Bolsas e índices

Por Isabel Filgueiras, Valor Investe — São Paulo


O mercado de ações brasileiro é um mar que não está para peixe. Diferentemente do que se especulava no início do ano, quando a aposta era de uma tendência de alta após o rali visto nos últimos dois meses de 2023, o primeiro semestre deste ano terminou com queda. No fim do ano passado, a média das apostas era de que o Ibovespa subiria até os 146 mil pontos. Pior do que ficar parado no caminho, o índice deu ré, ficando mais distante desta meta e obrigando muitos agentes a reverem seus cálculos.

  • Apesar de junho ter corrido para tentar amenizar o estrago, no acumulado deste semestre/ano, o Ibovespa encerrou com recuo de 7,66%, aos 123.907 pontos. No mês, apenas o segundo a fechar no positivo, a alta foi de 1,48%. O último pregão foi marcado com perdas de 0,32%, puxado por ações que sofrem com os juros mais altos.

Mas o que houve afinal? As reduções (assim mesmo no plural) dos juros nos Estados Unidos não vieram, a economia da China tampouco decolou, as taxas pararam de cair mais cedo por aqui e a percepção sobre o risco fiscal piorou, e muito. Para complicar ainda mais, o embate entre presidente Lula e Banco Central e Executivo e Legislativo também não fizeram nenhum favor aos mais otimistas do mercado.

"O cenário economico global não tem dado muita trégua para ativos de risco, começamos o ano no Brasil com cenário de mudanças fiscais para entregar uma inflação abaixo da meta, o que não teve tanto sucesso", pontua Hemelin Mendonça, especialista em mercado de capitais e sócia da AVG Capital.

A chuva de dólares cantada para 2024 nunca aconteceu. Pelo contrário, nesse período, os gringos que sustentaram os avanços em 2023 abandonaram o barco, retirando mais de R$ 40 bilhões da bolsa, 90% dos R$ 45 bilhões que investiram no ano passado.

"O principal motivo da queda foi a saída muito grande de investidor estrangeiro, além dos saques que estão acontecendo nos fundos. Essas saídas, certamente, levaram a esse mal desempenho. E ainda tem esse quadro fiscal que não é favorável. Isso estressou o dólar e o juro empinou", avalia Alexandre Espirito Santo, Economista-Chefe da Way Investimentos e prof. IBMEC-RJ.

Nos primeiros três meses, os juros, o dólar e a própria bolsa sofreram forte influência da frustração dos investidores com os Estados Unidos. A economia americana se mostrava forte e resistente à política de aperto monetário. Assim, as apostas em um corte de juros ainda este semestre foram sendo desfeitas e os rendimentos dos títulos da dívida pública americana, considerados os mais seguros, subiram.

Os juros locais acompanharam o movimento, visto que, para competir com o mercado de melhor reputação é preciso oferecer algo a mais. Esse algo a mais se tornou maior ainda na medida em que crescia a percepção de que o governo não pretendia cortar gastos. As derrotas do Executivo no Congresso, frustrando tentativas de aumentar a arrecadação, também deterioraram a confiança do investidor.

Ao interpretar que o compromisso fiscal do Brasil está abalado, os juros sobem, porque a precepção de calote cresce. A ponta mais longa da curva de juros foi a que mais subiu no semestre, com contratos ficando com prêmios 20% acima daqueles vistos no início do ano.

  • A Taxa de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 reajustou de 10,02% no início de janeiro para 10,74% na última sessão de junho, uma alta de 7%. No início do mês, as taxas eram de 10,38%. Prêmios em contratos de mais curto prazo estão mais ligados às expectativas de investidores para a Selic;
  • Já para janeiro de 2033, a taxa escalou de 10,38% no início do ano para 12,43% no fim de junho, variação de 20%. No começo do mês, esses contratos eram negociados a 11,88%. Vencimentos com prazos mais longos refletem uma maior a preocupação com calote do governo ("risco fiscal", se preferir).

O dólar comercial também reagiu aos mesmos fatores, juros altos lá fora e risco aqui dentro. A moeda americana voltou a alcançar sua maior cotação em dois anos e meio, sendo negociada a R$ 5,60 nesta sexta-feira.

  • Só nesta sessão, a alta foi 1,46%. No mês, o avanço foi de 6,46% ante o real. No semestre, o quadro é ainda mais grave, com valorização de 15,77% em relação aos R$ 4,91 de janeiro.

Atrás dos pares globais

A cotação do Ibovespa em moeda americana permite a comparação com demais cestas de ações pelo mundo. E mostra que a brasileira come até aqui uma poeira danada.

Em dólares, então, o principal índice da bolsa brasileira acumulou perdas de profundos 19,5% no primeiro semestre de 2024. Um resultado totalmente descolado dos recordes cravados pela bolsa de Nova York. O índice S&P 500, americano que reúne as 500 ações mais relevantes negociadas em Nova York, subiu 14,5% nos primeiros seis meses do ano.

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Ok, no Brasil não existe o frisson pelo avanço da inteligência artificial. Não estão aqui empresas como a Nvidia, que teve alta de mais de 150% e impulsionou o índice de tecnologia Nasdaq a ganhos de 20%. Mas os demais mercados emergentes, naturalmente considerados mais arriscados, também contam em sua maioria com a chamada “velha economia”.

Se não ofereceram ganhos tão vistosos quanto nos Estados Unidos, bolsas emergentes não deixaram de apontar para cima. O índice MSCI Emerging Markets, cesta de ações das principais economias em desenvolvimento, fechou o semestre com ganhos acumulados de 6%.

"O Brasil perdeu muito valor em relação aos outros pares emergentes. Num momento passado, nós éramos talvez a melhor opção de investimento entre os emergentes, com uma certa estabilidade política e econômica, mais afastado de conflitos que naquele momento estavam se intensificando em todo o mundo, com uma boa base de exportação, uma boa capacidade produtiva de commodities. Mas isso acabou piorando principalmente com essa questão política", afirma Thiago Lourenço, operador de renda variável da Manchester Investimentos.

Empresas

Das 86 ações do Ibovespa, somente 19 conseguiram se manter no positivo até o fim deste primeiro semestre. As outras 67 amargaram perdas.

Apesar das interpéries, troca de comando e ruídos sobre os dividendos extraordinários, os papéis da Petrobras estão entre a minoria que se manteve no azul, com ganhos acima de 12% no ano.

Já as empresas mais sensíveis aos juros altos e à economia local figuram entre as que mais sofreram no período, como varejistas, aéreas e até mesmo os bancos, com destaque negativo para o Bradesco, que desanimou investidores com seus resultados trimestrais.

Movimento das 86 acões do Ibovespa em 28 de junho de 2024

Código Nome Abertura Mínima Média Máxima Fechamento Var. %
BRFS3 BRF SA ON 21,91 21,86 22,34 22,80 22,67 2,81
MRFG3 MARFRIG ON 12,19 12,04 12,24 12,36 12,36 1,56
BRAP4 BRADESPAR PN 18,27 18,27 18,51 18,62 18,51 1,37
PRIO3 PETRORIO ON 43,32 43,15 43,80 44,15 43,76 1,34
PETR3 PETROBRAS ON 39,90 39,90 40,28 40,48 40,38 1,23
WEGE3 WEG ON 41,70 41,35 41,92 42,19 42,19 1,18
SBSP3 SABESP ON 73,00 72,36 74,47 75,46 74,97 1,16
VALE3 VALE ON 61,68 61,64 62,25 62,55 62,22 1,07
PETR4 PETROBRAS PN 37,80 37,71 37,98 38,17 38,05 0,90
CMIN3 CSN MINERACAO ON 5,15 5,14 5,18 5,22 5,19 0,78
FLRY3 FLEURY ON 14,98 14,88 15,04 15,15 15,03 0,74
GGBR4 GERDAU PN 18,21 18,16 18,32 18,47 18,38 0,66
PETZ3 PETZ ON 3,58 3,47 3,62 3,70 3,63 0,55
ELET3 ELETROBRAS ON 35,56 35,56 36,14 36,72 35,85 0,53
BBSE3 BB SEGURIDADE ON 32,83 32,65 32,87 33,01 32,93 0,46
KLBN11 KLABIN S/A UNT 21,29 21,10 21,30 21,45 21,44 0,42
TAEE11 TAESA UNIT 34,17 34,10 34,22 34,43 34,23 0,20
GOAU4 GERDAU MET PN 10,59 10,56 10,65 10,71 10,65 0,19
BBDC3 BRADESCO ON 11,18 11,12 11,19 11,23 11,19 0,18
ELET6 ELETROBRAS PNB 39,90 39,88 40,28 40,90 40,10 0,12
CSNA3 SID NACIONAL ON 12,91 12,79 12,91 12,99 12,91 0,08
RRRP3 3R PETROLEUM ON 27,53 26,96 27,34 27,68 27,48 0,04
BBAS3 BRASIL ON 26,70 26,46 26,60 26,74 26,71 0,04
SUZB3 SUZANO S.A. ON 57,50 56,23 57,04 57,56 57,01 0,02
ENGI11 ENERGISA UNT 45,05 45,05 45,65 46,00 45,62 -0,07
ITUB4 ITAU UNIBANCO PN 32,48 32,05 32,27 32,54 32,41 -0,09
CIEL3 CIELO ON 5,64 5,62 5,63 5,65 5,63 -0,18
ITSA4 ITAUSA PN 9,83 9,71 9,78 9,87 9,82 -0,20
EGIE3 ENGIE BRASIL ON 44,39 44,17 44,37 44,59 44,29 -0,25
TRPL4 TRANS PAULISTA PN 26,35 26,04 26,23 26,48 26,26 -0,30
BBDC4 BRADESCO PN 12,42 12,31 12,40 12,48 12,38 -0,32
ABEV3 AMBEV S/A ON 11,43 11,16 11,35 11,48 11,41 -0,44
ALOS3 ALLOS ON NM 21,03 20,90 21,12 21,31 21,12 -0,56
SLCE3 SLC AGRICOLA ON 17,57 17,45 17,53 17,66 17,45 -0,57
SMTO3 SAO MARTINHO ON 32,62 32,41 32,68 33,03 32,73 -0,58
BEEF3 MINERVA ON 6,72 6,54 6,67 6,78 6,68 -0,60
TIMS3 TIM ON 15,87 15,73 15,88 15,99 15,88 -0,63
RDOR3 REDE D OR ON 27,17 26,72 27,08 27,50 27,20 -0,69
EQTL3 EQUATORIAL ON 31,32 30,36 30,79 31,47 30,69 -0,78
LREN3 LOJAS RENNER ON 12,52 12,39 12,54 12,69 12,48 -0,87
ARZZ3 AREZZO CO ON 51,94 50,53 51,25 52,20 51,35 -0,89
RECV3 PETRORECSA ON 18,78 18,50 18,62 18,82 18,54 -0,91
RAIZ4 RAIZEN PN 2,98 2,91 2,94 3,00 2,95 -1,01
VIVT3 TELEF BRASIL ON 45,80 45,34 45,54 45,98 45,34 -1,11
USIM5 USIMINAS PNA 7,99 7,91 7,99 8,14 7,91 -1,12
JBSS3 JBS ON 32,46 31,89 32,28 32,74 32,27 -1,19
CPFE3 CPFL ENERGIA ON 33,14 32,65 32,78 33,23 32,73 -1,21
VIVA3 VIVARA ON 21,07 20,70 20,98 21,22 20,94 -1,23
SOMA3 GRUPO SOMA ON 6,19 6,02 6,13 6,28 6,14 -1,29
MGLU3 MAGAZ LUIZA ON 12,14 11,65 11,93 12,20 12,05 -1,31
SANB11 SANTANDER BR UNIT 27,68 27,40 27,51 27,69 27,46 -1,40
CMIG4 CEMIG PN 10,04 9,84 9,90 10,04 9,89 -1,49
TOTS3 TOTVS ON 30,90 30,17 30,57 30,93 30,43 -1,49
CRFB3 CARREFOUR BR ON 9,04 8,92 9,04 9,22 9,02 -1,53
B3SA3 B3 ON 10,39 10,14 10,25 10,43 10,24 -1,54
CSAN3 COSAN ON 13,78 13,43 13,56 13,85 13,54 -1,67
CPLE6 COPEL PNB 9,45 9,27 9,35 9,47 9,30 -1,69
RAIL3 RUMO S.A. ON 20,99 20,54 20,78 21,21 20,72 -1,75
EZTC3 EZTEC ON 13,15 12,85 12,97 13,26 12,94 -1,82
IGTI11 IGUATEMI S.A UNT 20,90 20,48 20,61 20,95 20,58 -1,95
RENT3 LOCALIZA ON 42,81 41,24 41,99 42,81 42,00 -1,98
NTCO3 GRUPO NATURA ON 15,78 15,50 15,63 15,84 15,54 -2,02
HAPV3 HAPVIDA ON 3,90 3,80 3,86 3,92 3,83 -2,05
VBBR3 VIBRA ON 21,21 20,84 20,96 21,38 20,90 -2,06
UGPA3 ULTRAPAR ON 21,96 21,60 21,69 21,96 21,60 -2,09
HYPE3 HYPERA ON 28,96 28,70 28,99 29,43 28,70 -2,11
MULT3 MULTIPLAN ON 23,05 22,54 22,73 23,18 22,54 -2,13
VAMO3 VAMOS ON 7,69 7,38 7,52 7,74 7,57 -2,20
IRBR3 IRBBRASIL RE ON 32,15 31,60 31,95 32,35 31,60 -2,26
CCRO3 CCR SA ON 11,95 11,58 11,70 11,95 11,64 -2,27
LWSA3 LWSA ON 4,15 4,01 4,05 4,16 4,05 -2,41
CVCB3 CVC BRASIL ON 1,99 1,92 1,97 2,01 1,96 -2,49
BRKM5 BRASKEM PNA 18,40 17,86 18,00 18,43 17,86 -3,15
RADL3 RAIA DROGASIL ON 26,36 25,44 25,73 26,45 25,68 -3,24
CYRE3 CYRELA REALT ON 19,29 18,78 19,03 19,57 18,85 -3,33
ENEV3 ENEVA ON 13,03 12,64 12,77 13,15 12,70 -3,50
DXCO3 DEXCO ON 6,80 6,55 6,61 6,85 6,56 -3,53
ALPA4 ALPARGATAS PN 9,35 9,08 9,19 9,52 9,12 -3,59
BPAC11 BTGP BANCO UNT 32,37 29,99 31,03 32,51 30,91 -3,98
MRVE3 MRV ON 6,91 6,59 6,71 6,97 6,68 -4,02
PCAR3 P.ACUCAR - CBD ON 2,78 2,68 2,72 2,83 2,70 -4,26
ASAI3 ASSAI ON 10,80 10,26 10,41 10,85 10,34 -4,52
EMBR3 EMBRAER ON 38,09 35,26 36,36 38,40 36,15 -5,42
YDUQ3 YDUQS PART ON 10,96 10,41 10,61 11,04 10,41 -5,71
COGN3 COGNA ON 1,86 1,77 1,82 1,89 1,77 -5,85
AZUL4 AZUL PN 7,74 7,29 7,46 7,84 7,34 -6,02
Frustração — Foto: GettyImages
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