Saúde & bem-estar
 


A gravidez da advogada Ana Carolina Dias Acquesta Gongora, 37, de São Paulo, ia bem até que, com 26 semanas de gestação, seu exame de curva glicêmica saiu com um resultado muito alto e ela foi diagnosticada com diabetes gestacional, o que tornava sua gestação de alto risco. Algumas semanas depois, ela precisou ser internada. "Receber essa notícia é meio desesperador, porque você pensa no pior: que ele vai nascer prematuro, que poderia ter um problema cardíaco... A gente sabia como esse excesso de glicose poderia afetar o bebê a longo prazo", diz em entrevista à CRESCER.

Ana durante a gravidez — Foto: Arquivo pessoal
Ana durante a gravidez — Foto: Arquivo pessoal

Apesar de ficar preocupada, ela sabia que havia uma possibilidade dela desenvolver diabetes gestacional. "Em 2022, tive um pico de alteração do hormônio de insulina e passei a fazer um tratamento com remédio, sendo acompanhada por um endocrinologista. Mas, quando eu engravidei, em setembro do ano passado, o remédio teve que ser suspenso por não ter comprovação dos efeitos que ele teria no bebê", conta.

Ana continuou sendo monitorada pelos médicos de perto e, até o sexto mês de gestação, não teve nenhum sintoma que poderia indicar a diabetes gestacional. "Nessa época, eu não tinha medo de comer doce, mesmo assim, mantinha uma alimentação saudável, mas comia esporadicamente alimentos com muito carboidrato e com açúcar", explica. Quando entrou no sétimo mês da gestação, o exame da curva glicêmica veio bastante alterado.

Então, ela foi acompanhada com ainda mais cuidado e tentou controlar a condição apenas com mudanças na dieta. "Eu fazia medição de glicemia três vezes por dia, em jejum e após cada refeição por 15 dias", conta. Mas, como em 70% das vezes o resultado apresentava alteração, ela precisou iniciar um tratamento com insulina. Mesmo com essas medidas, seus resultados ainda estavam bastante alterados e ela precisou ser internada no hospital por ser considerada uma gestação de alto risco, quando estava com 32 semanas de gestação.

'Parece que você está fazendo tudo e, mesmo assim, parecia que não fazia nada'

"Foi bem difícil lidar com o emocional para mim, porque você sente uma impotência. Parece que você está fazendo tudo e, mesmo assim, parecia que não fazia nada. Um dia eu comia e ficava bem, outro dia comia a mesma coisa e o resultado vinha alterado", diz. "Foi difícil controlar a ansiedade e o medo. Eu fiquei bem abalada, porque não era mais sobre o meu corpo físico, podia prejudicar o Joaquim", desabafa.

Ela contou com o apoio do esposo para passar por esse período difícil. "Sabíamos que a internação era o melhor para o bem do Joaquim", diz. Ana ficou três dias internada até os médicos ajustarem seu tratamento. Após receber alta, ela precisou seguir uma dieta ainda mais restrita. "Eu também passei a usar duas doses de insulina [uma de longa e outra de curta duração], depois do café da manhã e depois do almoço, porque o bebê estava ganhando muito peso", afirma.

Na reta final da gestação, o acompanhamento se tornou semanal. "Toda semana fazia ultrassonografia para ver como que ele estava. Mas, com 36 semanas, ele engordou muito, e recebi o alerta de antecipar a gestação. Ele ia nascer por cesárea porque, além da diabetes gestacional, ele estava sentado na barriga [posição mais difícil para o parto normal]. Com 37 semanas, comecei a acompanhar a cada três dias", conta.

'Foi essa emoção de segurá-lo nos braços e ver que ele está bem'

Ela conseguiu levar a gestação até 38 semanas, em 6 de junho de 2024, Joaquim nasceu, pesando 3.280kg e medindo 47,5cm. "Vê-lo pela primeira vez foi incrível, porque é o meu primeiro filho. Fico até emocionada. Foi essa emoção de segurá-lo nos braços, ver que ele está bem e saber que tudo valeu à pena, todos os sacrifícios, as limitações e as restrições", comemora.

Agora, Ana não precisa fazer restrição alimentar e nem uso da insulina. Porém, quando completar 40 dias do nascimento do filho, ela irá realizar o exame de curva glicêmica novamente e retornar ao endocrinologista para verificar se as taxas se normalizaram ou se ainda precisará seguir com algum tratamento ou acompanhamento específico.

Ana e o marido no parto de Joaquim — Foto: Arquivo pessoal
Ana e o marido no parto de Joaquim — Foto: Arquivo pessoal

Sobre diabetes gestacional

A diabetes gestacional ocorre quando é detectado um alto nível de açúcar no sangue da grávida. "Os fatores de risco são múltiplos", explica Maíra Pontual Brandão, endocrinologista do Hospital e Maternidade Santa Joana. Conheça os principais fatores:

  • O peso materno antes de engravidar;
  • Se a mãe já tem algum tipo de alteração glicêmica ou do metabolismo glicêmico, como resistência insulínica;
  • Se a mãe já teve um quadro de diabetes gestacional na gestação anterior, há um risco de 50% dessa mãe voltar a ter de novo quadro de diabetes gestacional.
  • Histórico de diabetes na família;
  • Uso de medicação que aumenta a glicemia, como os corticoides;
  • Gestação múltipla;
  • Histórico de síndrome dos ovários policísticos prévia a gravidez;
  • Diagnóstico prévio de alguma doença metabólica associada.

Assim como no caso de Ana, é fundamental fazer um acompanhamento próximo da gestação e, para isso, o diagnóstico precoce é essencial. "A recomendação da Sociedade Brasileira de Endocrinologia é fazer uma dosagem de glicemia em jejum no início da gravidez, de preferência logo na primeira consulta pré-natal. Mesmo se os resultados vierem normais, é recomendado fazer o exame de curva glicêmica entre 24 e 28 semanas de gestação", diz Maíra Pontual Brandão, endocrinologista do Hospital e Maternidade Santa Joana.

Riscos da diabetes gestacional

A diabetes pode trazer riscos tanto para a mãe quanto para o bebê. "Durante a gravidez, a mãe tem risco de ganhar muito mais peso e tem risco de desenvolver pré-eclâmpsia. O bebê pode ter um crescimento exagerado, o que pode provocar problemas na hora do parto, como ter um excesso de produção de líquido amniótico. Isso pode fazer com que a bolsa rompa, por exemplo, antes do momento correto e leve ao parto prematuro ou o bebê pode correr mais risco de nascer grande para idade gestacional", afirma a especialista.

Segundo ela, o bebê também ter complicações no parto, como distócia de ombro (falha na liberação do ombro fetal) e lesões de plexo braquial (rede nervosa que dá origem a todos os nervos motores e sensitivos do membro superior). "No puerpério imediato ele pode desenvolver hipoglicemia [falta de açúcar no sangue], porque ele estava recebendo um excesso de açúcar e, quando tira esse excesso de açúcar, o bebê está hiperinsulinêmico. Ele também tem mais riscos de icterícia [pele amarelada], hipocalcemia [falta de cálcio no sangue] e alterações de eletrólitos", explica Maíra Brandão.

Também existem riscos a longo prazo. "O bebê que durante a gravidez experimentou esse excesso de excesso de glicose e ficou hiperinsulinêmico, corre mais risco de ter obesidade, doenças metabólicas, doenças cardiovasculares e diabetes ao longo dos anos", diz. "A mãe tem um risco de 10% de, mesmo depois da gestação, permanecer com alteração glicêmica. Além disso, ela tem 50% de chance em 20 anos de ficar diabética", acrescenta.

Por isso, é importante continuar o acompanhamento no puerpério. "A recomendação é repetir a curva glicêmica entre dois meses a um ano após o parto. Mesmo se os resultados estiverem normais, essa mãe deve ser acompanhada ainda por mais três anos com dosagens anuais de glicemia de jejum e hemoglobina glicada, porque essas pacientes muitas vezes tornam-se diabéticas depois do parto", destaca.

O tratamento é sempre feito com insulina?

Não! Em alguns casos, é possível tratar a diabetes gestacional apenas com mudanças alimentares. "Vale lembrar que isso não significa fazer uma dieta low carb, inclusive, isso pode até causar uma restrição de crescimento no bebê. O indicado é ter uma dieta equilibrada com mais fibras e com carboidrato de boa qualidade e ter uma rotina de exercícios recomendados para a gestante. Caso não seja possível controlar apenas com a alimentação, é usada a insulina, porque é a única medicação para controle glicêmico que não passa para o bebê pela placenta", diz.

É possível prevenir a diabetes gestacional?

"Não tem como prevenir 100%, mas é possível diminuir bastante o risco com algumas atitudes antes de engravidar", diz Brandão. Veja as recomendações da endocrinologista:

  • Fazer uma redução de peso se estiver muito acima do esperado;
  • Fazer uma reeducação alimentar com um acompanhamento nutricional;
  • Fazer exercício físico regularmente.

"O ideal é a mulher entrar o mais saudável possível na gestação. Isso vai reduzir não só os riscos da diabetes gestacional como também de outras complicações, como a pré-eclâmpsia", destaca.

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