• Claudia Lima (@claudialima)
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Madonna (Foto: Reprodução/ Instagram)

Madonna (Foto: Reprodução/ Instagram)

Esses dias acordei pensando que não deve ser fácil ser Madonna. Acho que poucas celebridades são tão criticadas como a cantora norte-americana. Mesmo sendo uma mulher consagrada, com milhões de discos vendidos, ter uma família linda, uma vida amorosa e sexual ativa, uma carreira exemplar e continuar sendo um dos maiores ícones pop de todos os tempos, ela nunca passou um momento da vida sem ser criticada.

E aconteceu de novo. Sua última aparição na TV, semana passada no talk show The Tonight Show, do apresentador Jimmy Fallon, seguiu o protocolo do programa. Madonna, que lança na próxima semana a compilação de hits Finally Enough Love: 50 Number Ones participou de diversos quadros divertidos, brincou, falou muita besteira e, acompanhada da banda The Roots, cantou, tocou triângulo ao lado de Jimmy e se divertiu. Resumindo: foi Madonna.

Mas a internet não perdoa. No twitter, fãs criticaram a cantora... por tudo. Por suas roupas, consideradas ridículas. Por ter montado no apresentador Jimmy Fallon (os dois sempre se divertem quando se encontram), pelos grillz (espécie de "dentatura" de ouro feita especialmente para seu aniverário) e claro, por suas plásticas. “Madonna pode parar com os preenchimentos, por favor?”. Outro, chamou seu look (uma camiseta preta, calça de moletom azul, luvas de renda até o cotovelo e correntes) de “assustador” e a mais adorada: que ela "Não sabe envelhecer". 

Não que ela se importe com críticas. Muito pelo contrário. Mas ela rebate. Enquanto homens passam incólumes pelo crivo da geral, mulheres são cobradas. E Madonna, que é um ícone, uma mulher que sempre esteve à frente de seu tempo e que sempre exerceu sua liberdade em todas as áreas de sua vida - da música ao figurino, as causas que sempre defendeu e claro, ao comportamento - segue sendo criticada. Ou, melhor dizendo, ridicularizada.

Em entrevista à Vogue americana quando completou 60 anos, disse: “As pessoas sempre tentaram me silenciar por uma razão ou outra, seja porque eu não sou bonita o suficiente, não canto bem o suficiente, não sou talentosa o suficiente, não sou casada o suficiente, e agora é que não sou jovem o suficiente. Agora estou lutando contra o preconceito de idade e agora estou sendo punida por completar 60 anos.”

Madonna (Foto: Reprodução/ Instagram)

Madonna (Foto: Reprodução/ Instagram)

Enquanto eles sempre "envelhecem muito bem" ou "são como vinho", mulheres, ao contrário, "precisam recolher-se", "dar-se o respeito", "criar vergonha na cara" e comportar-se segundo sua faixa etária. Mais triste ainda é quando este tipo de comportamento absolutamente acaba sendo reproduzido muitas vezes por mulheres. Como disse minha colega de coluna Miriam Goldenberg, até quando mulheres maravilhosas serão xingadas de “velhas ridículas”?

Engraçado que, por mais que fãs de astros como Lady Gaga e outros nomes novos do pop mundial criticam tanto Madonna, sem se atentar seus ídolos a reverenciam. E também para o fato de que, digam o que quiserem, ela continua mais ativa do que nunca. Um exemplo? Além de seu álbum só com os seus sits que alcançaram o primeiro lugar nas paradas (quem é que conseguiu esta façanha?), acaba de lançar um remix com Beyoncé e fez uma parceria com Britney Spears por exemplo.

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Outro exemplo é outra leonina, Gloria Maria - que fez aniversário ontem e não revela sua idade - que constantemente é alvo de chacota. Fica em segundo plano toda sua trajetória como jornalista - a mais importante do país inclusive -, seu pioneirismo e ativismo racial para se concentrar na pergunta sempre envolta em tons de piada e "mistério". 

Até quando vamos ser rotuladas e classificadas de acordo com nossa idade? Ou ouvir piadinhas sobre isso? Para mim é muito óbvio que precisamos nos posicionar contra todos os tipos de preconceitos - racismo, homofobia, machismo, sexismo, capacitismo, transfobia - e isso é inegociável. O etarismo, que está na TV, no cinema, no ambiente de trabalho e na vida - é mais um a entrar na lista do que deve ser combatido. Até porque, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) o número de pessoas com idade superior a 60 anos chegará a 2 bilhões de pessoas até 2050. E o que nós faremos com isso? Imagine viver em um mundo que não tolera e respeita pessoas mais velhas?

Precisamos começar a agir. E agora.