O relógio biológico importa também para os homens, revela estudo

Relógio biológico. A expressão virou lugar comum para expressar a preocupação das mulheres que passam dos 30 anos e não têm filhos. E isso se deve não só ao fato de suas chances de engravidar diminuírem, mas também aos riscos que surgem quando se tem filhos mais tarde. O assunto não ronda tanto a cabeça dos homens, porque acredita-se que a capacidade deles de gerar bebês é a mesma, independentemente da idade. Mas essa afirmação está caindo por terra. Um novo estudo, publicado no The British Medical Journal (BMJ), sugere que filhos de pais mais velhos também podem ser acometidos por alguns problemas de saúde. Os pesquisadores reuniram dados do Sistema Nacional de Estatísticas Vitais e analisaram os mais de 40 milhões de nascidos vivos nos Estados Unidos entre 2007 e 2016. Os pais foram divididos em cinco grupos etários e as medidas de saúde infantil foram examadas em cada um deles.

Depois de contabilizar a idade da mãe e a informação demográfica e de saúde dos pais, os cientistas notaram uma associação entre a idade paterna e a probabilidade de problemas de saúde materna e infantil. Associações significativas começam a surgir por volta dos 45 anos e os dados sugerem que, quanto mais velho o pai, maiores os riscos.

O que dizem os resultados?
Os resultados revelaram que bebês de pais com mais de 45 anos tenderam a pesar menos e tiveram uma chance 14% maior de parto prematuro. Filhos de homens com mais de 55 anos também tenderam a pontuar mais baixo no teste de Apgar — uma medida da saúde do recém-nascido que avalia frequência cardíaca, respiração e reflexos. Esses bebês também tiveram um risco 10% maior de precisar de assistência respiratória e uma chance 28% maior de serem admitidos na unidade de terapia intensiva neonatal.

E os riscos se estendem às mulheres. Gestantes com parceiros com mais de 45 anos tiveram uma probabilidade 28% maior de desenvolver diabetes gestacional, comparadas às mulheres com idades entre 25 e 34 anos. O novo estudo também reúne pesquisas anteriores que vincularam maior idade paterna a problemas de saúde mental e comportamental em crianças, como autismo, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e transtorno bipolar.

"Do ponto de vista evolucionário, estamos acostumados a reproduzir no final da adolescência, aos 20 e poucos anos", falou o co-autor do estudo Michael Eisenberg, diretor de medicina reprodutiva masculina e cirurgia do Centro Médico da Universidade de Stanford. "Qualquer idade além disso pode ter algum risco biológico potencial associado", disse.

Embora as razões para essas associações não estejam totalmente claras, elas podem ter algo a ver com mutações genéticas espontâneas que ocorrem ao longo da vida de um homem. Ou seja, segundo Eisenberg, os homens estão continuamente produzindo esperma, o que significa que suas células estão constantemente se dividindo e se renovando. Ocasionalmente, esse processo dá errado, levando a aproximadamente duas mutações genéticas aleatórias a cada ano. Quanto mais velho é um homem, mais dessas mutações ele acumula com o tempo, e maiores são suas chances de transmitir uma mutação prejudicial, explicou o pesquisador.

Ainda segundo o estudo, assim como as mulheres estão tendo bebês mais tarde na vida, a idade paterna parece estar seguindo o mesmo padrão. Entre 1972 e 2015, a idade média de paternidade passou de 27,4 para 30,9 anos, e a porcentagem de pais acima de 40 aumentou para cerca de 9%, um estudo de 2017. "A maior parte do risco de ser um pai mais velho provavelmente se aplica mais às mulheres do que aos homens, mas acho que isso mostra que você não deve esquecer o homem", alertou o pesquisador.

+ Congelamento de óvulos: quando é indicado?

Mas o cientista tranquiliza dizendo que o risco absoluto de problemas de saúde infantil ainda é pequeno, mesmo que a probabilidade aumente com a idade paterna. Ele compara as chances de comprar bilhetes de loteria: "Suas chances melhoram se você comprar duas, mas ainda é uma chance".

Você já curtiu Crescer no Facebook?