José Ignacio: destino do verão 2024

José Ignacio é um destino do momento, assim como a palavra rizz, e é tradicionalmente valorizado, tal qual o carisma. Era anos 70 quando um chef argentino escolheu a praia quase deserta para abrir um restaurante especial. O restaurante se chamava Posada Del Mar e o chef Francis Mallmann, na época ainda sem o merecido reconhecimento que tem.

Nesses quase 50 anos que separam a descoberta de Mallmann do hoje, Jose Ignacio ganhou mais charme, mais visitantes e mais cuidados para manter seus principais predicados (a natureza, a calmaria e a autenticidade) preservados e destacados. O turismo expandiu de maneira cordial e respeitosa, coisa rara e exemplar. Os praticantes de kitesurf e os amantes de um estilo de vida slow e natural ajudam muito na preservação.

O Uruguai é um país cordial com os turistas, com paisagens deslumbrantes e destinos para todos os gostos, além de José Ignacio. Em tempos de voos domésticos e internacionais, para outros continentes, com preços nas alturas, o Uruguai é uma ótima alternativa para as férias de verão. Note: em Jose Ignacio, apenas 160 quilômetros de Montevidéu, quase tudo fecha durante o outono e inverno.

Mais: para quem se interessa… a legalização da cannabis é outro atrativo. Abaixo destaco alguns pontos altos desse lugar lindo, em que “só o vento corre.” Essa frase é como o “sorria você está na Bahia” de José Ignacio, e como bom slogan, está em muitas placas pela cidadezinha. O principal é verdadeira. Há tanto vento quanto calmaria no pedaço.

Artesanatos funcionais e decorativos e artes visuais contemplativas ou imersivas fazem parte de Jose Ignacio e vice-versa. No artesanato, destaco as mantas e peças feitas com lã pura, tecida manualmente desde o fio, e também as cerâmicas. Há personalidade nas peças e traços locais sempre muito interessantes.

Nas artes visuais imersivas meu UAU vai para o Khut Skypace, de James Turell, na Posada Ayana. Mostro tudo aqui. E tem mais: cerca de 25 minutos de José Ignacio, já em Punta Del Leste, está a Fundação Pablo Atchugarry, sem fins lucrativos, com um parque de esculturas, pavilhão de exposições com ótima programação, além de um acervo com trabalhos internacionais, teatro, anfiteatro e oficina para residências artísticas.

Eu tive a sorte de encontrar uma exposição de obras de Julie de Parc, um dos meus preferidos e um dos maiores artistas cinéticos do mundo. E como sorte chama sorte, ainda estive com o próprio Pablo Atchugarry durante a minha visita e nunca vou esquecer a experiência de acompanhar a feitura de uma de suas lindas esculturas. Ele vive na Itália e estava de passagem em sua Fundação.

Já parou para pensar quantos tipos de praias lindas existem no mundo? Eu sempre penso nisso quando me maravilho com uma costa que tem uma beleza autêntica. É Jose Ignacio é um lugar assim, com personalidade.

Tem o charme rústico de uma vila de pescador do Uruguai e aquele je ne sais quoi (sei lá o quê) que não se explica e faz toda a diferença. Não é um borogodó, que fique claro. Borogodé é coisa só nossa, mas praias lindas estão no mundo todo.

Além disso, a região é bonita demais, incluindo as estradas, especialmente as que levam de Jose Ignacio para a laguna Garzon ou para Santa Maris, pontos que merecem visita.

“Rizz”, a gíria inglesa eleita como a palavra de 2023 pela Universidade de Oxford , define bem Jose Ignacio — já disse e repito. E a terminologia é ideal também à Posada Ayana, um microcosmo do melhor da vila uruguaia, com charme, alto astral, autenticidade, aconchego, algo cult e aquele minimalismo genial, que guarda um primor irretocável.

Caso estivesse em algum outro lugar do mundo, a Posada Ayana poderia se chamar “hotel butique Ayana”, mas no litoral uruguaio não há espaço para os excessos nem mesmo nas nomenclaturas. E esse é um dos pontos que faz esse paraíso tão especial.

No ano passado a Posada Ayana esteve na HOTLIST da Condé Nast Traveller, a lista em que todo o segmento do turismo quer estar. E são muitos os predicados que garantiram a colocação. Com poucos quartos, vilas para grupos e um serviço que abraça (sem sufocar), a Ayana é mesmo o lugar, até porque, importante, estimula o comércio da arte manual local e tem uma relação muito próxima também com a arte internacional.

Eu explico: no hotel está o único Khut Skyspace da América Do Sul, que mostro em detalhes aqui. Obra site specif do celebrado e octagenário artista James Turrell, O Khut Skyspace usa a luz natural e arquitetura como plataformas para criar ambientes mutáveis, capazes de criar memórias a partir do maravilhamento e das sensações.

É comum ver grandes obras de arte em hotéis de redes. Contudo, o Ayana é uma propriedade familiar, criada e cuidada por Edda, Robert, Felice e Koko. Eles vieram de Viena para escrever um novo capítulo da família na história da hospitalidade cordial.

O pai de Robert também tinha uma “pousada" nas montanhas da Áustria e a Ayana dá continuidade a esse legado cheio de carinho. Existe um valor afetivo não só perceptível, como encantador na Posada. Mas como tudo em Jose Ignacio nada disso é explicito ou forçado. Só é — e por isso é tão fascinante.

Sabe as férias na casa daquela amiga especial, que te recebe com muita bossa e sem esforço aparente? Eu tive essa sensação por lá. E completo dizendo que também amei a programação especial que me indicaram na cidade, enquanto meu marido amou a organização e estrutura para a prática de esportes diversos (kites, cavalgadas, remo, trilhas).

Em 2024, em janeiro, acontece um festival de cinema na praia, a 10 minutos caminhando, desde a recepção da Posada Ayana. O “Festival Internacional De Cinema De Jose Ignacio” é entre os dias 13 e 21 de janeiro e o concierge da Posada Ayana pode organizar e comprar os ingressos para você. Deu para entender o rizz da Posada Ayana, né?

Francis Malmann, o grande chef argentino, colocou Jose Ignacio no mapa, ainda nos anos 70, como contei ali em cima. Na ocasião nem ele, nem o local tinham reconhecimento. Somando essa, vá lá, origem, ao público exigente e ao caráter e qualidade das pequenas e médias produções rurais uruguaias, é fácil entender porque a cidade litorânea (assim como suas redondezas) se tornou uma referência em enogastronomia.

Entre os muitos endereços para tomar um belo vinho e saborear a melhor receita, selecionei os dois que mais “me ganharam”. Para começar, vinhos. O lugar para o vinho é o Las Musas. Sabe essas vinícolas pasteurizadas, que têm quase tudo igual? Pois bem, é o contrário disso. A Las Musas é uma vinícola artesanal intimista, abrigada em um espaço sustentável e dedicado ao bem-estar.

O vinho não é a atração principal, mas algo que fazem com gosto e carinho e compartilham com os visitantes, sem roteiros ou performances. Tudo acontece em um papo gostoso e em um espaço lindo no meio da natureza, com arquitetura sustentável e contemporânea, assinada por Mathias Klotz com Carolina Pedroni.

Dá para se hospedar ali, ir fazer ioga, um tratamento especial ou saborear um vinho de produção própria e diminuta. Também servem pratos com ingredientes naturais e de produção própria. É tudo delicioso. Vale a visita. Contudo, meus restaurantes mais queridos foram o Juana e o Cruz Del Sur.

O Juana não fica exatamente em Jose Ignacio, mas há minutos dali, no balneário La Jaunita. O restaurante é intencionalmente pequeno e simples e tem sabores gigantes em receitas bem elaboradas. Lucia, a dina, prepara tudo com ingredientes de produção própria ou local. O cardápio é sazonal. Escolhi um pescado da temporada com legumes. Divino!

Ao restaurante Cruz Del Sur eu cheguei com altas expectativas porque amigos de turmas diversas o indicaram. Eu experimentei uma salada de verdes com beterraba assada e queijo de cabra. Fantástica! Depois fui para um polvo pontual e finalizei com sorvete de pistache com crocante de amêndoa. Expectativas atendidas com facilidade, como mostro aqui.

Entre as muitas opções de compras que estão espalhadas pela região, eu destaco a livraria Rizoma, em La Juanita, o rincon artesanal, perto do famoso farol de Jose Ignacio, e a loja com curadoria de Paula Mallman, que tem objetos, roupas, muita bossa e que fica no restaurante Cruz Del Sur.

Em Jose Ignacio, Rizoma é um lugar de linda arquitetura abraçado por um bosque, com livraria, café e loja ateliê de cerâmicas da artista Renata Jacob. Cansou da praia, vai para a Rizoma. O Rincon artesanal fica bem próximo ao farol de Jose Ignacio e comercializa os feitos a mão e com coração por lá. Eu me encantei pelas peças em lã pura, tecidas manualmente, desde os fios, por irmão. Fiquei de queixo caído com a curadoria da loja Cruz Del Sur. Tudo ali é ou artesanal, ou orgânico, ou natural e sempre lindo. As roupas são sem igual.