A alimentação durante o trabalho de parto ainda é uma questão que envolve muitas dúvidas. Você já deve ter ouvido falar de muitas gestantes que foram impedidas de comer ao longo de todo o período — o que era recomendado até pouco tempo atrás, quando elas podiam apenas receber nutrientes como glicose, potássio e sódio via soro. Mas essa prática caiu em desuso com a popularização do parto humanizado e, segundo recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), do Ministério da Saúde e da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), é importante, sim, que as gestantes tenham uma alimentação adequada na sala de parto.
O trabalho de parto pode durar cerca de 12 a 18 horas, caso seja a primeira gravidez, e de 6 a 8 horas nas próximas gestações. Já pensou em ficar todo esse tempo sem comer nada? De acordo com Eduardo Cordioli, diretor técnico de obstetrícia do Grupo Santa Joana, o jejum faz mal. “Dar à luz é uma atividade física, ninguém pode fazer atividade física em jejum — isso pode levar à desidratação e à queda dos níveis de glicose no sangue, o que pode prejudicar a saúde da mãe e do bebê. Então, a alimentação é muito importante”, destaca o obstetra em entrevista exclusiva à CRESCER.
Um estudo realizado pela Universidade Thomas Jefferson, nos Estados Unidos, comprovou que até existem benefícios em comer durante o trabalho de parto. Os pesquisadores analisaram dados de 3.982 partos e chegaram à conclusão de que as grávidas que se alimentaram bem acabaram tendo partos, em média, 16 minutos mais curtos do que as demais.
Mas, então, por que havia tanta restrição? A preocupação surgiu em meados dos anos 40, quando um estudo afirmou que a grávida poderia aspirar o alimento caso fosse necessário receber anestesia durante o trabalho de parto. Mas as tecnologias mudaram desde então, tornando os procedimentos que envolvem anestesia muito mais seguros e com taxas anestésicas mais baixas.
“A aspiração gera problemas graves como pneumonia ou parada cardíaca. No entanto, com a evolução da medicina e das técnicas anestésicas, os riscos de aspiração do conteúdo gástrico durante a anestesia têm sido reduzidos significativamente”, afirma Cordioli. Por isso, a chance de aspiração do alimento para o pulmão é mínima.
Segundo o especialista, atualmente os médicos indicam a alimentação durante o parto. "As diretrizes atuais das sociedades médicas recomendam que as mulheres grávidas possam fazer refeições leves e claras até 2 horas antes de procedimentos anestésicos, como o parto por cesárea", esclarece.
Quando o jejum prolongado é necessário?
"Existem alguns casos em que o jejum prolongado é necessário, por exemplo, em cirurgias com anestesia geral, ou em situações específicas, em que há um maior risco de aspiração, como nos casos de refluxo gastroesofágico, obesidade mórbida, entre outros", destaca. Mas estes são casos isolados, por isso, é fundamental manter um bom acompanhamento médico durante a gestação.
"Cada situação deve ser avaliada individualmente pelo anestesiologista, que considera a condição da paciente, o tipo de procedimento, os riscos envolvidos e as diretrizes médicas atualizadas. Portanto, é sempre importante seguir as orientações do profissional de saúde responsável pelo seu cuidado", acrescenta Cordioli.
Dieta adequada
O ideal é que a mulher seja alimentada durante o trabalho de parto vaginal, mas da forma correta. “Não ficar em jejum não significa comer o que quer, tem que usar o bom senso. Lasanha, feijoada, não dá. Todas essas comidas pesadas e ricas em gordura devem ser evitadas. É importante manter uma alimentação leve, que tenha uma boa digestibilidade, para evitar o risco de aspiração e garantir a segurança da gestante”, reforça o obstetra.
A dieta adequada pode fazer toda a diferença! “A grávida nunca tem certeza se terá um parto vaginal, mesmo que queira, porque é possível que ocorra algum imprevisto e seja necessário fazer uma cesárea de emergência, com anestesia. Para que ela não corra um risco adicional devido à alimentação inadequada, é importante ter uma dieta programada para o parto”, ressalta Eduardo Cordioli.
O que comer durante o trabalho de parto?
Existem tipos de alimentos recomendados para cada fase do trabalho de parto em que a grávida consegue comer. O obstetra Eduardo Cordioli separou algumas sugestões de comidas e explicou por que elas são as mais indicadas. Confira!
Fase latente
“A fase latente do parto é o período em que a gestante começa a ter contrações que provocam mudanças no colo uterino, esvaecimento cervical e até quatro centímetros de dilatação. Essa fase pode durar muito tempo”, explica o especialista. Neste momento a alimentação deve ser mais consistente para que a gestante tenha bastante energia, uma melhor nutrição e boa hidratação. “O ideal é que ela receba alimentos ricos em carboidratos e proteínas e pobres em gordura, que garantem uma digestibilidade em até 6 horas”, afirma. Veja alguns exemplos:
- Carne;
- Frango;
- Soja;
- Purê;
- Legumes;
- Chocolate 70% cacau;
- Açaí gelado;
- Água de coco.
Fase ativa
Já na fase ativa do parto, a partir de 5 cm de dilatação, a alimentação deve ser mais nutritiva, mas que tenha digestibilidade mais rápida. “Também é indicado que ela consuma carboidratos para garantir uma boa nutrição e fornecer energia, mas não é indicado o consumo de proteína. O foco neste momento é manter a segurança, mas também ter um rápido esvaziamento gástrico”, diz Cordioli. Veja alguns exemplos:
- Creme de mandioquinha ou de abóbora;
- Bebida isotônica;
- Gelatina;
- Água de coco.
E no caso de cesárea eletiva?
A única exceção é no caso de cesárea eletiva. Se as grávidas optarem por marcar a cirurgia, é recomendado fazer um jejum. “A gestante precisa manter um jejum de comidas sólidas de 6 a 8 horas, mas ela pode receber líquidos, ela pode tomar um isotônico, por exemplo, até 2 horas antes do parto, depois disso, jejum total”, explica o médico.
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