Bolsas e índices

Por Beatriz Pacheco, Valor Investe — São Paulo


O Ibovespa vem perdendo patamar de forma consistente desde meados de maio. E o problema é que, desde que o índice perdeu o patamar dos 121 mil pontos, seu próximo suporte está lá nos 112.160 pontos, cerca de 6,7% abaixo do patamar do seu último fechamento (120.261 pontos).

Ou seja, como a tendência de baixa se mantém para os curto e médio prazos, existe o risco de o Ibovespa acentuar as perdas no acumulado do ano de 10,4% para 16,4% antes de alcançar o próximo fundo.

Em análise técnica, nada que já caiu muito não pode cair ainda mais. O Ibovespa já caiu mais de 10% em 2024, e a questão é que o índice não tem suporte perto no gráfico diário, pois os fundos ficam somente em 112.160 e 111.600 pontos, que são suportes deixados em outubro do ano passado. O que continua prevalecendo é a tendência de baixa com formação de topos e fundos descendentes”, explica Igor Graminhani, analista gráfico da Genial Investimentos.

Análise grafista do Ibovespa em 19/06/2024 — Foto: Reprodução/Genial
Análise grafista do Ibovespa em 19/06/2024 — Foto: Reprodução/Genial

Então o Ibovespa está à beira de uma sangria desatada? Calma lá, jovem, a relação não é bem essa.

E isso o próprio analista gráfico da Genial explica: “O suporte não significa que o Ibovespa irá cair até ele em linha reta, nem tem como determinar quanto tempo demoraria para buscar essa região de fundo. Em análise técnica, trabalhamos com probabilidades e não com afirmações."

Quando um ativo rompe um suporte, ele tende a corrigir até o próximo fundo, mas não é garantido que ele realmente atingirá esse fundo. "A questão que se trata aqui é de maior probabilidade da manutenção dessa tendência de baixa”, acrescenta Graminhani.

Trocando em miúdos, o Ibovespa não necessariamente desabará até os 112 mil pontos. Na verdade, ele mantém a sua tendência de baixa e, pelo padrão histórico, na análise da Genial, o próximo suporte está nos seus 112.160 pontos. Isso SE ele chegar lá.

Mas nem isso é um consenso.

Analistas do Itaú BBA enxergam os próximos suportes do índice em 115.000 pontos e em 111.600 pontos. Já a equipe do BB Investimentos vê que, no atual patamar, os suportes mais relevantes do Ibovespa encontram-se atualmente mais espaçados, em 117 mil pontos, 114 mil pontos e 112 mil pontos.

Atualmente, para a Genial, depois dos 112.160 pontos, o próximo fundo do Ibovespa está nos 111.600 pontos e, depois, nos 108.190 pontos. É melhor nem pensar que isso pode acontecer.

Para os executivos do Itaú BBA, o momento é de cautela no curto prazo, pois o cenário de quedas mais acentuadas à frente existe e ficou mais provável. “O ambiente externo, até o momento, não conseguiu contribuir. Assim, o cenário de longo prazo para o índice fica sob revisão.”

O que é o suporte?

De forma bem simplificada, em análise gráfica, quando o preço de uma ação vem de uma série de quedas, ele forma esse “fundo”, ou seja, historicamente, para de cair e faz um movimento de alta mais forte.

Depois, se tem nova queda, vai testar o fundo anterior no gráfico, e então “bate e sobe” novamente.

A análise é que, ao alcançar um fundo, um ativo levaria mais tempo antes de escavar até seu próximo "suporte". Daí o porquê de se usar este termo.

Por isso, as análises não estão dizendo que o Ibovespa vai cair até os próximos fundos, e sim que SE o índice chegar lá, encontraria alguma resistência antes de escavar até o próximo fundo - e, neste caso, apenas se a tendência de curto prazo não mudar.

O que fundamenta a análise técnica?

O que está acontecendo no “mundo real” é refletido como movimento na bolsa e que então se transforma nos dados mostrados pelo gráfico - que analistas técnicos passam a interpretar. E o pano de fundo para esse movimento do Ibovespa, nas últimas semanas, é o Brasil.

Antes, as expectativas para o início do ciclo de flexibilização da política monetária nos Estados Unidos estava conduzindo os investidores da nossa bolsa. Mas a deterioração do cenário fiscal no Brasil tomou protagonismo nesse palco. E é isso que, atualmente, está levando o índice a testar seus próximos “fundos” no gráfico.

Então, mesmo com o alívio da pressão externa, dada a piora no ambiente doméstico sem indicativos de fatores que podem reverter esse cenário, a visão de que a tendência para o Ibovespa atualmente é de queda.

Com informações do Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor Econômico.

Queda — Foto: GettyImages
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