Bolsas e índices

Por Beatriz Pacheco, Valor Investe — São Paulo


A apreensão com a decisão do Copom que sairá logo mais - e deve pôr fim às quedas na Selic - nublou as perspectivas para a bolsa brasileira. Sem visibilidade do horizonte, investidores operaram nesta quarta (19) com freio de mão puxado.

Agentes do mercado dão como certa a resolução do comitê de política monetária do Banco Central (BC) pela manutenção da taxa básica de juros em 10,5% ao ano. De acordo com o Termômetro do Copom do Valor Investe, 93% apostavam neste cenário.

É que o principal questionamento hoje ronda o futuro da autarquia. Especificamente, se o BC conseguirá manter uma gestão técnica e desvinculada da agenda política de 2025 em diante, quando assumirá um indicado pelo governo.

E isso pode começar a ser respondido hoje. Por isso, a bolsa brasileira ficou quase em segundo plano.

  • Enquanto as respostas não chegam, o Ibovespa ainda pode ser o “reizinho da Coitadolândia” dos mercados de ações no mundo. Mas, pelo menos por hoje, conseguiu retomar o patamar dos 120 mil pontos. Mesmo sob pressão, o índice conseguiu dar tração à alta no fim da tarde e fechou com ganho de 0,53%, nos 120.261 pontos. No mês, ainda acumula perdas de 1,5%, e, no ano, cai 10,38%.

  • O giro ficou 44% abaixo da média diária nos últimos 12 meses, atualmente em R$ 16,9 bilhões, . O volume financeiro movimentado na carteira do Ibovespa hoje foi de R$ 9,4 bilhões. É o menor nível desde o pregão de 27 de maio, quando o índice movimentou R$ 7,4 bilhões.

Navegando sem rumo por mares estranhos

Não bastando as incertezas do mercado doméstico, o Ibovespa perdeu os referenciais externos hoje. Foi feriado nos Estados Unidos, ou seja, as bolsas não tiveram pregões por lá. E como a economia americana vem funcionando como um norte para a bolsa brasileira, os ativos de renda variável ficaram meio assim…a esmo.

Por boa parte do pregão, o Ibovespa esteve em baixa, embora não muito expressiva. Chegou a cravar a estabilidade em alguns momentos até que, na última hora da sessão, abriu alguma margem no campo dos ganhos.

As taxas de juros futuros dos juros, pelo menos, seguiram uma direção só: alta. Totalmente coerente com um dia de decisão do Copom.

  • Prêmios em contratos de mais curto prazo estão mais ligados às expectativas de investidores para a Selic. A Taxa de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 reajustou de 10,67% ontem para 10,71% no fechamento de hoje. Já para janeiro de 2032, escalou de 12,15% para 12,18%. Quão mais longo o prazo, maior a influência do cheiro de calote do governo ("risco fiscal", se preferir).

Mesmo sem ter a curva de juros dos EUA como referência hoje, o dólar também deu conta de subir no embalo das preocupações com as políticas fiscal e monetária aqui no Brasil.

Usualmente, a renda fixa americana estar mais ou menos atrativa tem influência sobre o movimento da moeda, que se fortalece quando as taxas das Treasuries (títulos do Tesouro dos EUA) sobem e enfraquece se as taxas descem.

A lógica é que mais capital global é arrastado aos mares do mercado americano e por lá navegam quando os seus ativos de renda fixa dos EUA estão com taxas mais elevadas.

  • O dólar comercial avançou 0,15% hoje e foi a R$ 5,44. Durante a sessão, chegou a encostar nos R$ 5,48, a maior cotação desde 22 de julho de 2022, mas perdeu fôlego no fim da tarde. No mês, o câmbio à vista avançou 3,67%, o que o levou a ficar 12,14% mais caro de janeiro até hoje.

  • Já o cenário corporativo acompanhou o marasmo do resto do mercado, sem destaques entre os movimentos na carteira do Ibovespa. Das 86 ações que compõem o índice atualmente, apenas 17 ativos desvalorizaram hoje.

Apesar do cenário de calmaria, o clima hoje é aquele que antecede os desastres - o que esta reunião do Copom pode se tornar para o mercado.

Para além da decisão, o comitê precisa se apresentar como um corpo unido se a intenção for recuperar a credibilidade da política monetária e evitar a desancoragem (alta das taxas) das expectativas para os juros, apontou Felipe Miranda, analista-chefe e sócio da Empiricus.

“A especulação no mercado é que [o diretor Gabriel] Galípolo é o grande favorito à sucessão da presidência do BC. E o problema é que, apesar de o executivo já ter sinalizado alguma inclinação para votar junto com Roberto Campos Neto, neste ambiente de ataques do governo ao atual presidente da autarquia, como Galípolo poderá votar junto com ele?”, ponderou Miranda no seu comentário na pré-abertura da bolsa hoje.

O racha provocado pela pressão política sobre o Copom gerou um receio que só vem crescendo entre investidores.

Isso porque, com o fim do mandato de Campos Neto neste ano, o BC poderia se tornar outra ferramenta do governo para viabilizar seus projetos, apesar do que a economia pede.

Conseguirá o presidente do BC indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva implementar medidas impopulares, como será o caso numa eventual necessidade de subir a taxa básica de juros?

O horizonte relevante para o BC, que atualmente é o ano de 2025, representa uma ameaça ao ciclo de flexibilização da política monetária brasileira.

Apesar de se abrir espaço para a Selic descer quando começarem os cortes que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) fará em suas taxas, a perspectiva para o Brasil é de mais inflação. Por algumas razões:

  1. Ano-base mais alto: os dados de inflação em 2024 têm vindo mais fortes do que em 2023 e devem acelerar ainda mais nos próximos meses sob o efeito da quebra da produção no Rio Grande do Sul, em consequência dos desastres provocados pelas enchentes. Por isso, os indicadores anualizados de preços tendem a ser mais altos - a menos que surpreendam significativamente para baixo no ano que vem, o que tem baixas chances de acontecer;
  2. Câmbio: o dólar alto por mais tempo, como se prevê atualmente, vira uma espécie de canal de inflação para o Brasil. Por ser a moeda padrão no comércio internacional, matérias e produtos importados tendem a encarecer, o que impacta toda a cadeia de produção e deve elevar os preços de produtos e até de alguns serviços;
  3. Mercado de trabalho segue apertado: além do crescimento real em benefícios para não trabalhadores, isto é, um aumento dos valores pagos em assistência previdenciária e social acima da inflação, o mercado de trabalho resiste aos juros altos. Este é um dos pontos de alerta no mercado brasileiro, de acordo com o BC, uma vez que a mão de obra mais ocupada aumenta a disputa de empresas pelos trabalhadores, o que pressiona os salários para cima. E esse dinheiro deságua no mercado de duas formas: mais consumo e elevação de custos para as companhias. Dois fenômenos que podem, indiretamente, puxar os preços no mercado.

Então a quarta-feira seguiu como quando a maré recua antes de um tsunami. Mas ainda não está certo se estamos mesmo um desastre no mercado financeiro.

Talvez a decisão de hoje se transforme numa ansiada graça (por menor que seja) para a bolsa brasileira. Talvez...

Movimento das ações do Ibovespa em 19/6/2024

Código Nome Abertura Mínima Média Máxima Fechamento Var. %
BRFS3 BRF SA ON 19,21 19,20 19,96 20,14 20,02 4,33
YDUQ3 YDUQS PART ON 10,71 10,62 10,88 11,14 11,09 4,33
MRFG3 MARFRIG ON 10,59 10,55 10,91 11,09 10,88 3,03
SMTO3 SAO MARTINHO ON 30,96 30,65 31,22 31,89 31,76 2,92
BEEF3 MINERVA ON 6,29 6,24 6,42 6,54 6,47 2,86
WEGE3 WEG ON 39,30 39,02 39,59 39,82 39,81 2,44
VAMO3 VAMOS ON 7,05 6,96 7,11 7,28 7,28 2,39
NTCO3 GRUPO NATURA ON 14,65 14,58 14,89 15,13 15,12 2,30
VIVA3 VIVARA ON 19,83 19,68 19,98 20,29 20,28 2,27
CSAN3 COSAN ON 12,47 12,31 12,59 12,81 12,77 2,24
RENT3 LOCALIZA ON 39,17 39,00 39,52 40,08 40,01 2,20
LREN3 LOJAS RENNER ON 12,30 12,22 12,46 12,70 12,63 2,18
PETZ3 PETZ ON 3,33 3,27 3,37 3,45 3,39 2,11
HYPE3 HYPERA ON 28,81 28,64 29,01 29,41 29,41 2,05
RECV3 PETRORECSA ON 17,60 17,57 17,73 17,93 17,93 1,88
TRPL4 TRANS PAULISTA PN 24,94 24,90 25,18 25,42 25,39 1,80
JBSS3 JBS ON 28,70 28,70 29,33 29,60 29,41 1,76
LWSA3 LWSA ON 4,00 3,93 4,03 4,09 4,05 1,76
CCRO3 CCR SA ON 11,38 11,36 11,48 11,63 11,63 1,75
ALPA4 ALPARGATAS PN 9,00 8,90 9,09 9,20 9,15 1,67
RRRP3 3R PETROLEUM ON 25,37 25,00 25,48 25,79 25,79 1,54
USIM5 USIMINAS PNA 7,20 7,10 7,24 7,34 7,34 1,52
GOAU4 GERDAU MET PN 9,97 9,89 10,05 10,15 10,13 1,50
GGBR4 GERDAU PN 16,89 16,83 17,10 17,34 17,23 1,47
HAPV3 HAPVIDA ON 3,65 3,61 3,68 3,74 3,70 1,37
MRVE3 MRV ON 6,80 6,62 6,75 6,86 6,86 1,33
IGTI11 IGUATEMI S.A UNT 19,31 19,10 19,35 19,82 19,59 1,19
MGLU3 MAGAZ LUIZA ON 10,95 10,74 10,92 11,13 11,08 1,19
MULT3 MULTIPLAN ON 22,30 22,03 22,27 22,52 22,52 1,17
EMBR3 EMBRAER ON 36,84 36,55 37,14 37,50 37,21 1,11
RADL3 RAIA DROGASIL ON 24,56 24,32 24,61 24,89 24,77 1,10
ITSA4 ITAUSA PN 9,71 9,64 9,74 9,83 9,81 1,03
PCAR3 P.ACUCAR - CBD ON 2,91 2,88 2,94 2,97 2,95 1,03
EZTC3 EZTEC ON 12,90 12,68 12,86 13,02 12,99 1,01
BPAC11 BTGP BANCO UNT 31,85 31,49 31,96 32,25 32,25 0,97
UGPA3 ULTRAPAR ON 21,28 21,26 21,52 21,70 21,67 0,93
BRKM5 BRASKEM PNA 17,59 17,40 17,68 17,87 17,75 0,91
CMIG4 CEMIG PN 10,13 10,08 10,14 10,20 10,20 0,89
SUZB3 SUZANO S.A. ON 48,21 47,85 48,46 48,73 48,73 0,89
FLRY3 FLEURY ON 13,91 13,90 14,10 14,26 14,14 0,86
SLCE3 SLC AGRICOLA ON 17,51 17,29 17,61 17,74 17,67 0,86
ITUB4 ITAU UNIBANCO PN 31,74 31,60 31,99 32,29 32,13 0,78
BBAS3 BRASIL ON 26,09 26,03 26,20 26,34 26,27 0,73
BRAP4 BRADESPAR PN 17,88 17,78 17,88 18,00 18,00 0,61
DXCO3 DEXCO ON 6,66 6,51 6,67 6,78 6,70 0,60
BBDC3 BRADESCO ON 11,00 10,87 10,95 11,08 11,04 0,55
ENEV3 ENEVA ON 12,25 12,22 12,31 12,38 12,38 0,49
BBDC4 BRADESCO PN 12,40 12,18 12,33 12,46 12,44 0,48
CPFE3 CPFL ENERGIA ON 32,24 32,04 32,28 32,44 32,44 0,43
CMIN3 CSN MINERACAO ON 5,03 4,91 5,00 5,10 5,07 0,40
BBSE3 BB SEGURIDADE ON 32,40 32,33 32,58 32,72 32,57 0,37
KLBN11 KLABIN S/A UNT 20,43 20,25 20,45 20,56 20,51 0,34
EGIE3 ENGIE BRASIL ON 43,53 43,39 43,75 44,01 44,00 0,32
VALE3 VALE ON 60,51 60,37 60,71 61,08 60,85 0,31
IRBR3 IRBBRASIL RE ON 30,90 30,27 30,79 31,14 30,99 0,29
CYRE3 CYRELA REALT ON 18,75 18,53 18,79 18,95 18,85 0,27
RAIL3 RUMO S.A. ON 19,36 19,22 19,39 19,54 19,54 0,21
TAEE11 TAESA UNIT 33,30 33,10 33,24 33,43 33,36 0,21
PRIO3 PETRORIO ON 41,11 40,67 41,18 41,55 41,31 0,15
VBBR3 VIBRA ON 20,31 20,11 20,39 20,53 20,48 0,15
SANB11 SANTANDER BR UNIT 27,44 27,17 27,49 27,72 27,62 0,11
ALOS3 ALLOS ON NM 20,53 20,25 20,49 20,67 20,61 0,10
ELET6 ELETROBRAS PNB 39,27 38,70 39,07 39,39 39,32 0,08
PETR4 PETROBRAS PN 35,90 35,57 35,84 36,12 35,93 0,08
ELET3 ELETROBRAS ON 35,00 34,39 34,82 35,22 35,05 0,06
SBSP3 SABESP ON 72,11 70,08 71,27 72,12 72,12 0,01
CIEL3 CIELO ON 5,62 5,61 5,63 5,64 5,64 0,00
COGN3 COGNA ON 1,64 1,60 1,62 1,65 1,64 0,00
SOMA3 GRUPO SOMA ON 5,86 5,71 5,81 5,97 5,82 0,00
VIVT3 TELEF BRASIL ON 44,14 43,89 44,16 44,32 44,31 -0,05
TIMS3 TIM ON 15,56 15,51 15,68 15,82 15,68 -0,06
ENGI11 ENERGISA UNT 44,35 43,52 44,05 44,50 44,27 -0,18
RDOR3 REDE D OR ON 25,94 25,57 25,92 26,22 26,15 -0,19
CPLE6 COPEL PNB 9,12 8,97 9,06 9,15 9,15 -0,22
ABEV3 AMBEV S/A ON 11,18 11,04 11,13 11,23 11,20 -0,44
ARZZ3 AREZZO CO ON 50,23 48,73 49,56 50,84 49,91 -0,56
PETR3 PETROBRAS ON 37,81 37,51 37,70 38,01 37,64 -0,63
B3SA3 B3 ON 10,44 10,29 10,42 10,54 10,46 -0,68
RAIZ4 RAIZEN PN 2,81 2,75 2,78 2,81 2,80 -0,71
CRFB3 CARREFOUR BR ON 9,06 8,81 8,94 9,13 9,03 -0,88
EQTL3 EQUATORIAL ON 29,05 28,75 28,89 29,19 28,95 -0,92
TOTS3 TOTVS ON 29,85 28,99 29,41 29,86 29,43 -1,04
CVCB3 CVC BRASIL ON 1,91 1,86 1,89 1,92 1,89 -1,05
ASAI3 ASSAI ON 11,06 10,77 10,94 11,11 11,05 -1,07
CSNA3 SID NACIONAL ON 12,85 12,43 12,64 12,96 12,75 -1,85
AZUL4 AZUL PN 8,47 8,06 8,17 8,52 8,06 -4,62
Triste — Foto: Getty Images
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