Sexo

Por Por Gwendoline Beauchet, de Marie Claire França, Com Tradução de Camila Cetrone, de Marie Claire Brasil


Como é o mercado de quem vende fotos de pés na internet e qual é o perfil dos fetichistas que as compram? — Foto: Reprodução/Pexels
Como é o mercado de quem vende fotos de pés na internet e qual é o perfil dos fetichistas que as compram? — Foto: Reprodução/Pexels

20 mil euros – ou R$ 108.487, na conversão atual. Esse é o valor que a influenciadora Polska afirma ter recebido após vender uma foto de seus pés no Unlockt – uma plataforma segura para vender fotos online –, conforme compartilhou em seu X (antigo Twitter) em 5 de dezembro de 2023.

Se nos comentários do post muitas pessoas têm dúvidas, também há muitos que compartilham o link de sua plataforma pessoal, ou que se perguntam sobre a maneira certa de começar no negócio dos pés.

Com o surgimento de mídias como OnlyFans, a francesa Mym ou a brasileira Privacy – em que assinantes pagam para ver conteúdo erótico e/ou sexual dos usuários –, as fotos de pés agora têm uma popularidade pública. Isso é evidenciado no TikTok, onde é impossível ignorar as centenas de vídeos promovendo os benefícios de monetizar essas imagens.

Carolina (@carolinastaa, no Instagram), que é belga e tem 25 anos, não esconde isso. "Em menos de um mês, eu praticamente ganhei o equivalente a um salário mínimo", conta à reportagem.

Embora exista hoje um verdadeiro negócio em torno dos pés, a podolatria não é algo novo. De acordo com Alain Héril, sexoterapeuta e escritor, ela seria até mesmo a forma de fetiche mais difundida no mundo. Segundo o especialista, essa fascinação pelos pés remonta a milhares de anos antes de Cristo.

Mas quem são as pessoas que sentem prazer fantasiando sobre os pés?

O que é podolatria?

O fetiche é quando se concentra a atenção em uma parte do corpo ou um objeto, indo de mechas de cabelo às calcinhas. "Focamos nossa atenção em uma coisa parcial para ter a sensação de estar na totalidade. É um princípio de redução", completa Héril.

A podolatria é uma parafilia – ou seja, um "interesse sexual incomum", segundo a definição de John Money, o psicólogo norte-americano que popularizou o termo nos anos 1990, como lembra o jornal suíço Le Temps– que dá ao fetichista a sensação de possuir a pessoa a quem o pé desejado está associado (o que poderia explicar o preço exorbitante pelo qual a foto de Polska foi vendida).

Esse é um fato confirmado por Carolina, que está na linha de frente desse negócio. "As pessoas gostam de pagar pelos pés, mas também pela pessoa e pela imagem que ela transmite", explica ela, que não esconde sua identidade nas plataformas onde promove sua atividade secundária.

E é verdade que, embora nas redes sociais haja inúmeras contas anônimas fazendo publicidade, poucas realmente atraem muita atenção. Isso porque a maioria não está vinculada a uma pessoa identificada.

O pé como representação do pênis

Mas o podólatra nem sempre aprecia "apenas" os pés. Ele também pode ser atraído por meias, sapatos e collants. Limpos ou sujos. "Há muitas variações: pessoas que gostam de pés limpos, outras que gostam de pés que andaram na lama ou em excrementos...", informa Alain Héril.

Em sua conta no TikTok, @lollypartonn explica como vende suas meias gastas e sujas no site Vinted. Nos comentários, encontramos quase que apenas pessoas divulgando seus "guarda-roupas", prova de que um mercado clandestino de meias sujas realmente existe.

Antes mesmo do Vinted, alguns sites se especializaram na venda de roupas íntimas sujas (Kiffeur), e outras plataformas de venda online já tinham sua parcela de anúncios para fetichistas (como eBay e Etsy).

Mas de onde vem essa atração? Segundo o sexólogo, na maioria das vezes são "impulsos inconscientes e irracionais" que o fetichista não consegue explicar. No entanto, Freud via uma mensagem clara nisso. "O que a psicanálise diz é que o pé é uma representação simbólica do pênis e aquilo em que ele entra – o sapato, a meia – é a representação da vagina", continua o especialista.

Qual a relação entre fetiche por pés e submissão?

Existe também uma ligação comprovada entre a fetichização do pé e o desejo de submissão. "Muitos homens gostam de ser dominados pelos pés, gostam que pisem neles, especialmente nos testículos", concorda Héril.

Já em 1998, o pesquisador James Giannini argumentou, por meio de um estudo publicado no Sage Journals, que "a emancipação feminina também teria um impacto nos desejos por pés, reflexo de uma postura em que a mulher é dominante", conforme citado pelo HuffPost.

E é verdade que apenas com a representação da podolatria na cultura popular, uma conexão é rapidamente estabelecida. Basta lembrar da traição revelada de Rex Van de Kamp, marido de Bree na série Desperate Housewives, com sua vizinha que gostava de pisar nele usando saltos agulha, várias tardes por semana.

Mas e na vida real? "Sim, me pediram para dominar, insultar... Me oferecem dinheiro extra para que eu atenda a esses pedidos, o que eu não faço", diz Carolina.

"O pisoteio pode ser uma maneira de como os fetichismos por pés também podem coincidir com as preferências de um parceiro em relação à humilhação, dominação física ou outras formas de BDSM", explica a dominatrix Justine Cross para a Vice.

Alain Héril acrescenta que essa necessidade também pode vir de homens que enfrentam "problemas em sua virilidade". "Eles podem ser impotentes e compensar isso por meio da fetichização do pé", explica.

Vender fotos de pés é um negócio lucrativo

"Eu sei que as meninas que vendem e são dominadoras ganham muito dinheiro. Ouvi dizer que uma delas ganhou 30 mil euros [R$ 162.903,48] com um 'submisso' em duas semanas, sem ter nenhum relacionamento sexual com ele", conta Carolina.

Embora a jovem tenha começado sua atividade secundária há apenas algumas semanas, ela já tem uma visão geral do setor. "No início, era realmente apenas pela diversão. Eu fiz um tweet com um preço de teste. Em 10 minutos, já tinha feito duas vendas. Ao postar as capturas de tela, eu fiquei em destaque e alcancei mais de 3 milhões de impressões em um dia. As vendas dispararam. Em 24 horas, vendi 18 fotos e arrecadei mais de 260 euros [R$ 1.411,83]."

Para se proteger de "demandas bastante específicas" mencionadas anteriormente, Carolina é muito "rígida". Ela usa um aplicativo em que a pessoa não opta em como quer ver a foto e deve pagar 15 euros [R$ 81,45] para desbloquear a foto que ela tirou. Ela diz já ter "clientes frequentes" com perfis variados.

No entanto, Carolina permanece muito desconectada da situação. "São apenas fotos de pés. Penso que se a pessoa não gastasse dinheiro comigo, ela gastaria com outra pessoa. Mas não quero fazer isso pelo resto da minha vida", pondera.

Outra maneira de aproveitar

Carolina relata ter apenas clientes homens, o que não surpreende Alain Héril, que confirma que a podolatria é "principalmente" masculina.

No entanto, mesmo que a preferência seja difundida e os grupos do Facebook e Instagram de entusiastas tenham milhões de membros – no Instagram, a conta @feet___girls_ literalmente conta com um milhão de seguidores –, eles se mantêm discretos. Apesar das muitas tentativas, foi impossível para mim encontrar alguém que pudesse falar mais sobre essa paixão, mesmo sob anonimato.

No entanto, algumas mulheres também apreciam incluir os pés em suas práticas sexuais. Algumas falam abertamente sobre isso. É o caso de Jamila, de 28 anos.

"Os pés dos outros não me atraem, mas gosto que cuidem dos meus pés, especialmente durante as relações sexuais", esclarece desde o início. Porque, ao contrário do que se poderia pensar, a ligação entre pés e sexualidade é diferente para cada pessoa.

"Algumas pessoas incorporam os pés em sua vida sexual, enquanto outras podem achar os pés sexy, mas não necessariamente desejam usá-los diretamente para estimulação sexual", confirma a dominatrix Justine Cross para a Vice.

"O que eu gosto na sexualidade é que é fluida. A primeira vez que falei sobre isso foi com algumas amigas e eu achava estranho. E quanto mais o tempo passou, mais percebi que isso não era necessariamente degradante", conta Jamila.

Ela relata que suas primeiras experiências com carícias nos pés e outras massagens aconteceram "naturalmente". "É uma prática que eu realmente gostei e peço aos meus parceiros para não negligenciarem essa parte do meu corpo", continua.

Conteúdo fetichista pago é realmente dinheiro fácil?

Quando perguntada se já pensou em unir o útil ao agradável e começar a vender conteúdo de pés, Jamila responde que sim.

"Financeiramente parece muito interessante, mas tenho medo que me reconheçam por causa de características distintas. Também pensei em vender meias usadas, mas nunca tive tempo para pesquisar bem sobre isso. Acho que as informações não são realmente acessíveis. E isso pode ser considerado trabalho sexual. Não sei se ficaria confortável com isso."

Para Carolina, a forma como ela gerencia seu conteúdo faz com que ela não caia na categoria de trabalho sexual, pois ela não oferece fotos de teor sexual. "Eu sei que muitas pessoas veem isso de forma negativa, porque estamos monetizando nosso corpo e as pessoas rapidamente fazem a conexão com o OnlyFans. Mas para mim são apenas pés, como os que você veria na praia", pontua.

Da mesma forma, ela destaca que, no meio, o dinheiro não é ganho facilmente. "Se você não for um pouco conhecida, não há interesse por parte do comprador. E as tarifas não são facilmente ajustáveis", revela.

Segundo Rachel-Flore Pardo, advogada e co-fundadora da associação Stop Fisha, entrevistada pela France Info: "Não há nada de perigoso, não há nada de ilegal, especialmente se você consentir em vender". Mas é preciso estar ciente das pegadas que esses conteúdos podem deixar. "Hoje em dia, temos muita dificuldade em proteger os conteúdos que divulgamos online. Uma vez que são divulgados, você não está seguro de que não serão desviados."

Podolatria é uma preferência sexual silenciada, pois é vista como desviante

Ao ver todo o conteúdo relacionado nas redes sociais e ao ler os diversos depoimentos, poderíamos pensar que, se a podolatria é o fetiche mais difundido, também é o mais assumido.

No entanto, nem sempre é o caso. Pauline*, 34 anos, conta ter tido um encontro com um jovem muito interessado em pés, sem que ele verbalizasse isso.

"Durante o ato, ele gastava muito tempo com eles. E quando viu o tamanho dos meus sapatos 36, ele estava tão fascinado por eles que eu entendi [que era podólatra]", lembra.

Para Alain Héril, essa atração, por vezes, sequer é conscientizada, já que ela tem uma conotação "suja". "A representação da podolatria não faz parte da pornografia, e é por isso que temos muitas contas 'clandestinas' que a representam. No entanto, isso não é um comportamento desviante", assegura.

Contudo, se originalmente a podolatria não é um problema, ela pode se tornar um quando a obsessão é muito grande. "Se houver um fundo depressivo ou se a pessoa sofre com essa preferência", é necessário procurar ajuda, recomenda o especialista. Caso contrário, sinta-se à vontade para mergulhar de cabeça em uma sexualidade realizada.

*O nome foi alterado.

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