Vogue Repórter
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"Desde criança tive uma boa autoestima. Minha mãe me arrumava muito, com vestidos e enfeites no cabelo. Cresci gostando de me cuidar, sabendo exatamente escolher o que eu queria. Aprendi a não deixar que as pessoas interferissem no que eu gostava ou sobre quem eu era. Meu ciclo de amizade ajudou muito, fez com que eu não me sentisse excluída. Claro que tive situações de capacitismo que machucaram, mas sempre com pessoas de fora do meu convívio. Eu fui muito bem acolhida na escola. Tudo isso me ajudou a formar minha personalidade e a gostar de mim do jeito que eu era.

Ainda assim, despertei 'tarde' para algumas coisas. Dei meu primeiro beijo aos 16 anos, em um menino que eu conheci no período de transição para a faculdade. Aos 17 saí de casa, em Araxá (MG), para morar com minhas amigas em Uberlândia. Meus pais ficaram assustados, meu pai tinha medo que eu sofresse, mas eles me apoiaram. Sempre sonhei muito alto. A autonomia veio nesse processo – consegui ver ainda mais que eu podia fazer as coisas que eu queria. Passei a ir ao mercado comprar minha comida, lavar minha louça, fazer tudo sozinha... Cinco meses depois fui morar em Uberaba (MG), onde fiz faculdade de Psicologia. Todo mundo dizia para eu aproveitar porque essa é a melhor fase da vida. E aproveitei.

Nesta época descobri que adoro festas. Foi lá que comecei a ficar com quem eu tinha atração. Era como um Carnaval fora de época durante seis anos, vivi experiências que ainda não tinha vivido. Era tudo muito novo para mim. Conheci várias pessoas.

Muita gente tem um olhar para as pessoas com deficiência de uma maneira infantil, achando que a gente não beija, não bebe, não sai, não se diverte... Quando nas festas eu sentia atração por algum rapaz com quem eu estava conversando e a gente acabava ficando, passei a ver que isso também fazia parte da vida. Eu estava gostando dessa fase.

Pequena Lo — Foto: Divulgação
Pequena Lo — Foto: Divulgação

Não me arrependo de nada que eu fiz na faculdade. Foi realmente uma experiência muito boa, isso faz parte da autoestima da mulher com deficiência. As pessoas que estavam ao meu redor viam que eu também podia aproveitar igual a elas. Eu também podia beber, me divertir, sentir atração por alguém e alguém sentir atração por mim. Era recíproco.

Essa virada de chave aconteceu quando fui a uma festa no sul com o pessoal de outra faculdade, a gente viajou 20 horas de ônibus. Lá eu conheci um rapaz. Sempre fui meio assim: a pessoa está do meu lado e eu não consigo identificar o que ela quer. O menino estava lá conversando e, para mim, ele queria fazer amizade. Até que acabamos ficando na festa. Ali eu comecei a entender que realmente eu poderia ficar com as pessoas que eu gostasse. Essa viagem abriu a minha cabeça em relação às vivências que eu podia ter.

Pequena Lo no Baile da Vogue — Foto: Leca Novo
Pequena Lo no Baile da Vogue — Foto: Leca Novo

Mas nunca quis me apegar, eu não queria namorar ninguém. Sabia que eu não estava preparada e queria viver tudo que podia. Sempre achei que tudo tem a sua hora e a minha não era de namorar. Até gostei de algumas pessoas, mas nada sério. Então a gente entrava em acordos e aproveitava da melhor forma possível, sem compromisso.

Quando me mudei para São Paulo, após o fim da faculdade, me apaixonei pela primeira vez. Ao mesmo tempo que queríamos algo sério, não conseguíamos, por conta do trabalho, a minha vida já era muito corrida. Ele foi o meu primeiro amor, tínhamos muita coisa em comum. Só que infelizmente a gente não conseguiu namorar, porque a vida dele não estava na mesma frequência que a minha. Foi a primeira vez que eu soube o que é sofrer por amor. Deus me livre. Hoje temos uma amizade.

Até hoje namorei só uma vez. Quando eu comecei o relacionamento, recebi muitos comentários sem noção, como acontece principalmente quando você é uma figura pública. Vi o quanto as pessoas têm dificuldade de aceitar que a gente também passa por essa experiência. 'Por que as pessoas sentem atração por uma pessoa com deficiência?' Na cabeça deles a gente é inferior em tudo – nos afetos, vaidade, personalidade, beleza... Tem esse tabu de que as pessoas com deficiência não devem ser amadas, não podem se apaixonar ou não podem se apaixonar por ela.

Antes de tudo a gente também é um ser humano, a deficiência vem lá no final. Temos nossas vivências, personalidades, nosso modo de conversar. Sentimos atração e atraímos.

Quando veem uma pessoa com deficiência namorando e a pessoa é bonita, acham aquilo superfora da casinha. Acham que a pessoa está com a outra por interesse ou dinheiro, menos por amor. E não é assim. As pessoas realmente podem se apaixonar por alguém com deficiência. Ainda falta estourar muitas bolhas, aos poucos a gente vai conseguindo.

No meu namoro vivemos muitas coisas boas, mas eu acabei terminando. 'N' motivos acabam atrapalhando. O amor existe, mas acho que só ele não basta. Términos são tristes de viver, é um processo, mas também se aprende muita coisa. São ciclos que às vezes temos que encerrar porque é o melhor para o momento. Tudo eu vejo como aprendizado, por mais dolorido que seja.

Sei que muitas pessoas já mudaram a visão sobre pessoas com deficiência, mas ainda tem muita gente que não aceita, talvez por serem frustradas com elas mesmas. Quando eu ocupei esse lugar de ser a Pequena Lo, conquistar vários públicos e vários lugares, as pessoas ficavam comentando que eu não tinha graça. Acredito que queriam estar em um lugar que não conseguiram, mesmo não tendo deficiência. Mas isso é um problema delas, não é meu.

Pequena Lo — Foto: Divulgação
Pequena Lo — Foto: Divulgação

Algumas pessoas ainda não conseguem enxergar mulheres com deficiência como desejáveis ou namoráveis. Eu não exponho com quem eu fico, porque é minha vida pessoal, e conto sobre minha vida na faculdade de forma mais superficial porque acho que a gente não tem que ficar provando nada.

Eu brinco que as pessoas acham que quando você fica muito conhecida deve chover gente no Direct. Não é bem assim. E a gente fica muito mais seletiva do que antes em relação a tudo, a amizades e relacionamentos no geral. Sempre fui muito desconfiada. Depois de famosa fiquei mais ainda. Sou muito observadora: essa pessoa quer conhecer o meu CNPJ ou meu CPF?

A Pequena Lo não é um personagem, mas a Lorrane é diferente no dia a dia. Em casa sou mais introvertida. É uma privacidade que não é qualquer pessoa que vai ter acesso.

Pequena Lo no Vogue Celebra — Foto: Leca Novo
Pequena Lo no Vogue Celebra — Foto: Leca Novo

Em 2020 tive Burnout, crises de ansiedade, pânico e síndrome de impostora. Tudo de uma vez. Foi um período complicado, no qual precisei me voltar para mim. Entendi que tudo depende da mente e que a gente tem que se priorizar. Hoje estou ótima. Aprendi a olhar mais para mim e colocar minha saúde mental em primeiro lugar.

Neste Mês da Mulher, o que gostaria de dizer é que todas nós temos as nossas individualidades, as nossas belezas. O amor próprio não é algo fácil de conseguir, mas é um processo necessário. Antes de tudo a gente precisa se amar para depois amar o outro. Além de se amar, a gente tem todo direito de ser amada. E podemos ter todas as experiências que quisermos ter."

Lorrane Silva, a Pequena Lo, é psicóloga, comediante, apresentadora e atriz. Atualmente é comentarista no Mesacast (na Globo) e na nova temporada dos Soltos em Salvador (no Prime Vídeo). Como atriz, seu trabalho mais recente é no filme "Vidente por Acidente”, protagonizado por Otaviano Costa. Lorrane também é autora do livro “Na dúvida, escolha ser feliz”.

Pequena Lo na capa digital do Vogue Dossiê sobre mercado de influência de moda e beleza — Foto: Gil Inoue / Vogue Brasil
Pequena Lo na capa digital do Vogue Dossiê sobre mercado de influência de moda e beleza — Foto: Gil Inoue / Vogue Brasil
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