Violência de Gênero
Por , redação Marie Claire — de São Paulo (SP)

[Alerta: este texto contém descrições de casos de abuso sexual e pode ser sensível e gerar gatilhos em algumas pessoas]

Stephanie Bergmann estava conversando por mensagens com seu pai quando suas piores memórias voltaram de forma instantânea. Naquele momento, a terapeuta integrativa lembrou dos cinco abusos sexuais que sofreu por diferentes homens ao longo de sua vida. "É como se tivessem feito um filme com todas as minhas cenas de abuso", relata em entrevista exclusiva a Marie Claire.

A paulista de 33 anos conta que percebia alguns sinais e tinha gatilhos com o toque em certas partes do seu corpo, mas não associava com um possível abuso sexual sofrido anteriormente. "Eram toques sutis e leves, alguns carinhos que não eram violentos, mas me travavam."

Certo dia, conversando com seu pai virtualmente, ela recebeu uma mensagem dele a respeito de um conflito que tiveram que fez com que as lembranças viessem à tona. "Aquele texto foi um gatilho que gerou essa pressão e o negócio explodiu. Parece que vieram todas as memórias, tipo uma bomba, e aí veio uma dor física. Senti algo profundo no peito, parecia que tinham enfiado uma faca e rasgado. Então, comecei a chorar e gritar sem parar por mais de uma hora."

Bergmann conta que foi vítima de cinco abusos ao longo da sua vida. Na primeira vez, quando tinha apenas quatro anos, estava brincando pela janela com seu vizinho, quando o mesmo apareceu pelado, mostrando o pênis ereto para ela. Ao contar para a sua mãe, foi castigada e proibida de sair de casa para brincar. Na segunda vez, quando tinha por volta de 13 anos, foi ao mercado fazer compras para a sua mãe, quando foi viu um homem se masturbando dentro de uma kombi. Ela tentou seguir o seu caminho, mas ele a chamou e tentou puxá-la pelo braço, sem sucesso. Mais uma vez, foi punida ao contar para sua mãe o ocorrido, ficando impedida de sair sozinha.

Em outro momento, na adolescência, teve um relacionamento com um rapaz alguns anos mais velho que impôs que só aceitaria namorá-la caso eles transassem. "Ele subiu no meu corpo e começou a se forçar sobre mim. Eu estava muito tensa, porque era a minha primeira vez. Como eu estava enrijecida de pânico, ele desistiu . Mas ele forçou muito, mesmo eu falando que não. Depois, fiquei dolorida e cortamos o vínculo."

Já na universidade, Bergmann foi fazer um trabalho na casa de um colega mas se surpreendeu por estarem apenas os dois lá, sem mais nenhum outro integrante da turma. A jovem diz que chegou a rolar um clima, mas logo em seguida ele tentou a levar para o quarto e ela negou veementemente. Mesmo assim, o rapaz a conduziu e a colocou na cama. "Ele era muito maior que eu, nunca ia conseguir sair debaixo dele, e fiquei gritando 'não'". A terapeuta explica que, depois desse momento, dissociou. Em situações desse tipo, ela relata se fazer imóvel e levar sua mente para outro lugar.

A última vez foi com um parceiro com quem ela já se relacionava há um tempo. Eles, inclusive, moravam juntos. Na época, os dois discutiram e ela saiu de onde estavam para chorar no quarto. Cerca de meia hora depois, ele apareceu falando que ela havia exagerado na reação e tentou forçar relações sexuais. Stephanie conta que não conseguiu falar nada e apenas se deixou imóvel até que o ato acabasse.

"Essas pessoas, as situações, elas nunca mais passaram pela minha cabeça e nunca foi algo que levei para a terapia", revela. "Não era uma coisa que me lembrava, simplesmente apaguei. Então, para mim, isso nunca tinha existido, e não entendi que era abuso também."

Como funciona dissociação cognitiva após abuso sexual?

A psicóloga Najma Alencar explica como esses processos de amnésia após abusos sexuais funcionam. "O bloqueio da memória nesses casos é uma forma de defesa do cérebro. Então, quando alguém enfrenta uma situação extremamente traumática, como um abuso sexual, o cérebro pode 'desconectar' essas memórias para proteger a pessoa do sofrimento emocional que é muito intenso. Esse processo é chamado de dissociação cognitiva e ocorre porque a mente tenta lidar com a dor e o choque ao reprimir lembranças dolorosas e faz com que a pessoa continue a viver apesar do trauma."

Em relação ao retorno dessas lembranças, ela entende que podem ser despertadas por diversos tipos de gatilhos. "Pode ser algo tão simples quanto um cheiro, uma música, uma palavra, um toque, ou qualquer outra situação que lembre o abuso. Esses gatilhos podem trazer flashbacks e ativar as lembranças do trauma. Situações semelhantes ao trauma original também podem ser um gatilho. Situações de estresse e pressão intensa, assim como algo simples, como pesadelos, podem ser também. E esses gatilhos variam de pessoa para pessoa e podem ocorrer de forma inesperada, causando uma grande angústia e dor", conta.

Bergmann também conta como essa experiência a afetou de forma inconsciente. "Quantos outros abusos, além dos sexuais, eu vim a sofrer, me fingindo de 'morta'? Abusos verbais, psicológicos, financeiros, relações abusivas às vezes até nas minhas amizades, no trabalho, na família. Eu também dissociava e não reagia nesses casos, sempre cedendo. Não consigo falar não", confessa.

Alencar conta como se dá o processo de lidar com as memórias dos abusos ao recuperá-las após um período de tempo. "Lidar com a lembrança repentina de um abuso pode ser extremamente desafiador. É importante, primeiramente, reconhecer que esses sentimentos são válidos e buscar um ambiente seguro e acolhedor. Procurar apoio emocional de pessoas de confiança e de um profissional especialista na saúde mental para falar sobre as memórias pode facilitar passar pelo processo.", aconselha.

Casos de abuso sexual no Brasil

Bergmann não é a única mulher que passou por essa situação. Por mais que não haja dados sobre a quantidade de vítimas que são afetadas pela dissociação cognitiva após os episódios de abuso, a psicóloga conta que atende muitas pacientes que enfrentaram o mesmo problema.

Vale destacar que uma pesquisa divulgada pelo relatório Violência contra meninas e mulheres no 1º semestre de 2023, feita pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, revelou que 34 mil meninas e mulheres denunciaram terem sido vítimas de estupro no primeiro semestre do ano, o equivalente a um estupro a cada oito minutos.

No entanto, a realidade é de que podem existir muitos outros casos. Em 2019, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) concluiu que apenas 8,5% dos estupros que ocorrem no país são registrados na polícia, de forma que há uma alta subnotificação.

Bergmann mesmo não chegou a denunciar nenhum dos casos, por medo da repercussão. Mas conseguiu uma medida restritiva por meio da Lei Maria da Penha contra o último rapaz que teria abusado dela.

Caso você tenha sido vítima de abuso ou violência sexual, ou conhece alguém que tenha sofrido algo assim, denuncie. As denúncias podem ser feitas de forma anônima na delegacia, ou na Central de Atendimento à Mulher, no número 180.

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