A coluna de hoje é uma dica certeira de roteiro para quem está planejando uma viagem ao país que foi berço do Império Romano e do Renascimento e nos tempos modernos se tornou também uma das principais referências mundiais em gastronomia, cinema, design e moda. Sì, bambini, estamos falando da belíssima Itália - mais precisamente do norte da Itália, que hoje vamos visitar em três paradas, separadas por poucas horas de estrada.
Estive recentemente em Udine, uma pequena cidade localizada na região de Friuli Venezia Giulia, a apenas 20 km da fronteira com a Eslovênia. O motivo da minha ida foi o Ein Prosit de 2023, festival anual organizado por um trio de catalisadores da gastronomia internacional - Claudio Tognoni, Paolo Vizzari e Manuela Fissore -, que reúne mais de 100 chefs do mundo todo para cinco dias de jantares preparados a diversas mãos, degustações guiadas, laboratórios, encontros em restaurantes locais e mais uma série de atividades que envolvem e movimentam não só a cidade, mas toda a região de Friuli.
Mais de 20 países estavam lá representados por alguns de seus cozinheiros mais talentosos, inclusive com uma forte participação da América Latina, para minha alegria: Manu Buffara e Marco Renzetti do Brasil, além de nomes do Uruguai, da Colômbia, do Peru, do México e da Argentina que deram um show ao lado de chefs europeus, asiáticos, norte-americanos e do Oriente Médio.
Para ter ideia, o jantar de abertura reuniu as feras italianas Maura Uliassi, Enrico Crippa, Niko Romito (@nikoromito), Ricardo Camanini, Massimiliano Alajmo, Corrado Assenza, Norbert Niederkofler, Matteo Mettulio e Davide De Pra, que juntos somam 17 estrelas Michelin, para preparar pratos de que me lembro só de fechar os olhos, como a truta com amêndoa e louro e a massa recheada com camarão, brócolis e curry verde. Dica: o Ein Prosit é aberto ao público, então quem tiver interesse deve ficar atento às datas no site do evento, que em 2024 vai ter uma nova edição.
Esse foi só o começo. De lá, dei um pulo em Veneza, que dispensa apresentações. A famosa capital do Veneto é na verdade um grupo de 117 pequenas ilhas separadas por canais e ligadas por pontes - e eu passei minha primeira noite na ilhazinha de Burano, que é simplesmente um sonho. A ilha ao lado, Mazzorbo, abriga um pequeno vinhedo que data da Idade Média e o restaurante Venissa, aberto de abril a outubro e comandado pelo jovem casal de chefs Chiara Pavan (@chiarapavan_cheffe) e Francesco Brutto (@_francescobrutto), autores de um belo trabalho em torno da Veneza nativa.
![Francesco Brutto e Chiara Pavan, chefs do Restaurante Venissa em Burano — Foto: Divulgação](https://cdn.statically.io/img/s2-vogue.glbimg.com/F1MbxGQf13V2gQL6EacWBN-dLnI=/0x0:683x1024/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_5dfbcf92c1a84b20a5da5024d398ff2f/internal_photos/bs/2023/f/L/oyK4pOSemsSiAB4mBcRw/whatsapp-image-2023-11-24-at-17.03.56.jpeg)
Na horta própria, de solo salino, eles cultivam vegetais com características totalmente ímpares, como os tomates amarelos e a “caustrare” - alcachofra de uma crocância que explode em frescor. Juntam-se à receita vinhos naturais produzidos na região e algumas espécies locais que geralmente são descartadas, como o invasor caranguejo azul, “praga” que vira iguaria no menu degustação da dupla. Muito se fala em cozinha sustentável, mas no Venissa o conceito é levado ao extremo: trata-se de uma cozinha ambiental, em que se come apenas o que lagoa, mar e terra têm a oferecer (lembrando que isso varia muito, de acordo com as cheias frequentes que inundam a horta ou períodos de estiagem), com uma qualidade e um sabor superiores.
Por lá, a sugestão certeira de place to stay é o complexo Casa Burano (@casaburano). São quatro charmosas casinhas locais que representam a forma de viver da população da ilhota e foram totalmente reformadas por dentro. Cada uma tem três quartos privativos, decorados com um requinte exato, enxuto - e você pode dividir a casa com pessoas diferentes ou alugar o espaço completo. Da porta para fora, o espetáculo: a lagoa que reflete o colorido das casas de Burano, que por sua vez são reflexo de histórias e pessoas da vizinhança - Maurizio, o remador; Paola, a rendeira; Carmelina, a confeiteira; Bruno, o jardineiro. E agora Rosa, a escritora viajante que deixou um pedacinho do coração por lá.
![A colunista Rosa Moraes com as casinhas da ilha de Burano, em Veneza, ao fundo — Foto: Arquivo pessoal](https://cdn.statically.io/img/s2-vogue.glbimg.com/4xIij-VLByfTSuQ20Y_WormNRWM=/0x0:1304x1600/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_5dfbcf92c1a84b20a5da5024d398ff2f/internal_photos/bs/2023/w/p/vIGzAGQfOiTUuQNrN0UA/whatsapp-image-2023-11-22-at-19.58.29.jpeg)
Mas como boa viajante, soube me despedir - e com uma última noite para passar em Veneza, aproveitei para conhecer uma segunda opção de hotel na região: o luxuoso Hotel Cipriani, da rede Belmond Hotels, instalado na ponta da ilha de Giudecca, um pouco afastado da parte mais abarrotada de turistas. O Cipriani é uma entidade mundial da hotelaria. É lá que acontecem eventos icônicos como as Bienais de Arte e Arquitetura e o Festival de Cinema, motivo pelo qual centenas de celebridades e personalidades internacionais já passearam por seus corredores, de George Clooney a Richard Nixon, de Roman Polanski a Sophia Loren, de Ringo Starr a Gianni Versace.
![Belmond Cipriani Hotel — Foto: Divulgação](https://cdn.statically.io/img/s2-vogue.glbimg.com/XuxTVvUcNZSqG3-GPqWMUX4TowE=/0x0:1600x1050/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_5dfbcf92c1a84b20a5da5024d398ff2f/internal_photos/bs/2023/c/C/MyMr8rQYa1LMOvqgdnJg/whatsapp-image-2023-11-24-at-07.45.23.jpeg)
E é essa a atmosfera do lugar: mesmo que a gente não esbarre com uma estrela de Hollywood, cineasta famoso ou duquesa durante a estadia, a sensação é de estar em um filme. Seja jantando de frente para a lagoa no Cip’s Club (o menu inclui degustação de queijos italianos e uma amostra imperdível de gelatos e sorbets), seja passeando de vaporetto no final da tarde na companhia de uma taça de vinho; seja dormindo nos lençóis de linho das suítes estonteantes de bonitas ou durante o café da manhã - um dos melhores que já experimentei na vida, com uma fartura de pães fresquíssimos, embutidos cortados na hora e até degustação de meles -, o clima do lugar é simplesmente onírico.
![Vista da varanda do quarto do Belmond Cipriani Hotel — Foto: Arquivo pessoal](https://cdn.statically.io/img/s2-vogue.glbimg.com/K1yAdllKzxsmW5srslgFSyF-M7g=/0x0:1067x1600/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_5dfbcf92c1a84b20a5da5024d398ff2f/internal_photos/bs/2023/L/f/Lh55tlRSSFPIO8EOmrKA/whatsapp-image-2023-11-24-at-07.45.01.jpeg)
O Cipriani também oferece uma série bem original de experiências para conhecer Veneza, do clássico tour de gôndola à velejada na lagoa a bordo do lendário Edipo Re - barco em que a diva Maria Callas e o cineasta Pier Paolo Pasolini se apaixonaram. Outras sugestões encantadoras são o tour pelas locações que fizeram história no cinema ao longo das décadas ou assistir ao nascer do sol tomando café da manhã no rooftop do Palazzo Contarini del Bovolo: enquanto a cidade ainda está adormecida, você caminha pelas ruas desertas, sobe as impressionantes escadarias em espiral do palácio e é acomodado em uma mesa para ver o sol surgir e se espalhar pelos telhados de Veneza. De tirar o fôlego.
Muito bem: é hora de pegar a estrada novamente, agora para a poderosa cidade de Milão, capital da moda na Itália. A região metropolitana de Milão é a maior e mais populosa do país, com mais de 7 milhões de habitantes. Além das dezenas e dezenas de lojas chiquérrimas que povoam o “quadrilátero da moda”, com marcas como Cartier, Valentino, Gucci, Prada, Fendi e Dolce & Gabbana, há uma série de pontos turísticos obrigatórios quando você visita a cidade. Não deixe de checar a Catedral de Milão, o Cenacolo (pintura A Última Ceia de Leonardo da Vinci), a Pinacoteca Ambrosiana e o charmoso bairro de Navigli, com suas galerias de arte, lojas de artesanato, livrarias, sebos, prédios antigos, canais e pontes e vida noturna agitada.
As opções de hotéis excelentes são muitas, mas minha indicação para quem quer viver Milão com todo seu glamour é o impecável cinco estrelas Bvlgari, que fica em uma rua privativa - a Via Privata Fratelli Gabba -, em um palazzo milanês do século 18 totalmente reformado. Além de maravilhoso, o hotel abriga o Il Ristorante - Niko Romito (@bulgarinikoromitomilano), com cardápio assinado por esse talentoso chef de que já falei em uma coluna passada, quando estive em seu estrelado restaurante Reale, em Abruzzo.
![Jardim do Bvlgari Milão — Foto: Bvlgari Resorts & Hotel / Divulgação](https://cdn.statically.io/img/s2-vogue.glbimg.com/HDJ_Ibe34SlYfPaLWHyA7Y2AyqA=/0x0:1200x800/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_5dfbcf92c1a84b20a5da5024d398ff2f/internal_photos/bs/2023/4/i/2hDWfKTcqnKdRQZSN3Mw/the-garden-milan-credits-bulgari-hotels-resorts-01.jpg)
No Bvlgari de Milão, os hóspedes podem conhecer alguns dos pratos que fizeram a fama do chef, como o antipasto all’italiana, as lasanhas revisitadas, o ravióli de batata com camarões e lula e o tiramissù. Mas há também criações exclusivas do restaurante do hotel, como o tortelli com ricota, espinafre e “manteca” e o bacalhau com maionese de batata e pimentão.
![Prato do Il Ristorante — Foto: Divulgação](https://cdn.statically.io/img/s2-vogue.glbimg.com/gR5faKR8doE7LZ5tZ_6AmerXOaA=/0x0:683x1024/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_5dfbcf92c1a84b20a5da5024d398ff2f/internal_photos/bs/2023/Z/x/jKP3qxTvAfuUGi6NoeBw/whatsapp-image-2023-11-28-at-08.11.52.jpeg)
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Gran finale para uma viagem mais do que perfeita - e que espero que faça parte dos seus planos para as próximas férias. A Itália é toda fascinante, com a efervescência de Roma, os ares culturais de Florença, os mistérios de Nápoles e a beleza natural de Sorrento, entre tantas outras cidades que carregam uma identidade muito própria. Mas esta última jornada no norte do país (que inclusive permite esticar a viagem por países fronteiriços como França, Suíça e Alemanha) me arrancou suspiro atrás de suspiro. Arrivederci, bel paese!
Nota: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Vogue Brasil.