Política
Por , redação Marie Claire — do Rio de Janeiro, RJ

Monica Benício espera até hoje a oportunidade de viver o luto pela morte da sua mulher, Marielle Franco. O processo de vivenciar a perda da vereadora, a quem ela considera "o grande amor da sua vida", foi interrompido pela luta por Justiça e a busca pela resolução da investigação a respeito do seu assassinato. "Quem mandou matar Marielle? E por quê?" são perguntas que ecoam no centro da história recente da democracia brasileira, sem previsão de respostas.

Em entrevista exclusiva à Marie Claire, Benício conta o que está achando dos rumos da investigação, comenta como sua carreira como vereadora da cidade do Rio de Janeiro foi influenciada pelo seu relacionamento com Franco e revela os planos que tinha para o futuro com sua antiga parceira.

MARIE CLAIRE Quais eram os seus planos para o futuro com a Marielle, antes da sua história com ela ter sido interrompida?
MONICA BENÍCIO
A gente já estava morando juntas, finalmente vivendo a melhor fase das nossas vidas, da nossa história, que teve muitas dificuldades e muitas barreiras. A gente estava com uma festa de casamento programada para depois de 2018, porque 2018 seria um ano eleitoral e a Marielle teria contribuições políticas a fazer, então a gente estava programando para o dia 7 de setembro de 2019. Já tinha data, buffet, enfim, muitas coisas encaminhadas para a celebração dessa cerimônia que para nós era um desejo de comemorar finalmente podermos viver a nossa história de amor, depois de tantos anos de dificuldades.

Falávamos também ainda sobre uma possível maternidade. Isso era uma discussão ainda muito inicial. Marielle já tinha a Luyara, eu nunca tive vontade de gestar, então a gente estava em um impasse sobre isso. Mas ela estava com muita vontade de que a gente pudesse ser mãe juntas. De qualquer forma, o que a gente tinha ali de sonho juntos era essa promessa de futuro, de viver um amor que, por muitas vezes, havia sido interrompido e que a gente finalmente estava conseguindo concretizar.

MC A senhora disse, em 2018, pouco depois da morte da Marielle, que sua luta principal era para tentar sobreviver depois de ter perdido o amor da sua vida. Pelo que a senhora luta hoje?
MB
Hoje eu entendo que, depois do 14 de março de 2018, eu mergulhei em uma luta de Justiça por Marielle que também fazia sentido para mim e foi o que ressignificou a minha própria vida. E acho que isso continua com a mesma orientação, talvez com outras compreensões, novos contornos. Acho que Justiça por Marielle, em um primeiro momento, estava falando de um inquérito policial, perguntando quem foi que mandou matar Marielle, por quê? Quem matou? Entendendo que o Estado Brasileiro deve isso aos familiares de Marielle e Anderson, deve à sociedade brasileira, deve à comunidade internacional.

Mas hoje, para mim, também tenho uma noção de que Justiça por Marielle não se encerra com um inquérito. Isso é uma obrigação do Estado. A gente aguarda 6 anos, tempo demais para não ter essas respostas. Mas hoje a minha luta também é no sentido de que Justiça por Marielle é a gente construir uma sociedade onde Marielles possam florescer, e não serem assassinadas pelo que são. Acho que hoje essa luta de memória, verdade e Justiça orienta também o pensamento não só pessoal, mas da minha atuação política, seja como defensora dos direitos humanos, dentro ou fora do parlamento, nessa busca dessa construção de uma sociedade que valorize a memória da Marielle da sua forma mais ampla possível. Eu acredito que legado não é só que o se deixa, mas o que se leva adiante.

MC O portal Intercept revelou que Ronnie Lessa apontou Domingos Brazão como um dos mandantes do crime. O que a senhora sabe sobre a relação desses homens com a Marielle na época do assassinato?
MB
Eu não tenho absolutamente nenhuma informação sobre as relações pessoais ou divergências de embates específicos. Inclusive, essa é uma característica dolorosa do assassinato dela, porque Marielle era uma pessoa que não se entendia em ameaça, não se entendia em risco. Ela tinha um índice de rejeição muito baixo. Seja de redes sociais, ou até pessoalmente, ou no trato dela dentro do parlamento com os outros vereadores e vereadoras. E também a respeito dessa suposta delação do Ronnie Lessa, a Polícia Federal não comprovou, não afirmou, não emitiu nota confirmando que ela tenha existido. O que a gente tem objetivamente foi a delação do Élcio Queiroz, que se tornou réu confesso.

Ele fez uma delação dizendo que sim, era ele o motorista naquela noite e que sim, era o Ronnie Lessa no banco de trás como atirador que executou Marielle e Anderson. Acho que os meus comentários vão ser sempre a partir do que a gente tem de elementos concretos para ter o cuidado, inclusive, de não gerar especulações que possam fazer com que um momento como esse, em que se completa seis anos, a gente possa ter polarizações políticas que nada contribuem positivamente com o andamento das investigações.

MC Uma reportagem recente ainda apontou que a polícia estuda duas possíveis motivações por trás do assassinato: uma seria a atuação de Marielle em questões fundiárias na zona oeste do Rio, que atrapalharia os negócios de milicianos; e outra relacionada à proximidade dela com Marcelo Freixo, com quem Brazão teve uma série de embates desde a CPI das Milícias, em 2008. Por que a senhora acha que ela foi assassinada?
MB
A respeito de um posicionamento técnico do inquérito, eu acho que isso a gente precisa esperar a resposta da Polícia Federal, do Ministério Público, inclusive comprovando seus embasamentos a fim de nos apresentar uma resposta que seja sólida, com o mando e com as motivações. Existe um Brasil antes e um Brasil depois do assassinato de Marielle Franco. É claro que na sua atuação enquanto defensora dos direitos humanos, enquanto uma mulher feminista, socialista, todos os interesses políticos de Marielle eram de transformação, para termos uma sociedade menos desigual. O que falava, também, a respeito dela enquanto socióloga, com mestrado na área de Segurança Pública, entendendo a importância de combater a milícia, que hoje é o que tem de mais perigoso no Brasil.

Mas a atuação política efetiva de Marielle dentro do parlamento não era necessariamente direcionada ao território miliciano. O que já foi relatado nos próprios inquéritos divulgados na imprensa foi uma atuação pontual e que, honestamente - não que nada justifique o assassinato brutal de Marielle e Anderson -, seria uma atuação ainda muito incipiente e modesta para justificar uma movimentação política que levou a sua execução.

MC Quando a senhora acredita que esse caso vai ser solucionado? E qual a sua opinião sobre a forma como estão levando a investigação? Acredita que há um recorte de gênero e raça que estejam influenciando na forma como estão investigando o caso?
MB
Acho que o recorte de gênero, raça e classe está colocado a partir do momento em que a Marielle se torna um alvo de uma execução de um crime político. Um crime político que chega a seis anos sem saber os mandantes, sem saber as motivações. Isso por si só já é um escândalo. Marielle representava no seu corpo e na sua trajetória de vida todas as pautas que o Brasil julga hoje serem constituintes de um corpo que o Brasil julga descartável. E isso vai se confirmando cada vez mais a partir do tempo passado e das autoridades não responderem o que aconteceu. A não resposta do assassinato da Marielle nos dá a mensagem de que existe no Brasil um grupo que é político, capaz de assassinar como forma de fazer política na certeza da impunidade.

Monica Benício critica forma como estão lidando com investigação da morte de Marielle Franco — Foto: Reprodução/Instagram
Monica Benício critica forma como estão lidando com investigação da morte de Marielle Franco — Foto: Reprodução/Instagram

Agora, sem dúvida nenhuma ao chegar a seis anos [do assassinato], a gente entende que foi infelizmente um crime sofisticado e muito bem executado. Mas não existe crime perfeito. Chegar a seis anos sem resposta para um assassinato como esse, com o tamanho da repercussão que teve, certamente faltou vontade política de chegar à elucidação desse caso. O Brasil precisa dessa resposta. Nós, familiares, exigimos essa resposta. E isso é fundamental para a gente se entender e se reivindicar dentro de um estado democrático de direito.

"Desejo profundamente que eu possa estar prestando as minhas solidariedades, condolências, chorando em cima do túmulo da minha companheira e vivendo o meu luto e a minha tristeza sem ter que viver o 14 de março gritando por Justiça"
— Monica Benício

Agora também um outro fato é que, desde o início do ano passado, 2023, com a entrada da Polícia Federal nesse novo governo Lula, logo com as primeiras declarações do ministro Flávio Dino, então Ministro da Justiça, dizendo que a elucidação desse caso era uma questão de honra, isso tudo nos gerou um melhor ânimo e uma maior expectativa. Deu uma renovada nas esperanças, embora eu nunca tenha perdido. Agora que a gente chega em mais um 14 de março, o que eu desejo profundamente é que, diante de toda essa tragédia acontecida, eu possa estar prestando as minhas solidariedades, condolências, chorando em cima do túmulo da minha companheira e vivendo o meu luto e a minha tristeza sem ter que viver esse dia gritando por Justiça, dando entrevistas, revirando essa dor constantemente, para buscar que o Estado responda algo que não deveria nem ter acontecido. Mas mais escandaloso ainda, após toda essa violência contra a sociedade brasileira, é a gente chegar a seis anos sem respostas.

MC Falando nesse tópico que a senhora citou da impunidade. Acredita que haverá Justiça por Marielle? E teme que os culpados saiam impunes desse crime?
MB
Não sei te responder sobre o que que é essa Justiça a partir de um olhar técnico ou do Judiciário. Judiciário esse que mostrou essa semana no julgamento do Johnatha [de Oliveira Lima], filho assassinado da Ana Paula [de Oliveira], que a Justiça é muito seletiva. O corpo da Marielle era um corpo de uma mulher preta e mesmo o pouco de poder que uma vereadora poderia ter não foi capaz de protegê-la. A Justiça do Judiciário, a rigor da lei, eu vou dedicar até o último minuto da minha vida para que ela aconteça da maneira como a gente deve cobrar de um estado democrático de direito. Isso eu não tenho dúvidas. Agora, a real justiça por Marielle, para mim, que é ver uma sociedade onde Marielles possam florescer por serem o que são e não serem assassinadas por isso, essa Justiça muito provavelmente eu não vou ter tempo de vida para ver se concretizar.

Essa outra Justiça, que é uma Justiça que o Estado Brasileiro jamais vai conseguir reparar, que é a perda da vida da Marielle e do Anderson, e que é essa ruptura que acontece na nossa democracia com esse assassinato brutal de uma parlamentar democraticamente eleita, como foi e todos os seus desdobramentos, isso eu acho que deveria também ser uma tarefa coletiva. A preocupação de brasileiros e brasileiras construírem um mundo onde essa violência não possa existir ou não possa ser imaginada.

MC A senhora seguiu abraçando muitas causas que a Marielle defendia, como pautas relacionadas à comunidade LGBTQIAPN+ e direitos das mulheres. Alguma parte sua teme ter o mesmo destino que ela?
MB
Marielle e eu éramos companheiras em muitos sentidos. Uma das coisas que faz com que a gente se aproxime, em um primeiro momento, e depois se apaixone, é justamente comungar e partilhar da mesma visão de mundo. São duas mulheres faveladas, que conheceram a sua orientação sexual e descobriram sua sexualidade juntas, que tiveram uma história de amor de 14 anos com muitas idas e vindas, com desafios, com superações, enfim, muita luta. E a gente partilhava do mesmo entendimento sobre como a sociedade deveria ser e de que maneira a gente poderia, cada uma ao seu modo, atuar para essa construção de sociedade que a gente acreditava que deveria existir.

"O pior que podia ter me acontecido, me aconteceu na noite de 14 de março de 2018"
— Monica Benício

Isso permanece - claro que talvez com mais força e até mais responsabilidade de fazer, de construir, por ela também e por tudo que representa hoje -, mas o pior que podia ter me acontecido, me aconteceu na noite de 14 de março de 2018. Acho que agora o que eu tenho para contribuir com a sociedade é o oposto do medo. É a coragem que a Marielle inspira e não a violência que tentaram impor ao executá-la.

MC Em entrevista para a Marie Claire em 2018, a senhora admitiu que tentou tirar a própria vida, devido aos acontecimentos do 14 de março daquele ano. Como é sua relação com saúde mental hoje e como isso se relaciona com a morte da Marielle e a investigação?
MB
A não elucidação do caso impede com que o luto tenha as suas fases percorridas e, em algum lugar, também possa ser concluído. A cada março, nós familiares rememoramos essa dor constantemente para cobrar Justiça. Eu faço postagens diariamente nas redes sociais, eu faço minhas visitas ao cemitério pelo menos uma vez por mês. Isso é um luto que não se fecha, porque nós estamos presos na noite do 14 de março de 2018 pela necessidade de gritar por Justiça. É claro que, em um primeiro momento, há um desespero, uma dor, enfim, tudo o que qualquer pessoa que pense em se colocar no meu lugar pode imaginar. Uma pessoa atravessada por um desespero e um desânimo com a própria vida.

Eu fazia terapia quando a Marielle foi assassinada, depois eu parei justamente nessa negação do luto, de lidar com a realidade, mas hoje encaro de uma outra forma. Até porque a minha espiritualidade diz que essa autodestruição não colabora positivamente em nada para mim ou para ela. Então agora os meus cuidados com a saúde mental são com acompanhamento terapêutico e psiquiátrico para lidar com as crises de ansiedade e de depressão que se desenvolveram depois dessa violência que atravessou a minha vida. Mas acho que a gente caminha para um autocuidado importante, que sem dúvida nenhuma permanece com a dificuldade do fato de ter que ficar relembrando toda essa dor e não podendo viver essa saudade de uma maneira menos dolorosa.

MC Em 2020, a senhora decidiu entrar para a vida política e foi eleita vereadora da cidade do Rio de Janeiro. Disse anteriormente que quando a Marielle te contou que iria entrar na política, a senhora ficou com bastante receio. O que acredita que Marielle acharia da sua atuação política hoje?
MB
Se a Marielle estivesse viva, eu não estaria na política institucional. Nunca foi uma pretensão ou um desejo. Não fazia minimamente parte dos meus planos de vida pessoal. Mas tendo acontecido tudo o que aconteceu, se desdobrando como se desdobrou e como chegamos até aqui, objetivamente, segundo, inclusive, a minha fé, posso te dizer com muita tranquilidade, conhecendo a mulher que tive, que ela estaria orgulhosa do que tenho feito.

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