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Por Gabriela da Cunha, Valor Investe — Rio


O filme “Divertida Mente 2” se tornou a segunda maior estreia de cinema no país desde 2019. O longa de animação conta como são formadas as emoções humanas, mas virou sucesso absoluto pela chegada de uma nova personagem: a ansiedade. Tal como no filme, a ansiedade também se destacou entre os investidores expostos à bolsa brasileira em 2024. E logo ganhou a companhia de outros sentimentos, virando um carrossel de emoções. Ao final dos seis primeiros meses do ano, a amargura é a cara do Ibovespa.

No começo do ano, a ansiedade era grande. As expectativas em torno das políticas monetárias do Brasil e dos Estados Unidos alimentaram um rali de bolsas no final de 2023, o que trouxe mais de R$ 38 bilhões de investimento estrangeiro para a B3. Isso até amenizou o fato de, em janeiro, o principal índice acionário da bolsa fechar no vermelho. Em fevereiro, o otimismo prevaleceu. Mas veio março e aí só foi ladeira abaixo, até junho. Com a alta mensal de 1,48%, o Ibovespa tem saldo parcial negativo no ano de 7,66%. E a saída do investimento estrangeiro até 26 de junho é de R$ 40,68 bilhões.

As razões para a tristeza se acentuar são resumidas por Filipe Villegas, estrategista de ações da Genial Investimentos.

“As expectativas em torno da política monetária nos Estados Unidos ficaram piores, o que dá menos espaço para o banco central brasileiro também reduzir juros. Mas ainda assim se esperam cortes nas taxas dos EUA. Diferentemente daqui, que hoje já se projetam mais juros até o final do ano. Num cenário macro mais desafiador, o Brasil piorou os seus fundamentos por conta de decisões do governo de gastar mais sem uma contrapartida clara, e pela tentativa de intervenção em empresas importantes”.

O preço de algumas commodities, como o minério de ferro, também não ajudou. Mesmo com diferentes tentativas do governo chinês de estimular a economia a partir do setor imobiliário, os resultados ainda não vieram. E o excedente de estoque da commodity usada na produção de aço levou a uma correção dos preços. Com isso, a Vale (VALE3), a empresa de maior peso dentro do principal índice acionário da bolsa, sente os efeitos e intensifica o baixo astral.

O roteiro do filme da bolsa brasileira ainda teve a participação especial do “medo” ao longo de junho.

“Os investidores ficaram mais avessos ao risco global por conta das tensões em torno das mudanças políticas na Europa, combinada à falta de clareza da agenda macroeconômica dos Estados Unidos. Isso levou o investidor a buscar ativos mais seguros, como o dólar e o ouro, que segue próximo das suas máximas”, pontua Villegas.

O longa-metragem sobre o Ibovespa no semestre só não entrou para a categoria “Terror” porque parte das empresas mostrou alguma resiliência na temporada de balanços.

“Vemos algumas empresas numa situação de alavancagem melhor do que no ano passado, fruto da melhora dos fundamentos e da queda da Selic. Estimamos que os resultados vão continuar melhorando nos próximos trimestres. Para o investidor que consegue fazer um bom planejamento e suportar uma trajetória ruim das ações no curto prazo, a tendência é ser bastante remunerado mais no longo prazo”.

Com todo esse enredo, As ações das frigoríficas JBS (JBSS3), BRF (BRFS3) e Marfrig (MRFG3) despontam no mês e no ano, até aqui, dada a recuperação do setor.

“Há uma recuperação de margem e desalavancagem das empresas em geral. Isso reflete a melhora no cenário, reflete uma mudança no círculo das proteínas, principalmente nas operações de aves e suínos. Então, o setor como um todo está melhorando e foi motivação para alta no mês de junho”, esclarece Frederico Nobre, líder de análise da Warren Investimentos.

Mas o grande destaque em termos de ganhos cumputados no mês é a BRF, que avançou 22%. No ano, também é a maior alta, com valorização de 64,16%.

Para Nobre, o momento ainda mantém as empresas com valuation (valor de mercado) atrativos, mas a preferência no setor é pela JBS pela atuação calcada na diversificação geográfica e de proteínas, o que mitiga o atual mercado desafiador de carne bovina nos Estados Unidos.

As ações da São Martinho (SMTO3) tiveram a segunda maior valorização dentro do Ibovespa em junho e também se destacam no ano até aqui. As valorizações são de 22% e 12%, respectivamente.

Régis Chinchila, líder de research da Terra Investimentos, explica que o desempenho mensal é atribuído a uma combinação de fatores empresariais e setoriais. A divulgação dos resultados do 4T24 (no último dia 17), mostrou um lucro caixa 48% maior em relação ao mesmo período do ano anterior. A perspectiva de expansão da capacidade produtiva de etanol de milho na Usina Boa Vista, em Goiás, que poderá ser decidida até o final de 2024 também foi bem recebida. Além disso, a fixação do preço do açúcar para a safra 24/25 a R$ 2.658/tonelada e o crescimento na produção de cana em 15,2% em comparação ao ciclo anterior impulsionaram o otimismo do mercado.

“Embora o desempenho positivo seja em parte devido à melhora nos preços internacionais do açúcar e ao aumento na produtividade agrícola, fatores específicos da empresa, como a eficiente gestão de custos e a redução da dívida líquida em 5,5%, também desempenharam um papel crucial. Ao longo de 2024, a empresa, uma das líderes do setor sucroalcooleiro no Brasil, tem mostrado um movimento consistente de valorização, refletido em indicadores financeiros robustos, como um Retorno Sobre o Patrimônio (ROE) de 21% e uma renda de proventos de 4,1%. Ou seja, a valorização da São Martinho não é um fenômeno pontual”.

10 ações que mais se valorizaram em junho de 2024

Class. Papel Código Variação (%) Cotação
1 BRF SA ON BRFS3 22,01 22,67
2 SAO MARTINHO ON SMTO3 22,00 32,73
3 SUZANO S.A. ON SUZB3 17,06 57,01
4 WEG ON WEGE3 12,36 42,19
5 JBS ON JBSS3 11,89 32,27
6 MARFRIG ON MRFG3 9,57 12,36
7 MINERVA ON BEEF3 7,74 6,68
8 FLEURY ON FLRY3 6,98 15,03
9 HYPERA ON HYPE3 6,01 28,70
10 TOTVS ON TOTS3 5,95 30,43

Já os papéis da Weg (WEGE3), que acumularam valorização de 12,36% em junho e de 15,40% no ano até aqui, entre as maiores altas do Ibovespa no semestre, está relacionada a um movimento defensivo por parte de investidores, aponta Lucas Laghi, líder da equipe de Mineração e Siderurgia, Papel e Celulose e Bens de Capital da XP.

“Investidores buscam o papel como uma forma de se proteger dos riscos macroeconômicos mais elevados no âmbito doméstico, dada a relevância de mercados externos para a WEG. Nesse contexto, a recente depreciação cambial observada no último mês acaba sendo bastante benéfica para as ações”.

Por fim, não dá para falar do semestre sem citar a Embraer (EMBR3). Apesar de não aparecer entre os 10 ativos de maiores valorizações em junho, a companhia tem a segunda maior valorização no ano até aqui dentro do Ibovespa, só atrás de BRF.

Luccas Fiorelli, sócio fundador da HCI Invest, cita os fatores para isso: fluxo positivo relacionado ao potencial de renovação de aeronaves comerciais e negociações em andamento no setor de defesa, com destaque para o KC390 Millennium. O avião de transporte militar é visto pelo comando dos Fuzileiros Navais dos Estados Unidos como uma opção viável na categoria de transporte tático, o que abre a possibilidade de aumento de receita nos próximos meses se a empresa conseguir adicionar novos pedidos à sua carteira.

"A aviação comercial continua sendo o principal motor de crescimento da companhia, mas melhoria na divisão de defesa é um fator-chave para a valorização das ações. Apesar da forte alta das ações nos últimos meses, ainda vemos um movimento favorável no curto prazo, impulsionado por um ambiente robusto na indústria da aviação", sustenta.

Embora ainda se espere que o fluxo de notícias positivas continue, a Fiorelli pontua que a companhia deve apresentar níveis de retorno sobre o capital investido (ROIC) e custo de capital na faixa de 7,6 vezes, implicando um valuation assimétrico para o lado negativo.

"Embora a Embraer possa parecer mais barata em relação aos pares do setor, acreditamos que isso se deve ao perfil diferente de ROIC e crescimento, o que justifica o nível de desconto atual. Portanto, acreditamos que o valor atual de R$ 37 por ação está justo e merecido, já que todo o fluxo de notícia já foi antecipado pelo mercado".

E no caso da Cemig (CMIG4), a valorização acumulada de 16,98% entre janeiro e junho não deixa de surpreender. O setor de utilities, do qual a companhia faz parte na bolsa, sofreu depois da mudança de perspectiva nos cortes de juros dos EUA e do Brasil. Os juros de longo prazo prejudicam especialmente o setor. Além disso, os papéis da companhia foram penalizados no início do ano, refletindo a discussão sobre a federalização da Cemig e Copasa.

A “volta por cima” começou a ser construída com o enfraquecimento do debate político. Ontem (27), as companhias negaram estar envolvidas em qualquer processo de negociação entre o poder legislativo e os governos Federal e Estadual para uma eventual federalização.

“O mercado tirou o risco da mesa e, na sequência, a companhia apresentou dividendos muito fortes, o que constitui o fator mais importante para a alta das ações”, explica Vladimir Pinto é o responsável pela área de Energia e Saneamento na XP.

Só em junho a companhia pagou R$ 1,5 bi em proventos. “O que temos visto, de maneira geral, é que as ações de dividendos, como as da Cemig, têm ‘andado’ melhor do que as demais em 2024. Mas, além disso, a empresa tem demonstrado melhora operacional”, complementa.

As 10 ações que mais se valorizaram no 1º semestre de 2024

Class. Papel Código Variação (%) Cotação
1 BRF SA ON BRFS3 64,16 22,67
2 EMBRAER ON EMBR3 61,46 36,15
3 JBS ON JBSS3 29,55 32,27
4 MARFRIG ON MRFG3 27,42 12,36
5 CIELO ON CIEL3 24,56 5,63
6 CEMIG PN CMIG4 16,98 9,89
7 WEG ON WEGE3 15,40 42,19
8 PETROBRAS ON PETR3 13,46 40,38
9 SAO MARTINHO ON SMTO3 12,97 32,73
10 PETROBRAS PN PETR4 12,42 38,05
Divertida Mente 2 — Foto: Divulgação/ Pixar
Divertida Mente 2 — Foto: Divulgação/ Pixar
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