da gravidez independente

Se a escolha foi pensada e repensada e a mulher tem certeza do que quer seguir a produção independente, o primeiro passo é buscar uma clínica de reprodução assistida. “A princípio, qualquer mulher pode fazer esse tratamento para maternidade solo”, afirma o ginecologista e obstetra Fernando Prado, especialista em Reprodução Humana, diretor clínico da Neo Vita e coordenador médico da Embriológica.

Antes de começar o processo, essa futura mãe passa por vários exames. “Ela faz um ultrassom transvaginal, onde será avaliada a anatomia do útero e os ovários. Também checamos o estoque de óvulos, as tubas uterinas, ultrassom de mama, papanicolau e exames de sangue gerais para saber como anda a saúde. É como uma rotina ginecológica”, compara o médico.

A partir dos resultados, o especialista vai indicar qual tipo de procedimento é mais indicado em cada caso. Se a mulher tiver óvulos preservados, ainda nos ovários ou congelados, e dependendo das condições de saúde, pode ser feita uma inseminação artificial ou uma fertilização in vitro. Se ela já não tiver mais óvulos, é possível optar pela ovodoação, ou seja, usar óvulos de uma doadora.

“A inseminação intrauterina é um tratamento mais simples, que depende muito de questões naturais, como ter uma trompa uterina permeável, capaz de fazer o transporte dos gametas, dos óvulos e dos espermatozoides, e de um sêmen de alta qualidade, com boa concentração de espermatozoides”, explica Fernando. A fertilização in vitro costuma aumentar as chances de gestação. Nesse caso, o sêmen também precisa ter qualidade, mas a necessidade de concentração não precisa ser tão alta quanto o necessário para inseminação. “A mulher também não é obrigada a ter as tubas uterinas funcionando bem, porque a fertilização vai ser realizada em laboratório. Esperamos os embriões se desenvolverem e só depois os transferimos para o útero”, pontua.

E o sêmen?

Uma questão importante para uma mulher que quer gerar um filho sozinha é o sêmen. Ela vai precisar do material genético masculino para gerar o embrião, seja por inseminação artificial ou FIV. Um ponto importante: para que o procedimento seja configurado como uma gravidez independente, é preciso usar sêmen de um doador anônimo e não, por exemplo, de alguém conhecido, que tope doar. “Se o doador for conhecido, não é uma produção independente. Nesse caso, a pessoa que doou o sêmen, legalmente, terá todos os direitos e deveres como um pai, inclusive guarda, pensão e herança”, destaca Prado. Para ele, é importante deixar isso claro para a mulher que tenta ter um bebê sozinha e para a outra pessoa, que se disponibiliza a doar, seja um amigo, um conhecido, ex-namorado... “Se ela quiser mesmo a gravidez monoparental, é preciso escolher um doador anônimo, em um banco, que pode ser nacional ou internacional”, explica.

O sêmen pode ser de um doador brasileiro, mas também é comum as mulheres optarem por importar esse material de outros países, sobretudo dos Estados Unidos. O processo é legal, aprovado e autorizado pela Anvisa, embora existam alguns trâmites burocráticos. “Ainda assim, hoje em dia, é mais simples e o material não demora para chegar ao Brasil. Normalmente, em menos de um mês está disponível”, diz o diretor clínico da Neo Vita.

Segundo ele, existem vários motivos que levam as mães a preferirem o sêmen importado. O principal deles é a disponibilidade de dólares. “Fora do Brasil, você pode pagar para os doadores e, por aqui, isso não é permitido. Então, é mais fácil encontrá-los e há mais opções de amostras”, explica. “Além disso, a quantidade de exames e testes que são feitos nos doadores nos Estados Unidos é muito maior do que os testes obrigatórios aqui no Brasil, até por uma questão local da legislação deles”, pontua. É uma opção um pouco mais cara, mas costuma valer a pena para quem busca esse tipo de procedimento.

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