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Por Juliana Picanço, redação Marie Claire — São Paulo


Elizângela Cristina Freitas dos Santos durante o tratamento contra o câncer de colo de útero — Foto: Acervo Pessoal
Elizângela Cristina Freitas dos Santos durante o tratamento contra o câncer de colo de útero — Foto: Acervo Pessoal

Em dezembro de 2020, a vida de Elizângela Cristina, 38 anos, tomou rumos muito diferentes do que os que ela imaginava. No auge da sua vida profissional, começando em um novo emprego, a auxiliar de dentista foi diagnosticada com um câncer de colo de útero. A mudança drástica depois do diagnóstico, a começar pelos estigmas relacionados à doença e os impactos do tratamento, são assustadores para qualquer um. Mas, em uma sociedade em que a mulher ainda exerce o papel de principal cuidadora da família, o que acontece quando é ela quem precisa de cuidado?

“Eu e meu ex-companheiro estávamos juntos havia 22 anos. Não casados, mas morando juntos. Tivemos cinco filhos”, conta Elisangela. “A separação foi muito dolorosa. Fui fazer uma cirurgia de remoção de todo o útero, incluindo o colo, e o médico viu que não tinha mais o que fazer no meu caso. Tinha dado metástase no peritônio, no endométrio etc. Eu saí de dentro do hospital com diagnóstico que não ia ter mais cura”, relembra a auxiliar de dentista.

A princípio, o marido prometeu que estaria ao seu lado. Não foi o que aconteceu. “Eu tive depressão devido ao tratamento e emagreci mais de 30 quilos. Ele falava: ‘Nossa, você está tão magra, você está tão esquisita’. Ele sempre me botava para baixo e isso me fazia sentir muito mal, porque eu queria que ele me colocasse para cima. Ele não chegava perto de mim. Eu pedia ele um abraço e ele não dava, eu pedia ele um beijo e ele não dava, parecia até que era uma doença contagiosa”, conta.

De acordo com um estudo realizado pelas universidades de Stanford e Utah e pelo Centro de Pesquisa Seattle Cancer Care Alliance, as mulheres têm risco seis vezes maior de serem abandonadas pelo marido após a descoberta de uma doença grave. Já de acordo com especialistas da Sociedade Brasileira de Mastologia, 70% das pacientes diagnosticadas com câncer lidam com a rejeição e o abandono de seu parceiro durante o tratamento.

Uma pesquisa realizada em 2015 no Hospital de Câncer de Barretos (SP), também mostrou que 40% das mulheres que faziam quimioterapia ou radioterapia relataram terem sido rejeitadas.

Elizângela conta que a falta de apoio e afeto do marido fez com que o tratamento fosse ainda mais difícil. A auxiliar de dentista chegou a pesar 42 quilos.

“Ele disse aos meus pais que iria ajudar, faria o que não fez em 22 anos comigo e seria o melhor marido. Só que não foi assim. Todo final de semana ele saía, passava dois ou três dias fora de casa, chegava com camisinha, tomava pílulas para poder ter relação com outras mulheres. Eu chorava, porque eu não queria me separar, queria que ele mudasse. Mas ele não me queria mais na vida dele, então me largou”, conta.

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“As mulheres, ao longo da história, foram mais incentivadas e cobradas pelo papel de cuidadoras do que os homens”, explica a psicóloga paliativista e membro da equipe de gestão da Casa do Cuidar Flávia Vieira. “Em contrapartida, os homens apresentam mais dificuldade de adaptação à realidade de cuidador e à missão de ser o apoio emocional da família, pois são tarefas que vão de encontro com suas aspirações individuais."

Mudanças no relacionamento

O fim do casamento de oito anos de Preta Gil e Rodrigo Godoy chamou a atenção para o tema nas redes sociais. A artista descobriu a traição do marido enquanto estava internada para tratamento de câncer.

"No mais, as verdades estão vindo à tona, o que, para mim, é muito doloroso e cruel. Eu peço que vocês também me ajudem a me proteger de toda essa nojeira, pois estou frágil, no meio de um tratamento oncológico, depois de quase morrer numa sepsemia. Eu preciso de paz para poder me curar", desabafou a cantora nas redes sociais.

A psicóloga Flávia Vieira explica que o diagnóstico do câncer abala não só o paciente, mas também toda a família dele, comprometendo a realidade, os planos para o futuro e impondo desafios que não são esperados em um relacionamento.

“São diversos lutos simbólicos que chegam com o câncer e trazem dor e sofrimento. As viagens, a carreira, a compra da casa, os filhos, a vida social, o lazer, tudo o que pertencia ao desejo de ambos antes da doença precisará ser repensado. É o luto pelo que talvez não poderá ser vivido da forma que sonharam”, explica a profissional, que reforça que a dinâmica do relacionamento é afetada em várias dimensões, inclusive na sexual.

“A sexualidade do casal passa por desafios importantes devido aos tratamentos invasivos que alteram a autoimagem, a libido e, consequentemente, a intimidade. A rotina de ambos também muda. São visitas frequentes a clínicas e hospitais, medicações ao longo do dia, alteração nos cuidados com a casa e os filhos. As finanças também sofrem impacto, pois custear tratamento oncológico no Brasil pode levar a dificuldades”, acrescenta.

A preocupação com a saúde antes de questões como a sexualidade e a vaidade foi muito marcante durante a separação de Elizângela. Se o casal enfrentava conflitos na relação antes da doença, o diagnóstico positivo fez com que as brigas fossem potencializadas.

“Ter um câncer não é fácil. Ele mexe com todas as nossas emoções, principalmente quando somos mães. A gente pensa nos filhos, no que vai acontecer, se vai morrer, com quem vai deixar. O sexo não é mais prioridade, estamos lutando para sobreviver. Só que alguns homens que não têm paciência de esperar, de acolher. O que mais me deixou doente não foi nem o câncer, mas a rejeição dele após 22 anos."

A importância do amor-próprio e do autocuidado

Mesmo lidando com um câncer agressivo e deprimida após ser abandonada pelo companheiro, Elizângela, que segue lutando contra a doença, conta que foi ao longo dessa trajetória que descobriu a importância do amor-próprio.

“Hoje eu consigo dizer para as mulheres que estão passando pela mesma coisa que eu que, se o relacionamento está tendo muita discussão, é melhor ficar sozinha. Pelo menos no período de tratamento. Eu acho que se eu tivesse tido menos briga, menos estresse, menos mágoa, talvez a situação fosse outra, e o meu corpo tivesse respondido bem ao tratamento. A gente não precisa de ninguém para nos amar. Nós é que temos que nos olhar no espelho e falar: ‘Tô magra, mas tô bonita. Tô inchada, mas tô bonita. Eu vou lutar’. E lutar pela gente, pelos nossos filhos, pela nossa família, pelas pessoas que nos amam e principalmente pela gente. Porque só a gente sabe o quanto dói ter um diagnóstico de câncer”, relata.

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A psicóloga Flávia Vieira também ressalta que apesar do número de divórcios e abandonos por parte dos homens ser alta, não é o único cenário existente. “Acompanho também mulheres que têm em seu relacionamento uma base sólida de afeto, segurança e proteção. Homens que se desafiam no papel de cuidadores e que prezam pela relação, para além da rotina sexual favorável. São grandes suportes, inclusive para os bons resultados do tratamento oncológico. Pode até ser romântico o que vou dizer, mas é uma realidade objetiva: o amor é dos remédios mais potentes, seja qual for a doença.”

“Nós, mulheres com câncer, somos as mesmas mulheres sem câncer. A única diferença é que a gente está com uma celulazinha doente. A gente precisa de carinho, de atenção, de amor, porque isso faz bem para o nosso tratamento”, reforça Elizângela. A auxiliar de dentista revelou que está em busca de uma imunoterapia para conseguir o tratamento, mas que não consegue hospitais que prestem o serviço.

“A gente precisa também que os governantes possam olhar a causa do câncer com outros olhos. Morrem milhares de pessoas todos os dias porque não consegue um tratamento, não conseguem fazer um exame. Eu tô tentando uma imunoterapia para tentar salvar minha vida e lá no hospital onde eu faço tratamento não tem. Eu quero muito viver mais um pouquinho, porque minha filha tem 10 anos. Eu queria ver ela ficar mocinha. As coisas estão difíceis, mas sei que vão melhorar”, finaliza.

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