Saúde
Por , Em Colaboração com Marie Claire — são Paulo

A técnica de enfermagem Michele Corrêa, de 24 anos, tinha 19 quando passou por um episódio de homofobia em uma consulta ginecológica. A experiência foi tão traumática que ela nunca mais visitou um médico dessa especialidade.

Corrêa começou a se consultar com ginecologistas na adolescência, após episódios de irregularidade menstrual. Nessas situações, não passou por nenhum constrangimento. “Eu era virgem e os exames [para coletar secreção vaginal] eram feitos com cotonetes”, recorda.

Assim que teve a primeira relação sexual, a técnica de enfermagem procurou a médica de um hospital federal na cidade onde mora, o Rio de Janeiro. Corrêa não tinha queixas, mas esperava fazer um exame preventivo, conhecer melhor sua saúde íntima e aprender como se cuidar.

“Eu expliquei que estava em um relacionamento homoafetivo e nunca tinha transado com homens. Foi a primeira vez que eu me abri com um médico sobre a minha orientação sexual”, afirma.

Perguntas que incomodaram

A partir daí, começaram as questões constrangedoras. “Ela perguntou: ‘como você perdeu a virgindade, foi realmente com o dedo ou usou algum brinquedo? Por que você nunca testou fazer isso com homem?’ Você é tão bonita. Por que fica namorando mulher?’”, relembra

A técnica de enfermagem incomodou-se também com questionamentos relacionados ao uso de preservativo e histórico de aborto. “Se você fala que nunca transou com homem, acho que essas perguntas são desnecessárias”, diz.

Corrêa precisaria se consultar novamente com um ginecologista, pois já recebeu diagnóstico de síndrome dos ovários policísticos e, além disso, tem cólicas menstruais. No entanto, só de pensar em marcar uma consulta, ela diz começar a suar frio.

Corrêa tem cólicas menstruais, mas não se consulta com um ginecologista por medo de repetir a experiência negativa — Foto: Arquivo pessoal
Corrêa tem cólicas menstruais, mas não se consulta com um ginecologista por medo de repetir a experiência negativa — Foto: Arquivo pessoal

“Eu era uma menina e foi uma das minhas piores experiências da vida. A médica foi homofóbica e antiética. Hoje tenho pavor de ir ao ginecologista, por achar que todo mundo vai ser como ela”, desabafa.

Ginecologistas voltados para o público LGBTQIA+

Diante de queixas como essa, nos últimos anos surgiram ginecologistas especializados no público LGBTQIA+. Não se trata de uma especialidade propriamente dita, mas de médicos que se preparam por conta própria para atender as demandas desses indivíduos.

Em São Paulo, uma delas é a ginecologista Ana Thais Vargas. Formada em 2005, a médica disse que, tanto na graduação na Universidade Federal da Paraíba, quanto na residência no Imip, em Recife, aprendeu somente conteúdos relacionados ao público heterossexual cisgênero. A única exceção foi um material sobre infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) em homens e mulheres homossexuais.

Quando se mudou para a capital paulista, Vargas tornou-se voluntária da Casa 1, ONG que atende jovens expulsos de casa por suas orientações afetivas sexuais e identidade de gênero. “Eu entendi que a ginecologia é fundamental na população LGBT, porque não tem só homem gay. Tem um monte de gente com vagina”, diz.

O caminho foi semelhante ao da ginecologista Carolina Rebello da Costa, que fez graduação, residência e especialização em reprodução assistida da Faculdade de Medicina na USP. Ela concluiu os estudos em 2018 e percebeu que não sabia nada sobre o público LGBTQIA+ ao atender um homem trans.

De maneira autodidata, Costa buscou informações e começou a se dedicar a essa camada da população. “As pacientes se queixam de que os ginecologistas presumem que elas são heterossexuais. Quando descobrem que elas não são, alguns médicos questionam a presença delas no consultório, como se não precisassem fazer exames preventivos”, conta.

Como é uma consulta com um médico especializado no público LGBTQIA+?

Vargas descobriu que alguns exames, como o Papanicolau, não são solicitados para as lésbicas, porque os médicos as consideram, erroneamente, virgens. Pelo mesmo motivo, as bissexuais não recebem orientações específicas para esse cenário.

O universo LGBTQIA+ embarca também homens transexuais com vagina e útero e mulheres transexuais que fizeram cirurgia de redesignação sexual e adquiriram seios. As últimas, por exemplo, precisam fazer rastreamento de câncer de mama.

Vargas diz que, no início de suas consultas, pergunta se a paciente está em um relacionamento, qual é o nome da parceria e se ela se relaciona com outros indivíduos. “Isso me dá uma noção do que eu preciso guiar para essa pessoa. Precisa de anticoncepção? Preciso falar de IST?”, afirma.

Ela acredita que, ao não fazer essas perguntas no consultório, o médico está fazendo um trabalho incompleto. “Eu tenho conhecimento. Sou eu que tenho que passá-lo para a frente. A categoria médica como um todo, não somente os ginecologistas, está muito atrasada”, diz.

Os próprios médicos se incomodam com a abordagem. Costa conta que, por dois anos, foi professora de ginecologia no Hospital Universitário da USP: “Os alunos tinham vergonha de fazer essas perguntas”.

Uma parte da consulta que pode ser incômoda para quem não tem o hábito de penetração é a introdução do espéculo — aquela ferramenta em formato de bico de pato — na vagina. O procedimento é necessário para o profissional de saúde visualizar lesões suspeitas no colo do útero da paciente.

Nesses casos, pode ser utilizado um espéculo menor do que o habitual. Da mesma forma, um ultrassom pélvico pode substituir um transvaginal. ‘Existem opções e a paciente pode optar ou não pelo que traz mais conforto”, diz Vargas.

Vargas aponta que outra dificuldade para o sexo entre duas vaginas é que não há proteção, assim como o preservativo: “Até existe dedeira e luva de látex, mas na prática as pessoas não usam”.

Se as mulheres como um todo são subrepresentadas nas pesquisas científicas, o cenário piora entre aquelas da fatia LGBTQIA+. “Não existem dados confiáveis sobre a transmissão de ISTs no contato vagina com vagina, porque ninguém pergunta nos trabalhos com quem a pessoa se relaciona”, diz Vargas.

Algumas evidências apontam que mulheres bissexuais e lésbicas são diagnosticadas com câncer de mama e lesões causadas pelo vírus do HPV em estágios mais avançados do que as heterossexuais.

“Eu sei que, no convênio ou no SUS, a paciente muitas vezes não consegue escolher o profissional que vai atendê-la. Mas eu sugiro que tente, que converse com outras pessoas e não deixe de se consultar”, aponta Costa.

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