Música

Por Marluci Martins

A pausa na entrevista feita por videoconferência foi inevitável: a aula de reforço do primogênito, Marcelo, de 14 anos, chegava ao fim, e ela precisava conversar com o professor de matemática para saber se o menino estava pronto para a prova que viria. A ciência exata é mesmo presente naquele lar de Salvador. Aos 51 anos, Ivete Sangalo está somando 30 de carreira, ao longo dos quais multiplicou fãs e sucessos. Além de Marcelo, a baiana é mãe também das gêmeas Helena e Marina, de 5 anos, um trio que é sua prioridade de vida, de certa forma um retrato do passado da infância de Ivete e dos cinco irmãos lá em Juazeiro, na Bahia, onde tudo começou. Inclusive a trajetória brilhante.

Os pais, Alsus e Maria Ivete, criaram os filhos sem luxo, mas com boa música nos ouvidos. Ele, ourives, e ela, professora primária, reuniam os amigos e mandavam ver no gogó, sem nenhuma pretensão de mudar de profissão. Era um sarau amador e familiar, com a participação dos filhos nos instrumentos musicais. “Venho de uma família musical”, lembra Ivete.

“Meu pai era um entusiasta, um apaixonado por música. E minha mãe era uma cantora nata, uma mulher muito artista. Ela convocava os amigos para fazer peças de teatro, era muito dinâmica artisticamente, e eu presenciava aquilo. Em casa, eu tocava violão e tudo de percussão. E cantava. De uma forma muito amadora, mas consciente do que estava fazendo. Mas era muito mais por um prazer familiar. Foi inesperado me tornar uma cantora profissional.”

Ivete Sangalo na Capa da Vogue Brasil de Dezembro 2023 — Foto: Vogue Brasil/ Lufré
Ivete Sangalo na Capa da Vogue Brasil de Dezembro 2023 — Foto: Vogue Brasil/ Lufré

A brincadeira começou a virar coisa séria no começo dos anos 90, quando Ivete, já íntima de barzinhos e praças de alimentação de shoppings, decidiu se inscrever no Troféu Caymmi, um conceituado prêmio em Salvador. Venceu a disputa, com um repertório que variava de Tim Maia a Michael Jackson, e acabou sendo convidada no ano seguinte a ingressar na Banda Eva.

“Imediatamente aceitei porque na minha cabeça eu teria ali a possibilidade de estar conectada com a música. Eu não tinha ideia do que era aquilo, mas fui animadíssima porque via a possibilidade de ter uma profissão, ganhar um cachê. Era pouquinho na época, mas muito digno. Eu ainda era uma cantora verdinha, sem experiência, e me joguei. Foi dentro da Banda Eva que entendi que alguma coisa estava acontecendo diferente, fora do script. Comecei a ganhar meus primeiros fãs, a entender a dinâmica de um show e o que era uma direção musical. Eu já me relacionava com aquilo dentro de casa, e fui começando a entender as nomenclaturas do que eu vivia.”

Ivete Sangalo na Capa da Vogue Brasil de Dezembro 2023 — Foto: Vogue Brasil/ Lufré
Ivete Sangalo na Capa da Vogue Brasil de Dezembro 2023 — Foto: Vogue Brasil/ Lufré

O sucesso foi vertical, mas trouxe angústia. A agenda de shows era pesada, afastava Ivete de casa e a consumia fisicamente e mentalmente, criando expectativas e, por consequência, ansiedade. Eram 30 shows por mês, Ivete já não tinha controle sobre o calendário. Mas desistir não passou por sua cabeça. “Eu via a Banda Eva como uma oportunidade. Então, não me sentia apta a reclamar. Era uma cantora, tinha meu trabalho, e sucumbir não era uma opção”, lembra.

Ivete aprendeu ali a conviver com a fama e criou para sua carreira um gráfico imaginário que a acompanha ao longo desses 30 anos, presente também quando a corda afrouxa e chega a rara hora da entressafra de criatividade, trabalho ou, por que não, paciência.

“Houve, na carreira, momentos de maresia, calmaria demais. Toda carreira tem um gráfico. Se esse gráfico não se movimenta, vira uma coisa doentia, pouco orgânica, sabe? Eu acho que, assim como a vida, a carreira de um artista tem movimentos orgânicos, momentos de maior sucesso, de menor sucesso, um momento em que você tem que se reinventar, um momento em que você está de saco cheio e não quer reinventar nada, um momento em que você ganha um gás absoluto. O que me fez chegar aqui – além, óbvio, do meu talento, da minha potência de trabalho e de ser uma pessoa muito ativa e consciente – foi perceber o gráfico. O que mais atrapalha um artista é a ansiedade do sucesso, querer estar sempre no auge. Isso não vai acontecer. Como não vai acontecer o ostracismo. Isso é uma grande tolice porque o grande ostracismo de um artista é quando ele não se conecta mais com o que ele faz. A arte nunca cessa, nunca para, nunca te deixa na mão”, diz.

Ivete Sangalo na Capa da Vogue Brasil de Dezembro 2023 — Foto: Vogue Brasil/ Lufré
Ivete Sangalo na Capa da Vogue Brasil de Dezembro 2023 — Foto: Vogue Brasil/ Lufré

Os shows no Maracanã, em 2006, e no Madison Square Garden, em Nova York, em 2010, são divisores de águas na carreira longeva. Porém, Ivete prefere não pontuar momentos da profissão, até porque parece ter a percepção de que o melhor está por vir. O projeto Ivete 3.0 é mais uma etapa dessa vida agitada: um EP com quatro músicas está saindo do forno, e o show Esquenta, no Maracanã, no dia 20 de dezembro, abre a turnê que vai rodar por 30 cidades brasileiras, em comemoração aos 30 anos de carreira. “Com a maturidade que tenho, com tudo o que fui aprendendo e vivendo, diria que hoje é o meu melhor momento porque estou feliz em ser cantora, estou feliz em ser artista, independentemente do que alguém possa me dizer. No show do Maracanã [em 2006], vivi uma emoção incrível. Tive outros momentos especialíssimos e fui inteira em tudo o que fiz na minha vida até hoje”, analisa.

Leia a entrevista na íntegra na edição de dezembro, que chega às bancas no dia 08.12.

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