A endometriose e o endometrioma são duas condições ginecológicas interligadas que afetam uma parcela significativa das mulheres em idade reprodutiva. Embora ambas estejam relacionadas com o tecido endometrial, seus impactos e manifestações clínicas podem variar.
O que é endometriose?
A endometriose é uma doença ginecológica crônica benigna. Ela se manifesta quando o tecido que reveste a cavidade do útero, o endométrio, se implanta fora do órgão. Estima-se que a condição afeta de 10 a 15% das mulheres em idade reprodutiva.
A explicação mais aceita é a da menstruação retrógrada. Por uma falha do sistema imunológico, uma parte do sangue da menstruação sai pelo canal de refluxo da tuba uterina e viaja até a cavidade pélvica. As células do endométrio vão junto com o líquido e se implantam em diversas partes do corpo, especialmente na cavidade abdominal, como ovários, intestino e bexiga.
O organismo da maioria das mulheres tem um mecanismo de absorção dessas células em locais impróprios. Porém, naquelas om endometriose, a faxina falha, por algum motivo que a ciência ainda não decifrou.
O sintoma mais conhecido da endometriose é a cólica menstrual. A dor pélvica também pode se manifestar também fora do período de sangramento. Mulheres relatam ainda desconforto na relação sexual, dor para evacuar e urinar durante a menstruação, e dificuldade para engravidar.
“A gente recebe pacientes de 25 anos que têm dor desde a primeira menstruação. Como nenhum médico deu valor para a queixa, ela se acostumou com o desconforto e foi levando”, conta a ginecologista e obstetra Carla Maruxo Youssef, do Hospital São Camilo Santana. “Hoje, felizmente, as mulheres têm mais voz. A paciente com endometriose precisa de acolhimento.”
O que é endometrioma?
O endometrioma, por sua vez, está ligado à endometriose. A doença se manifesta quando o tecido endometrial se implanta dentro de um ou dos dois ovários, formando bolsas de sangue chamadas de “cistos de chocolate”, por causa da cor amarronzada.
Existem duas formas de endometrioma: o verdadeiro, que ocorre quando o tecido endometrial invade o corpo lúteo (a cavidade deixada pelo óvulo após a ovulação) e contamina o interior do ovário, e o falso, que se forma na superfície do ovário, levando o órgão a se dobrar sobre si mesmo e criar um cisto.
Segundo o ginecologista Ricardo Quintairos, presidente da Comissão Nacional de Endometriose da Febrasgo e diretor da Sociedade Brasileira de Endometriose e de Cirurgia Minimamente Invasiva, a endometriose pode evoluir para um endometrioma, a partir de uma ovulação: “Dificilmente uma mulher tem só endometrioma. A regra é ter a doença múltipla. Por isso se discute se o endometrioma é uma fase evolutiva da endometriose ou uma doença em separado”.
A porcentagem de pessoas afetadas pelo endometrioma é desconhecida pela ciência, de acordo com o médico. Assim como na endometriose, os sintomas estão vinculados à dor. O quadro pode vir acompanhado de infertilidade e distúrbios hormonais menstruais.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico tanto da endometriose quanto do endometrioma é geralmente realizado por meio de exames de imagem, sendo o ultrassom transvaginal com preparo intestinal a primeira opção, seguido pela ressonância magnética.
O tratamento da endometriose pode ser clínico ou cirúrgico, dependendo da gravidade dos sintomas e da resposta à terapia medicamentosa. Hormônios são frequentemente usados para suprimir a menstruação e, assim, impedir a progressão da doença.
O bloqueio da menstruação também é indicado para pacientes com endometrioma. No entanto, o quadro é mais complexo e frequentemente operatório. Cistos maiores que 4 a 6 centímetros geralmente necessitam de intervenção cirúrgica.
“O endometrioma é uma das doenças mais difíceis de tratar. A gente lida com mulheres jovens, com desejo reprodutivo, e precisa pisar em ovos. Os óvulos são células sensíveis e, mesmo se a operação for bem feita, o risco de recidiva é de 50%. É uma doença ingrata”, explica Quintairos.
A cirurgia deve ser realizada de forma criteriosa para evitar danos ao tecido ovariano saudável, o que poderia levar à infertilidade ou à menopausa precoce. Além disso, mulheres com endometrioma frequentemente são aconselhadas a considerar a fertilização in vitro (FIV) como uma opção para conceber, já que a presença do cisto pode complicar a fertilidade natural.
Ambas as condições podem ter um impacto significativo na qualidade de vida das mulheres, não só pelos sintomas dolorosos e pela potencial infertilidade, mas também pelas complicações associadas ao tratamento. A endometriose, por sua natureza inflamatória, pode distorcer a anatomia pélvica, enquanto o endometrioma, ao crescer, pode danificar os ovários.
“O endometrioma precisa ser avaliado de uma maneira responsável e rigorosa, com critérios. Não se pode mutilar uma mulher com endometrioma arrancando o ovário dela aos 20 anos de idade. Também não se pode negligenciá-la, deixando ela menstruar espontaneamente, porque ela vai impactar sua fertilidade”, diz Quintairos.