Retratos

Por Débora Miranda

15 de julho de 2022. 23h14.
“Vamos já indo? Não tô com sono.”
Foi a mensagem que mandei no grupo de zap para meus amigos do krav maga.

Para quem não sabe, o krav maga é uma arte de defesa pessoal, que teve sua origem em Israel. Não é uma arte marcial, não tem regras, é baseado em situações reais de conflito, e o objetivo é que qualquer pessoa, mesmo em desvantagem de tamanho e força, consiga se defender de uma agressão.

Quanto ao convite de “vamos indo” para os meus colegas: não era balada, não era bar nem jogo do Corinthians. O dia seguinte seria dia de exame, e eu, ansiosa, não conseguia dormir.

Como obviamente eles não quiseram ir indo (rs), fiquei na cama me lembrando de como essa história havia começado. Procurei o krav maga em 2017, depois de perceber que eu estava andando pelo mundo com medo. Eu me sentia alvo o tempo todo. Na rua, no trânsito, na minha vida social.

Um dia, li que uma menina tinha sido atacada por um homem com uma faca no Parque Villa-Lobos, e que ele a havia puxado pelo cabelo. A partir desse dia, passei a sair para correr sempre com o cabelo todo enrolado em um coque, com medo de que alguém me pegasse também. São preocupações que os homens não têm nem imaginam que façam parte da nossa vida.

E eu não queria mais que elas fizessem parte da minha.

Não digo que foi fácil. Apesar de sempre amar esporte, eu nunca tinha praticado nenhuma luta e inclusive não achava que era algo de que eu fosse gostar, sendo bem sincera. Mas eu estava determinada e lá fui. É aquele momento da vida em que o medo é tão forte que nos encoraja.

Aula a aula, fui aprendendo a me defender. Tive a sorte de encontrar um ambiente de disciplina, mas também de acolhimento. Fiz amigos e amigas de turma que sofreram e se divertiram comigo em tombos errados, socos sem querer e eventuais roxos. Alguns deles seguem hoje, ainda, naquele grupo de WhatsApp para o qual escrevi às onze da noite.

Aquele 15 de julho era tão importante para mim porque, no dia seguinte, eu faria exame para a faixa verde. No krav maga, a gente começa com branca, depois vem a amarela, depois a laranja e depois a verde (e depois tem outras, mas eu só cheguei até aqui por enquanto).

O exame para conseguir a faixa verde era bem mais exigente do que os anteriores que eu já tinha feito. Era dividido em dois dias: um de teste físico, e o outro, técnico. O físico é bastante desafiador para todos, mas especialmente para as mulheres, que tendem a ter menos força nos braços –importante na hora de eventuais confrontos, convenhamos.

Eu tinha treinado muito. Muito mesmo! Mas não tinha certeza de que tudo daria certo. Acabou que deu, mas nessa noite em claro de 15 de julho, pensando em tudo isso, eu entendi melhor como o krav maga tinha transformado a minha vida. Porque o valor do que eu aprendi ali não é o mesmo para os meus amigos homens.

Para mim, é autonomia e libertação. Não é querer sair no soco com alguém na rua, não é ser valente em situações desnecessárias. Mas é saber que estar atenta ao meu entorno é importante –e só isso já é uma grande defesa. É entender que eu talvez seja mais fraca, mais leve ou mais baixa do que muita gente, mas eu mereço, sim, poder andar tranquilamente na rua.

É óbvio que a violência existe e nos vitimiza mais. Escrevo este texto no dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, e todos os sites de notícia divulgam que uma mulher é morta a cada seis horas no Brasil. Continuamos sendo alvos, na rua, no trânsito, na vida social. E especialmente na familiar. Mas se a gente pode fazer algo para se sentir mais segura, mais atenta e mais consciente dentro dessa realidade, por que não?

Tudo isso para dizer que, em todo mês de março, a Federação Sul Americana de Krav Maga abre uma aula gratuita apenas para mulheres. A ideia é que elas aprendam alguns conceitos básicos de defesa pessoal e conheçam mais sobre a modalidade. Neste ano, acontece no domingo (12), e você pode encontrar as informações aqui. Tem academias em várias cidades do Brasil.

Deixo esse convite especialmente às mulheres que se sentem como eu me sentia: vulnerável. Porque hoje, apesar de eu já saber bater e me defender, o que eu mais quero —para mim e para todas nós— é a chance de viver em paz.

Mais recente Próxima Por que o dia 8 de março é o Dia Internacional da Mulher?
Mais do Marie Claire

Atriz antecipou as comemorações de seu aniversário

Marina Ruy Barbosa abre álbum de aniversário e posa ao lado do namorado

Torres é sócia de cinco estabelecimentos na capital paulista incluindo A Casa do Porco

Janaina Torres, melhor chef mulher do mundo, se casa em São Paulo; veja o menu do casamento

Em conversa com Marie Claire, surfista conta como está trabalhando duro para construir sua própria carreira; ela também exalta a relação com Gabriel Medina e revela seus cuidados de beleza. Ela e o protetor solar formam uma dupla imbatível

Sophia Medina sobre comparações com o irmão, Gabriel: 'Quero escrever minha própria história'

Para a influenciadora digital Isabella Savaget, 22, o transtorno alimentar era uma forma também de se encaixar em um padrão social, uma vez que pessoas sem deficiência também podem ter a condição

'Com a anorexia nervosa, eu arrumei um jeito de ter controle de alguma parte de mim', diz jovem com paralisia cerebral'

Descubra como os perfumes para cabelo podem transformar a rotina de autocuidado. Reunimos 6 opções a partir de R$ 20 para deixar os fios perfumados e radiantes

Perfume para cabelo: 6 opções para deixar os fios mais cheirosos

Conheça 12 hidratantes faciais disponíveis no mercado de skincare, com fórmulas que oferecem desde hidratação profunda e combate a linhas finas até proteção contra danos ambientais, garantindo uma pele saudável e radiante.

Hidratantes Faciais: 12 opções para aprimorar a sua rotina de skincare e manter a sua pele radiante

De chapéu country a bota texana, lista reúne roupas e acessórios para quem deseja imprimir estilo durante os eventos. Preços variam de R$ 28 a R$ 258 em lojas online

Look country feminino: 7 opções para ter estilo e conforto nos rodeios

Nesta produção documental da Max, público assiste aos momentos pré e pós retomada do estilista no posto de criativo da marca Herchcovitch;Alexandre

Para assistir: documentário revisita carreira de Alexandre Herchcovitch e o retorno do estilista à própria marca

A maranhense Karoline Bezerra Maia, de 34 anos, é considerada a primeira quilombola a tomar posse como promotora de Justiça. A Marie Claire, ela conta sua história com o quilombo de Jutaí, onde seu pai nasceu e cresceu, além da sua trajetória no mundo da advocacia que a levou a desejar um cargo público

'Após passar por desafios financeiros e psicológicos ao prestar concursos, me tornei a primeira promotora quilombola do Brasil'

A dupla de acessórios trend do momento tem um "apoio" de peso, como das famosas Rihanna e Hailey Bieber, e tem tudo para ser a sua favorita nesta temporada; aprenda como produzir um look usando as peças

Disfarce ou estilo? Usar lenço com boné virou trend; aqui estão 6 combinações para te inspirar